POLÍTICA ESPACIAL NO BRASIL

POLÍTICA ESPACIAL NO BRASIL

O governo brasileiro precisa decidir, antes do encontro de segunda-feira que vem entre os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton, se o país vai ou não continuar participando no projeto da Estação Espacial Internacional (ISS);.O Brasil é o único não-desenvolvido dos 16 "sócios" da ISS. Sua presença no clube foi acertada por FHC e Clinton no Palácio do Alvorada, em 1997. A necessidade de cortes no Orçamento da União, devido à crise nos últimos meses, no entanto, passou a ameaçá-la. Há, no ministério de FHC, uma clara divisão. O Itamaraty defende a presença brasileira no programa, entre outras razões, pelo prestígio que ela confere.A Aeronáutica considera mais importante concentrar os recursos da área espacial no desenvolvimento de um Veículo Lançador de Satélites nacional, o que é compreensível. Na Ciência e Tecnologia, há quem ache a relação custo-benefício do investimento do Brasil na ISS muito baixa.Mas importantes setores da comunidade científica consideram que o país tem muito a ganhar integrando-se à ISS. Sempre há competição de prioridades, em especial numa sociedade que enfrenta dificuldades econômicas tão grandes e desníveis sociais tão ostensivos.O Brasil se comprometeu a construir cinco equipamentos para a ISS, a um custo total estimado em US$ 120 milhões, ao longo de cinco anos. Em troca, terá acesso privilegiado à ISS para desenvolver projetos de pesquisa próprios e o direito de enviar dois astronautas para suas missões.Parece claro que as vantagens para o país não se limitam ao status de que vai desfrutar por se alinhar com a vanguarda científica, tecnológica e econômica do mundo. Nem os argumentos pela manutenção do compromisso assumido se esgotam no inevitável desgaste político que seu rompimento provocará.Uma das áreas científicas mais beneficiadas pelas experiências conduzidas no espaço, em ambiente de microgravidade, é a da biotecnologia. É geralmente reconhecida a importância estratégica que o domínio do conhecimento nesse setor terá na geopolítica econômica no século 21.O Brasil, que tem na Amazônia a maior reserva biológica do planeta, estará em condições de partilhar a liderança tecnológica nessa área, se aproveitar ao máximo as oportunidades que terá na ISS.Elas não se limitam à presença física dos experimentos brasileiros na estação; estendem-se ao valioso intercâmbio que ocorrerá entre cientistas de todos os países participantes, a nata do "know-how" do setor.Estudos biomédicos, pesquisas meteorológicas, observação detalhada do subsolo são outros campos científicos em que o Brasil terá vantagens caso se mantenha na ISS.Por todos os motivos, o governo não deve vacilar. Continuar nela é importante para o futuro do país.