Missão tripulada pode vir em 20 anos, diz cientista
Missão tripulada pode vir em 20 anos, diz cientista
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o pouso do Spirit e do Opportunity, a Nasa pretende retomar seu esforço de exploração do planeta vermelho _que poderia culminar em duas décadas, com algum otimismo e colaboração internacional, num vôo tripulado a Marte. A aposta é de James Garvin, cientista-chefe do programa de exploração marciana da Nasa. Garvin está otimista. "Nossos jipes foram projetados para testar idéias que formamos com os orbitadores e nos dar a experiência de exploração geológica móvel na busca pela história da água líquida em Marte, o que será preciso antes de voltar a procurar formas de vida no planeta", disse Garvin em entrevista à Folha. A Nasa já tem a próxima década de exploração quase toda definida. Tudo se encaminha para que, após 2010, seja iniciado um programa intensivo de retorno de amostras de Marte. Só depois é que a agência planeja começar a pensar no envio de pessoas. Leia a seguir trechos da entrevista, concedida por e-mail entre as andanças de Garvin pelo JPL (Laboratório de Propulsão a Jato);, na Califórnia, e o quartel-general da Nasa, em Washington. (SN); *
Folha - O que os Mars Exploration Rovers, Spirit e Opportunity, têm de tão especial? E como eles se encaixam no programa de exploração de Marte concebido pela Nasa?
James Garvin - Tudo faz parte de uma estratégia científica razoável, continuando o trabalho iniciado de sensoriamento remoto orbital que estamos fazendo agora com a Mars Global Surveyor e a Mars Odyssey sondas que orbitam Marte. Ambas foram fundamentais em nossa decisão de pousar os jipes de 2003 em Gusev e Meridiani. Eles foram projetados para testar idéias que formamos com os orbitadores e nos dar a experiência de exploração geológica móvel na busca pela história da água líquida em Marte, o que será preciso antes de voltar a procurar formas de vida no planeta.
Folha - Sabe-se que a Nasa pretende lançar naves para Marte em todas as janelas de oportunidade, pelo menos até o final da década. Quais são os planos, exatamente?
Garvin - Em 2005, teremos o Mars Reconnaissance Orbiter, nosso primeiro mapeador de próxima geração projetado para procurar sinais de água em escala local, assim como ambientes em que a busca pelos tijolos básicos da vida possa se mostrar frutífera. Em 2007, o módulo de pouso Phoenix vai visitar uma área rica em gelo próxima à calota polar Norte, com sensores que explorarão a história do gelo e da água, assim como conduzindo exploração detalhada de alguns constituintes químicos e físicos da vida. Em 2009, teremos o Mars Science Laboratory, cujos instrumentos ainda serão selecionados ao longo de 2004. O programa da Nasa nesta década foi projetado para fazer grandes progressos, de forma a permitir o percurso de "rotas científicas" específicas na década seguinte, incluindo as que exigirão um retorno robótico de amostras em 2013 ou 2016 e o pouso de poderosos e móveis "laboratórios astrobiológicos de campo", em meados da década.
Folha - Considerando tudo o que ainda precisa ser estudado antes que se volte a procurar vida diretamente em Marte, o sr. acha que a tentativa das sondas Viking de detectar organismos marcianos em 1976 foi um passo em falso?
Garvin - De jeito nenhum! Ela operava sob a premissa de que a radiação e os ambientes extremamente oxidantes não seriam prováveis nos primeiros centímetros da superfície marciana e sob rochas... E, dada a base de conhecimento oferecida pela sonda Mariner-9 precursora das Vikings na exploração de Marte, era um conjunto de hipóteses razoável.
Folha - Faltou alguma coisa àquela missão?
Garvin - Talvez um microscópio e um sensor para fazer mineralogia de verdade tivessem ajudado. Nossos jipes agora finalmente farão essas coisas.
Folha - Além das missões americanas, há agora pelo menos um satélite europeu em torno de Marte, Mars Express, e, se as esperanças da ESA forem justificadas, um módulo de pouso funcional, o Beagle-2. Diante de tamanha armada de naves enviada ao planeta vermelho, há redundância entre os projetos dos vários países?
Garvin - Desde a reestruturação completa do programa de exploração de Marte da Nasa, no começo de 2000, houve excelente coordenação entre todos os grupos. Na verdade, a Nasa e a ESA cooperaram fortemente na Mars Express, e um dos instrumentos-chave da sonda foi largamente financiado pela Nasa.
Folha - Há rumores de uma parceria entre Rússia e EUA para a exploração de Marte.
Garvin - Houve algumas discussões de alto nível, mas muitas mais devem acontecer. No verão de 2002 eu visitei Moscou para discussões científicas e identificação de áreas de interesse mútuo. No momento, o caminho mais provável pode envolver contribuições russas de instrumentos para missões futuras da Nasa. O administrador da Nasa está trabalhando muito nessa questão.
Folha - Existe realmente justificativa científica para o envio de seres humanos ao planeta vermelho?
Garvin - Esse é um problema muito difícil. Depende de quais são os objetivos. Exploração geológica de campo é muito difícil de fazer com missões robóticas no ritmo que pessoas têm conseguido fazer aqui na Terra. Por exemplo, um tempo atrás visitei a ilha Surtsey Islândia para filmar algumas cenas tipo "Marte na Terra". Em apenas sete horas, quatro de nós fomos capazes de rapidamente explorar a geologia memorável, de nos adaptar ao que observávamos, de filmar e de voltar à base de retorno. O que fizemos em sete horas só poderia ser feito em muitos, muitos meses por laboratórios robóticos de próxima geração, mas o acesso aos pontos que eu escalei para coletar algumas rochas não teria sido possível. Certamente ainda temos mais 10 a 20 anos de exploração científica robótica para fazer antes de saber o que é preciso para enviar humanos para Marte com segurança.
Folha - A grande força motriz por trás da exploração de Marte é a busca por vida extraterrestre. Mas e se nada for encontrado?
Garvin - Primeiro, eu não vejo como poderíamos realmente "não achar nada". Se jamais virmos sinais de biomarcadores ou tijolos básicos da vida, esse seria um GRANDE resultado... e nós já publicamos a descoberta de carbonatos na superfície e compostos orgânicos em meteoritos marcianos. Então, para mim, já passamos da fase do "nada" e estamos agora na fase "ainda confusos sobre o que realmente sabemos".
Folha - Quais são suas previsões otimista, realista e pessimista para uma missão tripulada a Marte?
Garvin - Isso depende de o esforço ser conduzido por uma agência (EUA, Rússia, China, ESA); ou de um consórcio esperar um "momento de descoberta" que catalise esse empreendimento. Meu palpite é que descobriremos algo sobre Marte na próxima década que nos fará (ao menos a Nasa); apertar o passo e levar exploradores humanos ao local. De uma perspectiva otimista, acredito que a década de 2020 será a época em que os povos deste planeta tentarão ir a Marte. Claro, gostaria de pensar que a Nasa vai liderar o esforço, mas esse é o meu lado "nasacêntrico" falando. Para datas realistas, eu sugeriria a década de 2030, assumindo que tenhamos a ISS Estação Espacial Internacional a todo o vapor entre 2010 e 2012 e então queiramos ir ao espaço profundo nos anos 10 e 20. A data pessimista não está nos meus planos, mas seria final dos anos 30. A mais otimista seria início dos 20, embora 2018 seja um ótimo ano para ir.
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o pouso do Spirit e do Opportunity, a Nasa pretende retomar seu esforço de exploração do planeta vermelho _que poderia culminar em duas décadas, com algum otimismo e colaboração internacional, num vôo tripulado a Marte. A aposta é de James Garvin, cientista-chefe do programa de exploração marciana da Nasa. Garvin está otimista. "Nossos jipes foram projetados para testar idéias que formamos com os orbitadores e nos dar a experiência de exploração geológica móvel na busca pela história da água líquida em Marte, o que será preciso antes de voltar a procurar formas de vida no planeta", disse Garvin em entrevista à Folha. A Nasa já tem a próxima década de exploração quase toda definida. Tudo se encaminha para que, após 2010, seja iniciado um programa intensivo de retorno de amostras de Marte. Só depois é que a agência planeja começar a pensar no envio de pessoas. Leia a seguir trechos da entrevista, concedida por e-mail entre as andanças de Garvin pelo JPL (Laboratório de Propulsão a Jato);, na Califórnia, e o quartel-general da Nasa, em Washington. (SN); *
Folha - O que os Mars Exploration Rovers, Spirit e Opportunity, têm de tão especial? E como eles se encaixam no programa de exploração de Marte concebido pela Nasa?
James Garvin - Tudo faz parte de uma estratégia científica razoável, continuando o trabalho iniciado de sensoriamento remoto orbital que estamos fazendo agora com a Mars Global Surveyor e a Mars Odyssey sondas que orbitam Marte. Ambas foram fundamentais em nossa decisão de pousar os jipes de 2003 em Gusev e Meridiani. Eles foram projetados para testar idéias que formamos com os orbitadores e nos dar a experiência de exploração geológica móvel na busca pela história da água líquida em Marte, o que será preciso antes de voltar a procurar formas de vida no planeta.
Folha - Sabe-se que a Nasa pretende lançar naves para Marte em todas as janelas de oportunidade, pelo menos até o final da década. Quais são os planos, exatamente?
Garvin - Em 2005, teremos o Mars Reconnaissance Orbiter, nosso primeiro mapeador de próxima geração projetado para procurar sinais de água em escala local, assim como ambientes em que a busca pelos tijolos básicos da vida possa se mostrar frutífera. Em 2007, o módulo de pouso Phoenix vai visitar uma área rica em gelo próxima à calota polar Norte, com sensores que explorarão a história do gelo e da água, assim como conduzindo exploração detalhada de alguns constituintes químicos e físicos da vida. Em 2009, teremos o Mars Science Laboratory, cujos instrumentos ainda serão selecionados ao longo de 2004. O programa da Nasa nesta década foi projetado para fazer grandes progressos, de forma a permitir o percurso de "rotas científicas" específicas na década seguinte, incluindo as que exigirão um retorno robótico de amostras em 2013 ou 2016 e o pouso de poderosos e móveis "laboratórios astrobiológicos de campo", em meados da década.
Folha - Considerando tudo o que ainda precisa ser estudado antes que se volte a procurar vida diretamente em Marte, o sr. acha que a tentativa das sondas Viking de detectar organismos marcianos em 1976 foi um passo em falso?
Garvin - De jeito nenhum! Ela operava sob a premissa de que a radiação e os ambientes extremamente oxidantes não seriam prováveis nos primeiros centímetros da superfície marciana e sob rochas... E, dada a base de conhecimento oferecida pela sonda Mariner-9 precursora das Vikings na exploração de Marte, era um conjunto de hipóteses razoável.
Folha - Faltou alguma coisa àquela missão?
Garvin - Talvez um microscópio e um sensor para fazer mineralogia de verdade tivessem ajudado. Nossos jipes agora finalmente farão essas coisas.
Folha - Além das missões americanas, há agora pelo menos um satélite europeu em torno de Marte, Mars Express, e, se as esperanças da ESA forem justificadas, um módulo de pouso funcional, o Beagle-2. Diante de tamanha armada de naves enviada ao planeta vermelho, há redundância entre os projetos dos vários países?
Garvin - Desde a reestruturação completa do programa de exploração de Marte da Nasa, no começo de 2000, houve excelente coordenação entre todos os grupos. Na verdade, a Nasa e a ESA cooperaram fortemente na Mars Express, e um dos instrumentos-chave da sonda foi largamente financiado pela Nasa.
Folha - Há rumores de uma parceria entre Rússia e EUA para a exploração de Marte.
Garvin - Houve algumas discussões de alto nível, mas muitas mais devem acontecer. No verão de 2002 eu visitei Moscou para discussões científicas e identificação de áreas de interesse mútuo. No momento, o caminho mais provável pode envolver contribuições russas de instrumentos para missões futuras da Nasa. O administrador da Nasa está trabalhando muito nessa questão.
Folha - Existe realmente justificativa científica para o envio de seres humanos ao planeta vermelho?
Garvin - Esse é um problema muito difícil. Depende de quais são os objetivos. Exploração geológica de campo é muito difícil de fazer com missões robóticas no ritmo que pessoas têm conseguido fazer aqui na Terra. Por exemplo, um tempo atrás visitei a ilha Surtsey Islândia para filmar algumas cenas tipo "Marte na Terra". Em apenas sete horas, quatro de nós fomos capazes de rapidamente explorar a geologia memorável, de nos adaptar ao que observávamos, de filmar e de voltar à base de retorno. O que fizemos em sete horas só poderia ser feito em muitos, muitos meses por laboratórios robóticos de próxima geração, mas o acesso aos pontos que eu escalei para coletar algumas rochas não teria sido possível. Certamente ainda temos mais 10 a 20 anos de exploração científica robótica para fazer antes de saber o que é preciso para enviar humanos para Marte com segurança.
Folha - A grande força motriz por trás da exploração de Marte é a busca por vida extraterrestre. Mas e se nada for encontrado?
Garvin - Primeiro, eu não vejo como poderíamos realmente "não achar nada". Se jamais virmos sinais de biomarcadores ou tijolos básicos da vida, esse seria um GRANDE resultado... e nós já publicamos a descoberta de carbonatos na superfície e compostos orgânicos em meteoritos marcianos. Então, para mim, já passamos da fase do "nada" e estamos agora na fase "ainda confusos sobre o que realmente sabemos".
Folha - Quais são suas previsões otimista, realista e pessimista para uma missão tripulada a Marte?
Garvin - Isso depende de o esforço ser conduzido por uma agência (EUA, Rússia, China, ESA); ou de um consórcio esperar um "momento de descoberta" que catalise esse empreendimento. Meu palpite é que descobriremos algo sobre Marte na próxima década que nos fará (ao menos a Nasa); apertar o passo e levar exploradores humanos ao local. De uma perspectiva otimista, acredito que a década de 2020 será a época em que os povos deste planeta tentarão ir a Marte. Claro, gostaria de pensar que a Nasa vai liderar o esforço, mas esse é o meu lado "nasacêntrico" falando. Para datas realistas, eu sugeriria a década de 2030, assumindo que tenhamos a ISS Estação Espacial Internacional a todo o vapor entre 2010 e 2012 e então queiramos ir ao espaço profundo nos anos 10 e 20. A data pessimista não está nos meus planos, mas seria final dos anos 30. A mais otimista seria início dos 20, embora 2018 seja um ótimo ano para ir.

