Shuttle-Mir Project

O Programa Shuttle-Mir pretendia permitir aos Estados Unidos aprender com os russos sobre voos de longa duração e aumentar o espírito de cooperação entre as agências espaciais das duas superpotências, a NASA e a Roscosmos.

Em 1992, Brian Albert, diretor do National Space Council, entrou em contato com George Abbey. Ele propôs a idéia de retomar o intercâmbio entre astronautas e cosmonautas de ambas nações. Albert comentou a ideia com o administrador da NASA, Daniel Goldin, que aceitou a ideia com muito entusiasmo. Graças a Abbey, o projeto de uma estação espacial da NASA foi salvo ao incluir aos russos no consórcio de nações participantes. Desta forma nasceu a ISS, tendo como programa prévio o programa Shuttle-MIR.

Em junho de 1992, os presidentes George H. W. Bush e Boris Yeltsin concordaram em juntar esforços na exploração espacial, assinando um documento chamado "Acordo entre os Estados Unidos da América e a Federação Russa pela cooperação e uso do espaço exterior para propósitos pacíficos". Este acordo criava um breve programa espacial conjunto, durante o qual um astronauta norte-americano ficaria a bordo da estação russa Mir e dois cosmonautas russos voariam nos ônibus espaciais.

Anunciado em 1993 e com sua primeira missão realizada em 1994, o programa teve a duração de quatro anos, até 1998, quando foi iniciada a construção da Estação Espacial Internacional (ISS). Foram realizados onze missões dos ônibus espaciais, um voo conjunto com uma nave Soyuz e cerca de mil dias passados no espaço por astronautas norte-americanos na Mir.

Em setembro de 1993, porém, o vice-presidente do então governo Clinton, Al Gore, e o primeiro-ministro da Rússia, Viktor Chernomyrdin, anunciaram planos para a construção conjunta de uma nova estação espacial, que viria a ser chamada de Estação Espacial Internacional. Eles também concordaram que, como preparação para este novo projeto, nos anos seguintes os Estados Unidos fariam parte do programa Mir.

Durante este programa, dois novos módulos foram adicionados a estação, sendo utilizados pelos norte-americanos como acomodações para seus astronautas e como laboratórios para implementar a qualidade e alcance das pesquisas.

Estas missões permitiram à NASA e à Roscosmos aprender como trabalhar como parceiros no espaço e como minimizar os riscos para a construção de uma estação espacial em órbita. Além destes avanços científicos, o programa serviu como um artifício político para o governo norte-americano, criando um canal diplomático para que a NASA pudesse dispor fundos para o combalido programa espacial russo. Isto permitiu que o governo russo mantivesse a Mir em operação, além de seu programa espacial como um todo.

Além dos voos propriamente ditos dos ônibus espaciais até a Mir, os Estados Unidos também tiveram sete astronautas que fizeram parte das tripulações da Mir. Estes astronautas foram Norman Thagard, Shannon Lucid, John Blaha, Jerry Linenger, Michael Foale, David Wolf e Andrew Thomas, cada um deles indo em turnos ao centro de treinamento “Cidade das Estrelas”, perto de Moscou, para fazer o treinamento em vários aspectos operacionais da Mir e das naves Soyuz, usadas para levar cosmonautas para a estação.



RESUMO DAS MISSÕES

Em 3 de fevereiro de 1994 o primeiro ônibus espacial foi lançado rumo à estação Mir, com o lançamento de Cabo Kennedy da nave Discovery, missão STS-60. A missão de oito dias de duração teve pela primeira vez a presença de um russo a bordo de um ônibus espacial, o veterano cosmonauta Sergei Krikalev

O último vôo conjunto entre russos e americanos havia sido em 1975, no histórico vôo entre a Apollo 18 e a Soyuz 19. Este seria o último vôo de uma cápsula norte americana. Em 12 de junho de 1994, pela primeira vez um ônibus espacial de aproximaria da estação espacial russa. Neste mesmo ano, o médico cosmonauta Valery Polyakov, da Soyuz TM 18, começaria a sua longa permaneceria de 438 dias no espaço, quebrando novamente o recorde de permanência em órbita. Ele retornaria no ano de 1995.

O ano de 1995 teria mais eventos históricos. Pela primeira vez um americano seria lançado numa espaçonave russa, o médico astronauta Norman Thagard fria parte da tripulação da Soyuz TM-21. A missão do ônibus espacial STS-71, lançada em 27 de junho, seria a primeira missão a acoplar na estação espacial Mir. No final do ano o ônibus espacial Atlantis instalaria o Shuttle Docking Module, de fabricação russa, junto com um novo par de painéis solares e outros equipamentos. Este modulo havia sido desenhado para proporcionar um maior espaço de aproximação para os ônibus espaciais, prevenindo colisões com os painéis solares da estação durante a manobra de aproximação para acoplagem.

Com a participação dos Estados Unidos foi possível concluir a estação e lançar os seus dois últimos módulos, Spektr em 1995 e Priroda em 1996

Os últimos anos do projeto não foram muito fáceis. Muitos acidentes ocorreram na Mir, desde banheiros entupidos, incêndios, perda de força e até a estação chegou a ficar totalmente sem controle. Estes problemas ocorriam por 2 motivos principais, o primeiro era que a estação havia sido feita para uma vida útil de 5 anos, a outra é que os russos não tinham dinheiro suficiente para fazer uma manutenção adequada. Nos Estados Unidos, as opiniões se dividiam entre continuar a mandar astronautas para a Mir, ou não. Apesar dos problemas, o programa conjunto continuou.

O ano final do programa, 1998, começou com o lançamento da STS-89 Endeavour, que transportou até a Mir o cosmonauta Salijan Sharipov e fez a troca entre David Wolf e Andrew Thomas, o astronauta escalado para ser o último tripulante norte-americano do programa.

Esta última missão foi considerada a mais tranquila de todo o programa, e nela Andrews realizou 27 pesquisas científicas na área da tecnologia avançada. Esta última estadia estabeleceu novas marcas espaciais para os americanos, que acumularam um total de 815 dias consecutivos no espaço desde a subida de Shannon Lucid em março de 1996, e um total geral de 907 dias, acrescentando-se a permanência pioneira de Norman Thagard, primeiro astronauta enviado a Mir.

Thomas finalmente voltou à Terra com o último dos voos do Programa, a STS-91 Discovery, em junho de 1998, trazendo as últimas experiências de longa duração feitas a bordo da Mir. Quando as escotilhas foram fechadas para o desacoplamento e as naves se separaram em 8 de junho, a última parte das operações conjuntas do programa Shuttle-Mir foram concluídas.



LIÇÕES APRENDIDAS

Os astronautas americanos passaram quase 1000 dias a bordo da estação Mir. Como resultado, dezenas de sugestões foram implementadas para a construção da ISS. Porém, muito comentários negativos foram feitos. Veja alguns deles:

- Deveria existir um melhor suporte para os experimentos científicos.
- A agenda diária deveria ser feita pelo controle em terra e não pela tripulação
- O lixo e o armazenamento foram considerados um problema. Um inventário de todo o equipamento, com a sua localização deveria ser providenciado.
- Para trabalhar de forma segura, seria necessário uma melhor compreensão do idioma russo. Foi sugerido a utilização exclusiva do inglês para as tarefas na ISS.
- Os astronautas americanos receberam treinando limitado para reparos.
- Eles receberam treinamento para serem passageiros, e não pilotos das naves Soyuz.
- As atividades científicas americanas foram limitadas devido a problemas de comunicação com as equipes de controle em terra.
- Não existia comunicação "horizontal" entre as organizações russas. As informações iam diretamente de uma organização a outra sem as demais tomarem conhecimento.
- Os astronautas americanos não estavam satisfeitos com a comunicação entre os membros da tripulação e o controle em Terra.
- A comunicação entre a estação e o controle em terra tinha seus defeitos. Era impossivel falar e ouvir com outras pessoas durante uma videoconferência,
- A Rússia limitou os detalhes técnicos sobre a estrutura da Mir, Soyuz e Progress, incluindo-se sistemas eletricos, mecânicos, e sistemas de suporte vitais.

Os cosmonautas recebiam um bônus de 1000 doláres a mais por cada tarefa considerada perigosa, como uma saída no espaço, um mês a mais na estação, ou um acoplamento feito de forma manual. Isto segundo a NASA aumentaria o risco ao qual os astronautas americanos estariam expostos dentro da estação. A colisão com um cargueiro Progress em 1997 ocorreu devido a um erro durante um acoplamento manual.

Uma história contada pela astronauta norte americana Shannon Lucid serve como exemplo da diferença de mentalidade existente entre os dois programas espaciais. Ela contou que durante seu treinamento na "Cidade das estrelas" ela descobriu que debaixo do painel da Soyuz havia um pequeno switch, rotulado com 3 letras. Apesar de pequeno, era importante. Era para o caso de uma despressurização da cápsula. Ao olhar novamente, percebeu que existia outro switch, exatamente igual e rotulado da mesma forma, mas para outro tipo de função. Era para o caso de alguma falha com o paraquedas principal. Os 2 switchs são dificeis de achar,e segundo ela, foi incrível ter conseguido localizá-los. Segundo um colega cosmonauta, a Soyuz foi construida por engenheiros que nunca pediram a opinião dos cosmonautas.


 

1998: Space Shuttle Flight 91 (STS-91) Discovery-Mir (NASA/Roscosmos)