Nasa retoma hoje vôos do ônibus espacial
Nave americana Discovery parte rumo à Estação Espacial Internacional, após mais de dois anos parada
Nasa retoma hoje vôos do ônibus espacial
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Após dois anos e meio pegando carona com os russos, a Nasa quer retomar hoje os vôos com sua frota de ônibus espaciais. A decolagem ainda depende das condições meteorológicas, mas em princípio está marcada para as 16h51 (hora de Brasília);, com transmissão pela web (www.nasa.gov);.
O lançamento do ônibus espacial Discovery, a 114ª viagem de uma nave do tipo, está cercado de precauções. A nave-gêmea Atlantis, por exemplo, já se apresenta em estágio avançado de preparação, caso seja preciso realizar uma missão de resgate. É uma precaução que só será adotada para este e para o próximo vôo. Depois, tudo volta ao que era antes do pesadelo com o ônibus espacial Columbia, perdido no retorno à Terra em 1º de fevereiro de 2003.
Bem, nem tudo. De fato, após mais de dois anos amargando as falhas de seu programa, a Nasa reformulou e aperfeiçoou dezenas de sistemas associados ao lançamento e à operação dos três ônibus espaciais remanescentes. Das 15 recomendações estabelecidas pela comissão de investigação do acidente com o Columbia, a agência espacial americana conseguiu cumprir, com louvor, 12. As que ficaram, ironicamente, eram as mais diretamente ligadas à tragédia que matou sete astronautas, entre eles o primeiro proveniente de Israel, Ilan Ramon.
Em primeiro lugar, a reformulação do tanque externo do ônibus foi incapaz de corrigir seu principal defeito _o desprendimento de espuma e gelo durante a decolagem. Foi um detrito desses, do tamanho de uma maleta de mão, que abriu o buraco na asa esquerda do Columbia e causou o acidente, na volta à atmosfera.
A Nasa fracassou em fortalecer a estrutura do ônibus, para torná-lo mais resistente a impactos. Finalmente, a agência espacial americana também não conseguiu desenvolver um meio eficiente de efetuar reparos em órbita, no caso de ocorrência de danos do tipo que condenou o Columbia.
"As três recomendações remanescentes eram tão desafiadoras que a Nasa não pôde responder totalmente ao intuito da comissão, mas conduziu estudos e análises extensos, modificações de equipamento, certificações de design e fez progressos substantivos", disse em seu relatório o grupo externo responsável pela avaliação do trabalho de retorno aos vôos. "A inabilidade de cumprir totalmente todas as recomendações não deve implicar que o ônibus espacial não seja seguro."
Risco aceito
Para o grupo, liderado pelos ex-astronautas Tom Stafford e Richard Covey, a conclusão dos trabalhos é a de que, por mais que se faça, sempre haverá uma margem para dúvida quanto à segurança de um lançamento. "Isso exige que as pessoas envolvidas entendam, documentem e em última análise aceitem o risco associado a essa atividade", disse o grupo. "A Nasa precisa ser vigilante para impedir o desenvolvimento de um falso senso de segurança."
O principal objetivo da missão do Discovery, comandado pela astronauta veterana Eileen Collins, é testar as modificações e os novos procedimentos de segurança desenvolvidos para o retorno aos vôos. Será a prova dos noves para o programa espacial americano. "Existe uma fronteira entre o cumprimento e o não-cumprimento das determinações que é um pouco nebulosa", diz Petrônio Noronha de Souza, tecnologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais); e presidente da AAB (Associação Aeroespacial Brasileira);. "É uma situação meio paradoxal, porque você tem que lançar para ver se funciona, mas ao mesmo tempo, antes de lançar, ainda não pode dizer que cumpriu o requisito. É como a coisa do ovo e da galinha."
De toda forma, o retorno aos vôos será um alívio para a continuidade do projeto da ISS, a Estação Espacial Internacional. Desde o final de 2002 sem receber a visita de um ônibus espacial, o complexo orbital teve a tripulação fixa reduzida de três para dois astronautas e dependeu totalmente nos últimos três anos das naves russas Progress e Soyuz para reabastecimento de carga e troca de pessoal. A montagem da estação só pode prosseguir com os ônibus da Nasa, uma vez que os módulos ainda não-instalados foram projetados para viajar em sua área de carga.
Leia mais sobre a missão do Discovery na
Folha Online
www.folha.com.br/051931
Nasa retoma hoje vôos do ônibus espacial
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Após dois anos e meio pegando carona com os russos, a Nasa quer retomar hoje os vôos com sua frota de ônibus espaciais. A decolagem ainda depende das condições meteorológicas, mas em princípio está marcada para as 16h51 (hora de Brasília);, com transmissão pela web (www.nasa.gov);.
O lançamento do ônibus espacial Discovery, a 114ª viagem de uma nave do tipo, está cercado de precauções. A nave-gêmea Atlantis, por exemplo, já se apresenta em estágio avançado de preparação, caso seja preciso realizar uma missão de resgate. É uma precaução que só será adotada para este e para o próximo vôo. Depois, tudo volta ao que era antes do pesadelo com o ônibus espacial Columbia, perdido no retorno à Terra em 1º de fevereiro de 2003.
Bem, nem tudo. De fato, após mais de dois anos amargando as falhas de seu programa, a Nasa reformulou e aperfeiçoou dezenas de sistemas associados ao lançamento e à operação dos três ônibus espaciais remanescentes. Das 15 recomendações estabelecidas pela comissão de investigação do acidente com o Columbia, a agência espacial americana conseguiu cumprir, com louvor, 12. As que ficaram, ironicamente, eram as mais diretamente ligadas à tragédia que matou sete astronautas, entre eles o primeiro proveniente de Israel, Ilan Ramon.
Em primeiro lugar, a reformulação do tanque externo do ônibus foi incapaz de corrigir seu principal defeito _o desprendimento de espuma e gelo durante a decolagem. Foi um detrito desses, do tamanho de uma maleta de mão, que abriu o buraco na asa esquerda do Columbia e causou o acidente, na volta à atmosfera.
A Nasa fracassou em fortalecer a estrutura do ônibus, para torná-lo mais resistente a impactos. Finalmente, a agência espacial americana também não conseguiu desenvolver um meio eficiente de efetuar reparos em órbita, no caso de ocorrência de danos do tipo que condenou o Columbia.
"As três recomendações remanescentes eram tão desafiadoras que a Nasa não pôde responder totalmente ao intuito da comissão, mas conduziu estudos e análises extensos, modificações de equipamento, certificações de design e fez progressos substantivos", disse em seu relatório o grupo externo responsável pela avaliação do trabalho de retorno aos vôos. "A inabilidade de cumprir totalmente todas as recomendações não deve implicar que o ônibus espacial não seja seguro."
Risco aceito
Para o grupo, liderado pelos ex-astronautas Tom Stafford e Richard Covey, a conclusão dos trabalhos é a de que, por mais que se faça, sempre haverá uma margem para dúvida quanto à segurança de um lançamento. "Isso exige que as pessoas envolvidas entendam, documentem e em última análise aceitem o risco associado a essa atividade", disse o grupo. "A Nasa precisa ser vigilante para impedir o desenvolvimento de um falso senso de segurança."
O principal objetivo da missão do Discovery, comandado pela astronauta veterana Eileen Collins, é testar as modificações e os novos procedimentos de segurança desenvolvidos para o retorno aos vôos. Será a prova dos noves para o programa espacial americano. "Existe uma fronteira entre o cumprimento e o não-cumprimento das determinações que é um pouco nebulosa", diz Petrônio Noronha de Souza, tecnologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais); e presidente da AAB (Associação Aeroespacial Brasileira);. "É uma situação meio paradoxal, porque você tem que lançar para ver se funciona, mas ao mesmo tempo, antes de lançar, ainda não pode dizer que cumpriu o requisito. É como a coisa do ovo e da galinha."
De toda forma, o retorno aos vôos será um alívio para a continuidade do projeto da ISS, a Estação Espacial Internacional. Desde o final de 2002 sem receber a visita de um ônibus espacial, o complexo orbital teve a tripulação fixa reduzida de três para dois astronautas e dependeu totalmente nos últimos três anos das naves russas Progress e Soyuz para reabastecimento de carga e troca de pessoal. A montagem da estação só pode prosseguir com os ônibus da Nasa, uma vez que os módulos ainda não-instalados foram projetados para viajar em sua área de carga.
Leia mais sobre a missão do Discovery na
Folha Online
www.folha.com.br/051931

