Pontes fará nova versão de estudo que voou com John Glenn em 1998
Pontes fará nova versão de estudo que voou com John Glenn em 1998
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
John Glenn começou o serviço, e agora Marcos Cesar Pontes terá de terminá-lo. Um dos experimentos que voarão com o astronauta brasileiro para a ISS (Estação Espacial Internacional); no próximo dia 30, com potencial utilidade para as indústrias alimentícia, farmacêutica e de cosméticos no futuro, é uma reencarnação de outro estudo brasileiro, conduzido em 1998 numa missão do ônibus espacial Discovery.
"Eu me lembro bem disso porque foi justamente na missão em que John Glenn voltou a ir ao espaço", diz Alessandro La Neve, da FEI (Faculdade de Engenharia Industrial); em São Bernardo do Campo. Ele foi o coordenador tanto do experimento de 1998 quanto de todas as suas seqüências, que culminaram com a viagem do astronauta brasileiro.
Ao que parece, os experimentos de La Neve estão mesmo destinados a voar com pioneiros: Glenn, antes de fazer o vôo de 1998, foi o primeiro americano a entrar em órbita, em 1962; Pontes, quase meio século depois, será o primeiro brasileiro a ir ao espaço.
Para a equipe da FEI, no entanto, a experiência agora foi bem mais enriquecedora. "O desafio agora foi muito maior, porque tivemos de desenvolver toda a instrumentação e adequá-la às condições de vôo", conta La Neve. "Em 98, uma empresa americana preparou tudo para nós, não tivemos de nos preocupar com formalidades e exigências do vôo, como agora com os russos."
O pesquisador também relata que o experimento atual é mais sofisticado que o anterior. "Mandaremos um minilaboratório para o espaço". Seu objetivo: investigar como reagem determinadas enzimas (proteínas que induzem reações); num ambiente sem gravidade. São 15 compartimentos, que permitirão a mistura de três enzimas diferentes em compartimentos separados.
Ao astronauta Pontes caberá iniciar a máquina, que se aquecerá a 30°C, ponto ideal para a mistura das enzimas, que respondem pelos nomes esquisitos de lipase, lipase imobilizada e invertase. Cada uma delas terá seu dia de experimentação a bordo da ISS.
"Essas enzimas já são extremamente conhecidas, muito estudadas", diz La Neve. "Queremos observar o que acontece com elas em ambiente de microgravidade _há muito pouca literatura poucos estudos sobre isso."
Mercado futuro
Há a esperança de que esse conhecimento, no futuro, ajude a aprimorar o uso das enzimas em reações na Terra, melhorando seu rendimento. O mercado agradece. "A invertase já é muito usada na indústria alimentícia, na forma de edulcorantes adoçantes", diz La Neve. "Já a lipase tem uso em detergentes e sabões, além de participar de atividades mais caras, na indústria farmacêutica."
Mas o cientista alerta: "Isso ainda é pesquisa básica." Resultados práticos ainda estão distantes e exigirão novos experimentos, com e sem microgravidade.
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
John Glenn começou o serviço, e agora Marcos Cesar Pontes terá de terminá-lo. Um dos experimentos que voarão com o astronauta brasileiro para a ISS (Estação Espacial Internacional); no próximo dia 30, com potencial utilidade para as indústrias alimentícia, farmacêutica e de cosméticos no futuro, é uma reencarnação de outro estudo brasileiro, conduzido em 1998 numa missão do ônibus espacial Discovery.
"Eu me lembro bem disso porque foi justamente na missão em que John Glenn voltou a ir ao espaço", diz Alessandro La Neve, da FEI (Faculdade de Engenharia Industrial); em São Bernardo do Campo. Ele foi o coordenador tanto do experimento de 1998 quanto de todas as suas seqüências, que culminaram com a viagem do astronauta brasileiro.
Ao que parece, os experimentos de La Neve estão mesmo destinados a voar com pioneiros: Glenn, antes de fazer o vôo de 1998, foi o primeiro americano a entrar em órbita, em 1962; Pontes, quase meio século depois, será o primeiro brasileiro a ir ao espaço.
Para a equipe da FEI, no entanto, a experiência agora foi bem mais enriquecedora. "O desafio agora foi muito maior, porque tivemos de desenvolver toda a instrumentação e adequá-la às condições de vôo", conta La Neve. "Em 98, uma empresa americana preparou tudo para nós, não tivemos de nos preocupar com formalidades e exigências do vôo, como agora com os russos."
O pesquisador também relata que o experimento atual é mais sofisticado que o anterior. "Mandaremos um minilaboratório para o espaço". Seu objetivo: investigar como reagem determinadas enzimas (proteínas que induzem reações); num ambiente sem gravidade. São 15 compartimentos, que permitirão a mistura de três enzimas diferentes em compartimentos separados.
Ao astronauta Pontes caberá iniciar a máquina, que se aquecerá a 30°C, ponto ideal para a mistura das enzimas, que respondem pelos nomes esquisitos de lipase, lipase imobilizada e invertase. Cada uma delas terá seu dia de experimentação a bordo da ISS.
"Essas enzimas já são extremamente conhecidas, muito estudadas", diz La Neve. "Queremos observar o que acontece com elas em ambiente de microgravidade _há muito pouca literatura poucos estudos sobre isso."
Mercado futuro
Há a esperança de que esse conhecimento, no futuro, ajude a aprimorar o uso das enzimas em reações na Terra, melhorando seu rendimento. O mercado agradece. "A invertase já é muito usada na indústria alimentícia, na forma de edulcorantes adoçantes", diz La Neve. "Já a lipase tem uso em detergentes e sabões, além de participar de atividades mais caras, na indústria farmacêutica."
Mas o cientista alerta: "Isso ainda é pesquisa básica." Resultados práticos ainda estão distantes e exigirão novos experimentos, com e sem microgravidade.

