Russos já questionam homens no espaço
Quatro décadas após primeiro vôo orbital, executado por Gagarin, pesquisadores criticam missões tripuladas
Russos já questionam homens no espaço
SALVADOR NOGUEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Quarenta anos atrás, os soviéticos mandaram pela primeira vez um homem ao espaço. Quatro décadas depois, alguns cientistas russos se perguntam: para quê?
O feito de Iuri Gagarin a bordo da nave Vostok-1, em 12 de abril de 1961 (leia texto abaixo);, foi um esforço importante, mas parece só ter levado a uma rua sem saída.
Não são pesquisadores de segundo escalão que estão questionando a utilidade de ter homens no espaço. Vladimir Kurt, por exemplo, é diretor do Instituto de Física da Academia Russa de Ciências. Ele trabalhou lado a lado com Sergei Korolev, a "alma" do pioneiro programa espacial soviético, por quase dez anos.
"Para propósito de estudos, precisamos apenas de experimentos automáticos. É muito mais barato e não há perigo para seres humanos", diz Kurt.
Ele fala conhecendo os dois lados da moeda: não só trabalhou em várias sondas soviéticas (como as Venera, enviadas a Vênus, as Mars, para Marte, o primeiro satélite astronômico da União Soviética, o Astron, e duas sondas interplanetárias Prognoz);, como também enviou experimentos para estações tripuladas, como a antiga Salyut (antecessora da Mir); e a novíssima ISS ( Estação Espacial Internacional );, orgulho dos EUA.
"Uma vez tive um experimento na Salyut e minha opinião foi que ele não teve resultados de valor científico. Agora trabalho com experimento na estação internacional e minha opinião não mudou. Essa estação não é para ciência, mas só para jornais e técnicos."
Kurt não está sozinho. Georgy Zastenker, outro pesquisador russo, que já trabalha no programa espacial desde 1964 (seu primeiro experimento voou na sonda Luna-10, em 1966);, também apóia a automatização.
"Insisto nas vantagens das sondas não-tripuladas. Vôos tripulados são necessários apenas pelo impacto emocional para a humanidade e para reparos de instrumentos e naves no espaço", afirma Zastenker, que também não é simpático com a ISS. "Todo esse negócio com a Estação Espacial Internacional está apenas conseguindo bastante dinheiro para a indústria espacial _nada mais."
Sondas e homens
Nem todos os russos pensam assim. Curiosamente, os que não tiveram o gosto de atuar na época dos pioneiros são mais favoráveis às missões humanas. Mas não subestimam o papel das sondas.
Para Alexander Zakharov, há duas direções para a exploração espacial . A primeira envolve ciência e aplicações do espaço _sensoriamento, telecomunicações e defesa. A outra consiste em missões tripuladas, o que ele considera um desenvolvimento natural.
"Tenho certeza de que as duas direções serão desenvolvidas", diz. Zakharov, 59, é secretário científico do Instituto de Pesquisa Espacial , em Moscou. Era apenas estudante no tempo de Gagarin.
Mesmo assim, segundo ele, o auge da exploração do espaço já aconteceu. "A melhor época da atividade espacial foi durante nossa geração. Os passos mais essenciais já foram dados _o primeiro Sputnik (satélite artificial lançado pela URSS em 1957);, o primeiro vôo de Gagarin, um grande número de missões robóticas planetárias, a ida do homem à Lua, a estação espacial habitada permanentemente. O próximo passo será uma missão a Marte."
Russos já questionam homens no espaço
SALVADOR NOGUEIRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Quarenta anos atrás, os soviéticos mandaram pela primeira vez um homem ao espaço. Quatro décadas depois, alguns cientistas russos se perguntam: para quê?
O feito de Iuri Gagarin a bordo da nave Vostok-1, em 12 de abril de 1961 (leia texto abaixo);, foi um esforço importante, mas parece só ter levado a uma rua sem saída.
Não são pesquisadores de segundo escalão que estão questionando a utilidade de ter homens no espaço. Vladimir Kurt, por exemplo, é diretor do Instituto de Física da Academia Russa de Ciências. Ele trabalhou lado a lado com Sergei Korolev, a "alma" do pioneiro programa espacial soviético, por quase dez anos.
"Para propósito de estudos, precisamos apenas de experimentos automáticos. É muito mais barato e não há perigo para seres humanos", diz Kurt.
Ele fala conhecendo os dois lados da moeda: não só trabalhou em várias sondas soviéticas (como as Venera, enviadas a Vênus, as Mars, para Marte, o primeiro satélite astronômico da União Soviética, o Astron, e duas sondas interplanetárias Prognoz);, como também enviou experimentos para estações tripuladas, como a antiga Salyut (antecessora da Mir); e a novíssima ISS ( Estação Espacial Internacional );, orgulho dos EUA.
"Uma vez tive um experimento na Salyut e minha opinião foi que ele não teve resultados de valor científico. Agora trabalho com experimento na estação internacional e minha opinião não mudou. Essa estação não é para ciência, mas só para jornais e técnicos."
Kurt não está sozinho. Georgy Zastenker, outro pesquisador russo, que já trabalha no programa espacial desde 1964 (seu primeiro experimento voou na sonda Luna-10, em 1966);, também apóia a automatização.
"Insisto nas vantagens das sondas não-tripuladas. Vôos tripulados são necessários apenas pelo impacto emocional para a humanidade e para reparos de instrumentos e naves no espaço", afirma Zastenker, que também não é simpático com a ISS. "Todo esse negócio com a Estação Espacial Internacional está apenas conseguindo bastante dinheiro para a indústria espacial _nada mais."
Sondas e homens
Nem todos os russos pensam assim. Curiosamente, os que não tiveram o gosto de atuar na época dos pioneiros são mais favoráveis às missões humanas. Mas não subestimam o papel das sondas.
Para Alexander Zakharov, há duas direções para a exploração espacial . A primeira envolve ciência e aplicações do espaço _sensoriamento, telecomunicações e defesa. A outra consiste em missões tripuladas, o que ele considera um desenvolvimento natural.
"Tenho certeza de que as duas direções serão desenvolvidas", diz. Zakharov, 59, é secretário científico do Instituto de Pesquisa Espacial , em Moscou. Era apenas estudante no tempo de Gagarin.
Mesmo assim, segundo ele, o auge da exploração do espaço já aconteceu. "A melhor época da atividade espacial foi durante nossa geração. Os passos mais essenciais já foram dados _o primeiro Sputnik (satélite artificial lançado pela URSS em 1957);, o primeiro vôo de Gagarin, um grande número de missões robóticas planetárias, a ida do homem à Lua, a estação espacial habitada permanentemente. O próximo passo será uma missão a Marte."

