Espaço

Espaço
por Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

Nos primeiros decênios do próximo milênio, os robôs espaciais destinados ao estudo dos astros do sistema solar possuirão capacidades difíceis de serem imaginadas. Não agirão como simples veículos telecomandados. Serão autênticos autômatos. Com sua autonomia, eles serão capazes de assumir iniciativas próprias em suas explorações e, graças a sua enorme memória, poderão acumular conhecimentos de um grande número de disciplinas científicas, comportando-se como peritos em suas pesquisas. Serão capazes de identificar os objetos e os fenômenos mais importantes. Seu desenvolvimento deve-se ao progresso dos micromecanismos, em virtude dos quais serão cada vez menores e ágeis. Ao transportar seus microlaboratórios, esses microrrobôs inteligentes poderão realizar in situ análises físicas, químicas e biológicas complexas. Nos laboratórios da Nasa (agência espacial norte-americana); já se estudam miniaturas _os "drones"_ das dimensões de um colibri, com câmaras e meios de transmissões, capazes de espionar discretamente qualquer objeto, nos sítios mais inacessíveis. Essa revolução das nanotecnologias _que não constam da literatura de antecipação dos grandes precursores da astronáutica_ vai transformar os exploradores espaciais do próximo milênio em minúsculos seres capazes de percorrer os cânions marcianos, os lagos de Titã, os oceanos de Europa, orbitar ao longo dos anéis de Saturno.
Após um longo período de exploração por intermédio de robôs, o homem, não contente com a exploração virtual, vai impor a sua presença física. A partir de 2030 iremos assistir aos homens, ao lado dos robôs, trabalhando, vivendo e viajando pelo sistema solar interior. Compreende-se como sistema solar interior essencialmente a Terra, a Lua, Marte e os seus satélites, assim como os asteróides situados entre as órbitas de Marte e Júpiter.
A ocupação das proximidades ao redor do nosso planeta compreenderá, como se faz atualmente, a instalação de satélites e estações espaciais em órbitas baixas e em órbitas geoestacionárias, assim como o desenvolvimento dos meios de acesso a todos os objetos situados nas vizinhanças do nosso planeta.
Negócio promissor
Como ocorreu com a Mir e irá ocorrer com a Estação Espacial Internacional , essas plataformas orbitais serão utilizadas como centros de pesquisas ou como laboratórios de microgravidade, destinados à fabricação de produtos farmacêuticos de grande pureza material. O interesse econômico dessas fábricas, que funcionaram em caráter experimental na estação russa, deverá constituir um negócio muito promissor nos próximos anos. Sua produção inicialmente estará limitada à elaboração de substâncias muito caras, de volume e massa reduzidos, tendo em vista o elevado custo do transporte espacial . Uma outra indústria _a turística_ se desenvolverá também em órbita baixa, nas quais os "space shuttles" (ônibus espaciais); conduzirão os espaçonautas a contemplar as mais belas paisagens da Terra e do céu.
No terceiro milênio, as centrais helioelétricas orbitais serão imbatíveis como fonte de energia elétrica, pois não têm resíduo poluidor, como é o caso das centrais nucleares, uma das concorrentes das centrais orbitais _segundo a opinião de alguns defensores da energia nuclear no fim do segundo milênio. De fato, uma das concorrentes às centrais orbitais foram as centrais nucleares, apesar de o lixo nuclear constituir um imenso problema que foi administrado de modo irresponsável, pois o seu acúmulo se revelou sempre uma constante ameaça à vida em nosso planeta.
A energia solar _a grande esperança do próximo milênio_, quer como usinas instaladas na superfície terrestre ou em órbita, além de totalmente limpa (sem radioatividade);, será sem dúvida menos dispendiosa do que se pode imaginar se considerarmos o problema de descontaminação que as usinas nucleares acarretam a curto e a longo prazo.
Ilhas espaciais
Um projeto mais ambicioso é o de um avião-foguete capaz de decolar verticalmente de qualquer ponto da superfície de um planeta. Os aeroportos como os conhecemos serão autênticos museus, assim como as atuais aeronaves: as naves aeroespaciais do futuro estão para os atuais aviões assim como estes estão em relação ao 14 Bis de Santos Dumont.
Apesar de sua lenta evolução, as novas técnicas de transporte espacial , mais aperfeiçoadas e econômicas, irão surgir por volta de 2050. Um dos processos _atualmente um sonho_ refere-se à propulsão elétrica, determinada pela ejeção a grande velocidade de partículas carregadas. Pode-se imaginar também um tipo de foguete mais avançado: o propulsor de antimatéria, baseado na aniquilação da matéria e de antimatéria, ou seja, na transformação total da massa em energia, segundo a célebre equação de Einstein, E=mc². Uma fração de grama de antimatéria seria suficiente para uma travessia rápida pelo sistema solar. Uma viagem da Terra a Marte levaria algumas semanas.
Em uma data ainda indeterminada do terceiro milênio terá início a exploração mineral de alguns asteróides cujas órbitas estão situadas próximas à da Terra. Gastar-se-á menos energia para atingi-los do que se gastou para ir à Lua durante o projeto Apolo.
As estações espaciais serão substituídas, ainda antes dos meados do terceiro milênio, por cidades _autênticas ilhas espaciais_ muito mais vastas e confortáveis. As primeiras ilhas do espaço serão muito semelhantes a gigantescas biosferas, com alguns milhares de pessoas. A gravidade dessas enormes cidades interplanetárias será produzida pela rotação da esfera sobre si mesma. A luz solar penetrará por escotilhas e/ou clarabóias que iluminarão o seu interior por intermédio de espelhos de inclinação variável e controlável. O ciclo circadiano, ou seja, a sequência de dia e noite, será completamente respeitado, por motivos fisiológicos. Seus habitantes irão dispor de um volume habitável e de uma superfície para a vida corrente comparável às praças ao ar livre dos bairros urbanos. Grandes espaços serão reservados às flores, às relvas, às verduras e às árvores. O clima no interior das ilhas será totalmente controlado.
No fim do terceiro milênio, o homem estará pronto para realizar o grande salto em direção às estrelas, de início, como fez no sistema solar, virtualmente por meio de robôs telecomandados.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é pesquisador titular do Museu de Astronomia e Ciências Afins, do qual foi fundador e primeiro diretor, autor de mais de 60 livros, entre eles, "Astronáutica - Do Sonho à Realidade".
Site: www.ronaldomourao.com