Discovery retorna em meio a incertezas

Nasa não sabe quando será próximo lançamento nem como corrigir problemas que persistem nos ônibus espaciais
Discovery retorna em meio a incertezas
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo com o retorno do ônibus espacial Discovery, marcado para as 5h45 (horário de Brasília); de hoje, a Nasa ainda terá muito com o que se preocupar antes que consiga voltar ao ritmo de lançamentos que tinha antes do acidente com o Columbia. O desastre com a nave, que aconteceu em fevereiro de 2003, interrompeu as missões por dois anos e meio e forçou a agência a gastar US$ 1,4 bilhão em melhorias na segurança dos ônibus espaciais.
Os novos equipamentos fizeram com que os 13 dias de estadia da tripulação de Eileen Collins em órbita tenham se convertido na missão mais fotografada da história do vôo espacial.
As imagens, em sua maioria sem precedentes, revelaram grande sucesso nas modificações implementadas. Os astronautas testaram com êxito uma gama de técnicas para reparar as telhas do escudo térmico do ônibus, localizado sob o veículo para protegê-lo do calor da reentrada, caso fosse necessário. E o astronauta Stephen Robinson entrou para a história como o primeiro a efetivamente reparar o escudo em órbita, ao extrair com facilidade duas tiras de tecido (usado para preencher vãos entre as telhas); que estavam soltas e traziam incertezas para o retorno.
Ainda assim, para quem está fora da Nasa, a sensação é de grande desconforto. A falha que causou a perda do Columbia e sua tripulação voltou a acontecer no lançamento do Discovery _pedaços de espuma isolante sólida, suficientemente grandes para causar danos à nave, soltaram-se da superfície do tanque externo. Não atingiram o veículo por sorte.
Foi um pedaço desses que, em 2003, atingiu a asa do Columbia, abrindo um buraco nela por onde gases superaquecidos (na forma de plasma); entraram durante a reentrada na atmosfera. Os gases consumindo a espaçonave por dentro e acabaram por despedaçá-la sobre o Texas, minutos antes do pouso no Centro Espacial Kennedy, na Flórida.
As novas técnicas de imageamento da Nasa mostraram que não há nenhum buraco desse tipo no Discovery. Não há, portanto, salvo os perigos inerentes a qualquer retorno à Terra (que envolve frear de 28 mil km/h a zero em uma hora);, razão para crer que haverá outra catástrofe. Os técnicos e engenheiros preferem esperar a descida para comemorar.
A comandante Collins tentou dissipar a desconfiança numa entrevista. "O Discovery está em ótima forma. Estou muito confiante em relação à reentrada e pensando na aterrissagem."
Hoje pela manhã, o diretor de vôo no Centro Espacial Kennedy será LeRoy Cain _mesmo homem que, dois anos e meio atrás, acompanhou a descida catastrófica do Columbia. Ele não está tranqüilo. "É para isso que eu sou pago, para me preocupar", disse Cain numa entrevista coletiva, ainda que demonstrando confiança. "Nós estamos prontos, praticamos isso literalmente centenas de vezes."
STS-121
Após a conclusão da missão do Discovery, designada STS-114, as preocupações se voltarão para o próximo vôo, o STS-121, a ser cumprido pelo Atlantis. A nave está em fase de preparação para o lançamento, mas, para saber quando ela vai subir, só usando bola de cristal.
Cerca de US$ 200 milhões foram gastos para melhorar o tanque externo do ônibus e evitar que ele sofra desprendimento da espuma sólida que o protege termicamente, para conservar todas as toneladas de hidrogênio e oxigênio líquidos que os motores da nave precisam queimar para atingir a órbita. Pelas imagens do lançamento do Discovery, a dinheirama não foi suficiente.
Nas palavras de Michael Griffin, administrador da agência, pelo menos quatro pedaços de espuma perigosos ameaçaram o vôo do Discovery. Com isso, o lançamento do Atlantis, que seria o segundo vôo-teste para verificar as novas estratégias de segurança do programa, já sofreu adiamento.
Janela atrasada
Sua decolagem originalmente estava marcada para 9 de setembro. Os gerentes agora falam em 22 de setembro, mas existe uma grande chance de que a data também fique para trás, restando apenas uma janela em novembro antes que o ano termine.
A chamada "equipe de feras" escalada por Griffin para atacar agressivamente o problema da espuma ainda não chegou a nenhuma conclusão prática, e o Atlantis está sendo preparado com um tanque de modelo antigo, igual ao do Discovery.
Entre os documentos que os técnicos estão avaliando existe um que aponta problemas de qualidade na aplicação da espuma ao tanque, revelado no fim da semana passada pelo jornal americano "The New York Times".
Ainda não está claro se o Atlantis precisará de um tanque novo, reformulado, ou ficará com o que já está sendo preparado.

Com agências internacionais