Vôo do astronauta brasileiro pode atrasar
Cortes no orçamento ameaçam ida de Marcos Pontes; Agência Espacial Brasileira diz que não há previsão de atraso
Vôo do astronauta brasileiro pode atrasar
SALVADOR NOGUEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A ida do primeiro astronauta brasileiro, o major Marcos Cesar Pontes, à ISS ( Estação Espacial Internacional ); pode demorar mais que o esperado, graças aos cortes feitos pelos EUA ao programa de construção do complexo.
Pontes está sendo treinado pela Nasa (agência espacial dos EUA); justamente para representar o Brasil _um dos 16 países que fazem parte do projeto da ISS_ na nova estação . Ele só não contava com o efeito George W. Bush sobre as prioridades da agência.
O novo presidente norte-americano aumentou o orçamento da Nasa, mas reduziu o montante destinado à estação , desviando recursos para as novas sondas não-tripuladas a Marte. Com os cortes, a Nasa reduziu o escopo da estação , cancelando a construção do módulo de habitação americano e de um veículo de retorno para astronautas com capacidade para quatro tripulantes.
Sem essas peças, a estação estaria limitada definitivamente a uma tripulação de três (como é atualmente);, em vez dos sete previstos para quando o complexo estivesse concluído.
"Existe a possibilidade forte de que eu faça meu primeiro vôo em 2004. Esse seria um vôo de em torno de dez dias no ônibus espacial ", disse Pontes à Folha.
A previsão anterior também colocava o vôo inaugural do astronauta brasileiro em 2004, mas ele havia expressado durante a conferência da Federação Internacional de Astronáutica, realizada em outubro do ano passado no Rio de Janeiro, a esperança de já voar em 2002 ou 2003. Essa possibilidade está praticamente excluída.
A ida do astronauta à estação como parte da tripulação fixa levaria ainda mais tempo. "Ainda não temos estimativas de datas, porém acredito que deverá ser após 2008", diz Pontes.
Os sinais de que os dois vôos podem demorar mais são bem claros. Em primeiro lugar, a Nasa reduziu as decolagens dos ônibus espaciais _de oito anuais para seis. Em segundo, a redução da tripulação fixa da ISS para apenas três faria aumentar a espera dos astronautas que estão na fila.
Sem vagas
Para completar, a agência americana admitiu que já está com astronautas demais na lista de espera. Pela primeira vez em 13 anos, a Nasa não está efetuando o recrutamento de novos astronautas. E não é sem motivo: quase metade dos astronautas já treinados e prontos para voar nunca esteve no espaço. Com a redução dos vôos, não há razão para aumentar ainda mais esse contingente.
Para Pontes, mais do que afetar seu próprio vôo, as decisões da Nasa dificultariam os planos anunciados pela Agência Espacial Brasileira no ano passado de treinar um segundo astronauta. "Isso é um evento de grande probabilidade", diz o astronauta.
Preservando parceiros
Luiz Gylvan Meira Filho, presidente da AEB, não acredita que as dificuldades enfrentadas pela Nasa para manter seu programa tripulado após a reorganização do orçamento irão prejudicar o vôo de Pontes, assim como o de outros astronautas internacionais.
"Certamente a Nasa não gostaria de se indispor com seus parceiros", diz. Ele aposta que a agência dará prioridade aos astronautas de outros países na hora de escalar as tripulações, deixando os americanos mais tempo na fila.
Segundo ele, não houve qualquer comunicação proveniente da Nasa sobre um possível atraso no vôo inaugural de Pontes, indicando que os planos seguem exatamente como estavam antes. "Se houvesse alguma mudança, eles teriam nos avisado", afirma.
Para o astronauta brasileiro e seus colegas de treinamento, não tem tempo ruim. "Trabalhamos com motivação. Cortes são possíveis, assim como futuros aumentos de investimento. Vamos continuar fazendo o que pudermos para conseguir os melhores resultados com todas as condições de contorno impostas pelos recursos disponíveis", diz Pontes.
Alternativas
Enquanto isso, a comunidade científica se preocupa com o futuro da estação , caso se mantenha a idéia de fixar a tripulação em apenas três astronautas.
Segundo a maioria dos pesquisadores, a capacidade científica do complexo estaria seriamente debilitada, pois os três tripulantes não teriam tempo de manter a estação em operação e ainda realizar experimentos.
"Três astronautas é praticamente o que você precisa para manter a estação em funcionamento", diz Petrônio Noronha de Souza, da Divisão de Mecânica Espacial e Controle do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais);.
Segundo ele, várias alternativas estão em estudo para compensar pela possível ausência do módulo de habitação americano e do veículo de retorno para quatro astronautas. "Alguns pensam em rearranjar os módulos italianos como módulos para habitação", afirma.
Para suprir a falta do veículo de retorno americano, seria possível deixar mais uma nave russa Soyuz (com capacidade para três astronautas); acoplada à estação . Com a outra que já está lá, seria possível manter uma tripulação fixa de seis, garantindo o retorno seguro à Terra de todos eles, caso uma emergência exija a evacuação rápida do complexo.
Vôo do astronauta brasileiro pode atrasar
SALVADOR NOGUEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A ida do primeiro astronauta brasileiro, o major Marcos Cesar Pontes, à ISS ( Estação Espacial Internacional ); pode demorar mais que o esperado, graças aos cortes feitos pelos EUA ao programa de construção do complexo.
Pontes está sendo treinado pela Nasa (agência espacial dos EUA); justamente para representar o Brasil _um dos 16 países que fazem parte do projeto da ISS_ na nova estação . Ele só não contava com o efeito George W. Bush sobre as prioridades da agência.
O novo presidente norte-americano aumentou o orçamento da Nasa, mas reduziu o montante destinado à estação , desviando recursos para as novas sondas não-tripuladas a Marte. Com os cortes, a Nasa reduziu o escopo da estação , cancelando a construção do módulo de habitação americano e de um veículo de retorno para astronautas com capacidade para quatro tripulantes.
Sem essas peças, a estação estaria limitada definitivamente a uma tripulação de três (como é atualmente);, em vez dos sete previstos para quando o complexo estivesse concluído.
"Existe a possibilidade forte de que eu faça meu primeiro vôo em 2004. Esse seria um vôo de em torno de dez dias no ônibus espacial ", disse Pontes à Folha.
A previsão anterior também colocava o vôo inaugural do astronauta brasileiro em 2004, mas ele havia expressado durante a conferência da Federação Internacional de Astronáutica, realizada em outubro do ano passado no Rio de Janeiro, a esperança de já voar em 2002 ou 2003. Essa possibilidade está praticamente excluída.
A ida do astronauta à estação como parte da tripulação fixa levaria ainda mais tempo. "Ainda não temos estimativas de datas, porém acredito que deverá ser após 2008", diz Pontes.
Os sinais de que os dois vôos podem demorar mais são bem claros. Em primeiro lugar, a Nasa reduziu as decolagens dos ônibus espaciais _de oito anuais para seis. Em segundo, a redução da tripulação fixa da ISS para apenas três faria aumentar a espera dos astronautas que estão na fila.
Sem vagas
Para completar, a agência americana admitiu que já está com astronautas demais na lista de espera. Pela primeira vez em 13 anos, a Nasa não está efetuando o recrutamento de novos astronautas. E não é sem motivo: quase metade dos astronautas já treinados e prontos para voar nunca esteve no espaço. Com a redução dos vôos, não há razão para aumentar ainda mais esse contingente.
Para Pontes, mais do que afetar seu próprio vôo, as decisões da Nasa dificultariam os planos anunciados pela Agência Espacial Brasileira no ano passado de treinar um segundo astronauta. "Isso é um evento de grande probabilidade", diz o astronauta.
Preservando parceiros
Luiz Gylvan Meira Filho, presidente da AEB, não acredita que as dificuldades enfrentadas pela Nasa para manter seu programa tripulado após a reorganização do orçamento irão prejudicar o vôo de Pontes, assim como o de outros astronautas internacionais.
"Certamente a Nasa não gostaria de se indispor com seus parceiros", diz. Ele aposta que a agência dará prioridade aos astronautas de outros países na hora de escalar as tripulações, deixando os americanos mais tempo na fila.
Segundo ele, não houve qualquer comunicação proveniente da Nasa sobre um possível atraso no vôo inaugural de Pontes, indicando que os planos seguem exatamente como estavam antes. "Se houvesse alguma mudança, eles teriam nos avisado", afirma.
Para o astronauta brasileiro e seus colegas de treinamento, não tem tempo ruim. "Trabalhamos com motivação. Cortes são possíveis, assim como futuros aumentos de investimento. Vamos continuar fazendo o que pudermos para conseguir os melhores resultados com todas as condições de contorno impostas pelos recursos disponíveis", diz Pontes.
Alternativas
Enquanto isso, a comunidade científica se preocupa com o futuro da estação , caso se mantenha a idéia de fixar a tripulação em apenas três astronautas.
Segundo a maioria dos pesquisadores, a capacidade científica do complexo estaria seriamente debilitada, pois os três tripulantes não teriam tempo de manter a estação em operação e ainda realizar experimentos.
"Três astronautas é praticamente o que você precisa para manter a estação em funcionamento", diz Petrônio Noronha de Souza, da Divisão de Mecânica Espacial e Controle do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais);.
Segundo ele, várias alternativas estão em estudo para compensar pela possível ausência do módulo de habitação americano e do veículo de retorno para quatro astronautas. "Alguns pensam em rearranjar os módulos italianos como módulos para habitação", afirma.
Para suprir a falta do veículo de retorno americano, seria possível deixar mais uma nave russa Soyuz (com capacidade para três astronautas); acoplada à estação . Com a outra que já está lá, seria possível manter uma tripulação fixa de seis, garantindo o retorno seguro à Terra de todos eles, caso uma emergência exija a evacuação rápida do complexo.

