AEB quer gastar R$ 600 mi em Alcântara

Presidente da Agência Espacial Brasileira anuncia que licitação para centro de lançamento será divulgada em agosto
AEB quer gastar R$ 600 mi em Alcântara
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA

Depois de estar em preparação por cerca de um ano, a licitação para as obras de infra-estrutura do Centro Espacial de Alcântara (MA); deverá ser divulgada no começo de agosto, segundo declarou o presidente da AEB (Agência Espacial Brasileira);, Sérgio Gaudenzi, durante a 57ª reunião anual da SBPC (Associação Brasileira para o Progresso da Ciência);, em Fortaleza, no Ceará.
Serão cerca de R$ 600 milhões para serem gastos em cinco anos, segundo Gaudenzi. As prioridades envolvem obras ligadas diretamente ao lançamento de foguetes, como as pistas de acesso, e também um porto, para onde vão chegar, de navio, foguetes fabricados na Ucrânia.
As obras devem começar provavelmente no final do ano e incluem oficinas, estradas, pista de pouso e sistemas de coleta de lixo e esgoto e de distribuição de água, além da recuperação de moradias e construção de um hospital. "O centro como um todo deverá ter entre 12 mil e 15 mil pessoas", diz o presidente da AEB.
"Vai mais que dobrar a população de Alcântara", diz ele. O tema da sua conferência era: "Centro Espacial de Alcântara: Atividade Civil ou Base Militar?". Hoje cerca de 10% da área de 620 quilômetros quadrados do centro está em uso por militares da Aeronáutica, que desenvolve programas de foguetes lançadores de satélites. O plano é manter essa base, mas adicionar uma área civil para exploração comercial do espaço.
Gaudenzi comentou também que a agência está solicitando o dobro de verba para o programa espacial no ano que vem, passando de cerca de US$ 100 milhões para US$ 200 milhões, "para recuperar o tempo perdido".
A AEB também está em negociações com os russos para enviar o astronauta brasileiro à estação espacial internacional, a um custo entre US$ 12 milhões e US$ 15 milhões, em abril ou maio de 2006. O astronauta poderia levar 15 quilos de experimentos científicos e trazer cinco quilos de volta.
Nova função
Uma nova atribuição da agência fará com que a verba tenha que de fato aumentar. A AEB passará a cuidar das futuras necessidades de satélites geoestacionários de comunicação, algo que até agora era responsabilidade do Ministério das Comunicações.
A chamada Missão Espacial Completa Brasileira começou nos anos 80 do século passado e teve uma série de atrasos, além de fracassos de lançamento do VLS (Veículo Lançador de Satélites);, o último dos quais com 21 mortes em um incêndio.
Segundo Gaudenzi, o novo documento que guia o planejamento do programa espacial "inverteu a lógica" do setor. É a nova versão do PNAE (Programa Nacional de Atividades Espaciais);, aprovada em fevereiro passado.
"Partimos do que precisamos, racionalizando", diz ele. Por exemplo, não haverá mais satélites isolados de coletas de dados _todos os satélites futuros terão essa capacidade adicional. "E a segunda conclusão foi que precisamos ter um centro de lançamento com área comercial, que trouxesse recursos", completa Gaudenzi.
A insistência no passado em desenvolver paralelamente satélite (pelo Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais); e lançador (pelo CTA, Centro Técnico Aeroespacial, da Aeronáutica); atrasou o programa. "Dois burros amarrados andam mais devagar", disse, no mesmo simpósio, Décio Ceballos, do Inpe.
"Cabeças rolaram em 1985, quando se sugeriu criar uma agência espacial. E de novo em 1989, quando se sugeriu lançar o satélite sem o VLS", disse José Raimundo Braga Coelho, que coordenou os satélites do programa sino-brasileiro Cbers de sensoriamento remoto.
Ironicamente, depois se criou a agência, e o primeiro satélite do Inpe foi ao espaço por um lançador americano.
Braga Coelho comenta que a equipe técnica da série Cbers continua a mesma desde o começo do programa, ficando cada vez mais velha e sem renovação. Estão previstos mais três lançamentos de satélites da série, possivelmente em 2007, 2008 e 2010, segundo Gaudenzi.
"Essa gama toda de atividades não vai dar certo sem pessoal", diz Braga Coelho. "Não vamos construir coisíssima alguma sem resolver essa situação."
"Esse é o nó maior do sistema: recursos humanos", concorda Gaudenzi.