Mir
INTRODUÇÃO
A Mir foi um dos capítulos mais importantes do vôo espacial tripulado até a presente data. Foi a nave espacial tripulada que permaneceu mais tempo no espaço e mais tempo habitada. Suas tripulações foram de várias nações, onde os seus criadores, os russos, foram hospedes em menor numero em relação aos estrangeiros. Graças a ela, aprendemos sobre os efeitos de longos vôos tripulados, como manter e construir grandes estruturas no espaço, e o valor da cooperação entre as nações. Foi o primeiro passo da atual estação, a IIS, mantida principalmente pelos dois antigos rivais da Guerra Fria.
HISTORIA DO DESENVOLVIMENTO DA MIR
Antes do lançamento da Salyut-7 (DOS-6); os soviéticos iniciaram o desenvolvimento de um novo tipo de estação (DOS-7); que deveria ter seis pontos de acoplamento, quatro axiais e 2 laterais. A NPO Energia decidiu em agosto de 1978 melhorar esta proposta, adicionando cinco pontos de acoplamento dianteiros e 1 traseiro. A configuração final foi aprovada em fevereiro de 1979. Cerca de 200 técnicos de mais de 20 ministérios soviéticos trabalharam neste projeto.
Em 17 de setembro de 1979 foi aprovado o desenvolvimento de um veículo denominado 37K. Foi o primeiro módulo da Mir, foi batizado Kvant e lançado em 1 de abril de 1987. Um módulo do mesmo tipo seria utilizado pelo ônibus espacial Buran. A construção de mais módulos desde tipo foi cancelada em 1983, pois eles podiam levar uma carga útil de apenas três toneladas. O módulo Kvant pesava 10 toneladas e era destinado para estudos astrofísicos.
Os únicos módulos que seriam utilizados seriam os do tipo 77KS, o mesmo que seria utilizado pelo programa militar Almaz na década de 70. Estes módulos seriam derivados das naves TKS, mas, não transportariam as cápsulas recuperáveis Merkur.
Os módulos do tipo 77 KS tinham o mesmo formato e sistemas, e apenas se diferenciavam pelo tipo de instrumental, transportado na parte dianteira do veículo.Em dezembro de 1984, estavam previstos quatro módulos desde tipo. Também se previa a utilização de um módulo biomédico, mas isso nunca foi concretizado. Pensava-se em acrescentar todos os módulo no período máximo de 1 ano . A demora na escolha do desenho dos módulos demonstrou que este prazo era impossível de ser cumprido.
Devido ao interesse maior no desenvolvimento do ônibus espacial Buran, a NPO Energia delegou grande parte da tarefa a KB Salyut, onde foram instalados todos os sistemas.O projeto, porém, estava quase paralisado em 1984.
Em 1984 a maior parte do tempo e dinheiro era utilizado para o desenvolvimento do ônibus espacial Buran. Mas, o projeto acabou sendo acelerado para ser entregue em 1986, para comemorar o 27º Congresso do Partido Comunista. Mais uma vez a política iria se intrometer no caminho das estrelas...
O excesso de peso do sistema de cabos elétricos, que pesava mais de 1 tonelada além do previsto, fez diminuir a inclinação da órbita da estação, o que diminui seu potencial militar. Mas, mesmo assim, a Mir também foi utilizada para observação militar.
Um modelo para ensaios elétricos foi enviado em dezembro de 1984 da fábrica Khrunichev, que pertencia a KB Salyut, para a fábrica NPO Energia. A falta de tempo impediu a colocação de um computador melhor e fez com que a nave fosse enviada para Baikonur, para ser concluída o mais rápido possível.
A Mir chegou a Baikonur em 6 de maio de 1985, transportada por trem. Uma falha na telemetria impediu o seu lançamento em 16 de fevereiro de 1986. O lançamento foi feito com sucesso no dia 20. O evento coincidiria com o 27º Congresso do partido Comunista e com o desastre do ônibus espacial norte americano Challenger. Os módulos que seriam utilizados na Mir foram concebidos entre 1976 e 1978. Pensava-se em utilizar módulos de 7 toneladas, baseados no desenho das naves Soyuz. Este plano foi abandonado em 1979. Seriam utilizados módulos de 20 toneladas, lançados por foguetes Proton.
Em 1987, a Mir ganharia o seu primeiro módulo, o módulo Kvant. Com a crise econômica se agravando em 1989, a Mir foi temporariamente abandonada, mas uma nova versão das naves Progress foi testada com sucesso.Entre setembro de 1989 e o final de 1990, mais 2 módulos chegaram a Mir, o Kvant 2, com um Airlock especialmente projetado para os cosmonautas saírem da estação, e o Kristall, com um acoplador desenhado especialmente para o ônibus espacial Buran.
Com a chegada do módulo Kristall, pode-se fazer a substituição do computador de bordo Argon, por um mais moderno, o Salyut 5B. A crise oriunda da desintegração da União Soviética, em 1991, fez com que a chegada dos módulos seguintes demora-se mais do que o esperado. Os últimos 2 módulos, Spektr (1995); e Priroda (1996); foram construídos graças à colaboração com os Estados Unidos. Inclusive, eles transportaram equipamentos americanos. Desta forma, a estação estava finalmente concluída, 10 anos após o seu lançamento.
Todos os lançamentos eram feitos do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. Porém, o monitoramento das missões era feito de Kaliningrado, uma cidade próxima a Moscou.
Para chegar até a Mir, os cosmonautas eram lançados dentro de naves Soyuz TM. Após 8 minutos eles já estavam em órbita, mas para chegar à estação se demorava 2 dias.Cada Soyuz tinha autonomia de 1 semana, poderia ficar no espaço durante 6 meses, e transportava 3 cosmonautas com trajes pressurizados.
A estação espacial Mir recebeu a visita no período de 1995 a 1998, de 9 ônibus espaciais norte americanos, como parte do projeto Shuttle-Mir, o primeiro passo para a construção da estação espacial internacional.
Os números que se referem a Mir são sempre grandes. Durante seus 15 anos de operação, foram realizados mais de 14 mil experimentos científicos. Mais de uma centena de cosmonautas de diversas nacionalidades visitaram a estação. Foram realizadas 66 saídas ao espaço. O recorde de permanência no espaço, foi obtido na Mir, com Valery Polyakov, que permaneceu 438 dias na Mir, em 1994. Porém, o número de defeitos também foi grande, sendo registrados 1500 defeitos, dos mais variados tipos. Durante o programa Shuttle-Mir, que durou de 1995 a 1998, 7 astronautas norte americanos permaneceram ao todo na Mir mais de 1000 dias
Para reabastecer a estação espacial Mir foram utilizados satélites cargueiros do tipo Progress. Esses satélites são utilizados desde a época das estações espaciais Salyut. As Progress possuem formato muito semelhante às naves Soyuz, podendo levar mais de 2 toneladas e meia de suprimentos. Em media, isto daria para uns 2 meses de operações. Em 15 anos de reabastecimento feito pelas Progress, apenas 4 falharam.
Ao estar concluída, a estação espacial Mir possuía um peso aproximado de 118,58 toneladas, e um formato de um T com medidas de 19,1 metros de comprimento (Mir - Kvant); por 24,3 metros (Kvant 2 - Kristall); por 25 metros (Spektr - Priroda);. Sua largura média era de 4,5 metros. Além disso, possuía 380 metros cúbicos de área disponível, e 235 metros quadrados de painéis solares que geravam 32,3 KW. Todos esses valores desconsideram os satélites Progress e as naves tripuladas Soyuz TM.
DIA A DIA DENTRO DA ESTAÇÃO
Quando uma nova tripulação chegava na Mir, era recebida com sal e pão. Este é um velho costume cristão ortodoxo praticado na Rússia.
Cada tripulante possuía sua cabine individual, onde havia apenas o espaço para seu saco de dormir, e uma janela para observar a Terra, e uma cortina para dar mais privacidade ao cosmonauta. Existia 2 cabines dentro do módulo Mir, 2 dentro do módulo Kvant-2 e 2 dentro do módulo Spektr, somando 6 cabines.
O teto, o chão e as paredes eram pintados de cores diferentes para poder dar um referencial aos cosmonautas, pois devido à falta de gravidade, não faz diferença nenhuma, por exemplo, andar no teto. O tetos bem como as mesas eram revestidos de felcro, para poder se fixar objetos. Se o cosmonauta não prendesse seus objetos em algum lugar, talvez não encontrasse novamente quando precisasse.
Para os ocupantes da Mir, o conceito de tempo é diferente do conceito praticado na Terra. Por dia, os cosmonautas viam o Sol nascer e se pôr a cada 45 minutos. A Mir demorava 90 minutos para dar uma volta completa ao redor da Terra. Por dia, eram 18 órbitas ao redor da Terra. Devido aos efeitos da gravidade, os cosmonautas deviam se exercitar todos os dias. A estação possuía uma esteira e uma bicicleta ergométrica onde todos os cosmonautas deviam obrigatoriamente se exercitar.
Para fazer a manutenção externa da estação era necessário fazer atividades extraveiculares. Além de manutenção (como por exemplo, trocar os painéis solares);, essas atividades eram feitas para fixar experimentos fora da estação. Os cosmonautas utilizavam roupas espaciais que permitiam até 6 horas fora da estação. Eles ficavam presos por cabos. Cada traje espacial do tipo Orlan DM, fabricado pela fábrica de trajes Zvezda, pesava 105 kilos e podia ser utilizado 10 vezes. Existia no módulo Kvant-2 um sistema autônomo de EVA (Extravehicular Activity); que permitia ao cosmonauta se movimentar sem os cabos. Este sistema possuía 32 pequenos propulsores de ar comprimido, que podiam acelerar o cosmonauta para a velocidade máxima de 30 metros por segundo. Mas, por razões de segurança, o cosmonauta não podia se afastar mais de 60 metros da estação. Os cosmonautas acabaram preferindo o método tradicional por acharem o equipamento muito incômodo.
As roupas dos cosmonautas não eram lavadas, após sujar eram guardadas para ser jogadas fora. Os cabelos eram cortados com o máximo de cuidado, bem como a barba. Como na Mir não existia chuveiro, os cosmonautas utilizavam toalhas com substância nutritivas para fazer sua higiene. Quando o cosmonauta queria fazer suas necessidades, ele era amarrado na privada. Os resíduos sólidos era armazenado em sacos para ser eliminados depois, mas a urina era reciclada.
A rotina dentro da Mir era dividida em 3 turnos de 8 horas. Os cosmonautas dedicavam 8 horas por dia ao desenvolvimento de experimentos, observação da Terra e outras atividades científicas. 8 horas eram dedicadas à manutenção da estação espacial, revisando toda a estação, e outras 8 horas são dedicadas ao descanso, lazer e alimentação. Este cronograma podia mudar de acordo com as necessidades. Era possível fazer de 7 a 8 experimentos por dia. Apenas 13% da manutenção da estação exigia operação manual, o resto podia ser feito de maneira automática.
Para comer, os cosmonautas injetavam água fervida dentro dos sacos onde a comida é acondicionada, pois a comida era desidratada. Fumar não era permitido na estação.
Como passatempo, os cosmonautas podiam ficar observando a Terra, ouvindo música em CDs ou fitas, assistindo fitas de vídeo (havia um compartimento com um monte delas);.Também era possível se comunicar com a família, com a equipe de apoio, bem como com radio amadores.
O computador que controlava as operações da Mir foi desenvolvido no período entre 1978 e 1984 por uma empresa denominada Zenlograd. A função do computador era controlar os denominados gyrodines, giroscópios utilizados para orientar a posição da estação, além da energia elétrica, painéis solares, motores, e comunicação com a Terra. Ele era um computador do tipo Argon 16-B, utilizado em naves não tripuladas, uma versão mais atualizada dos computadores utilizados na estação Salyut 5. Este computador controlava um sistema de aproximação e acoplamento denominado Igla, utilizado em naves da década de 70, e Kurs, utilizado em naves da década de 90. Podia-se conectar computadores laptops no computador da Mir, utilizando slots PCMCIA, para copiar os dados dos experimentos, mas as conexões falhavam às vezes. O computador da Mir possuía cerca de 900 indicadores e displays. Em cada módulo, existiam cerca de 350 displays e indicadores.
A estação possuía 12 giroscópios de orientação, sendo 6 no módulo Kvant e 6 no módulo Kvant 2. Cada módulo possuía seus próprios sistemas de controle, que podem trabalhar em conjunto com toda a estação. A estação era capaz de acoplar com naves que utilizem 2 sistemas de acoplamento, o Igla e o Kurs. O Igla é um sistema desenvolvido na década de 70, que começava a operar numa distância de 25 kilômetros da estação, em qualquer ângulo. O Kurs, mais avançado, desenvolvido na década de 90, começa a operar de uma distância maior, ou seja, 180 Kilômetros. Mais de 130 acoplamentos foram realizados. A Mir possuía também um acoplador para naves com até 100 toneladas, localizado no módulo Kristall, e que seria utilizado para acoplar o ônibus espacial russo Buran. Acabou sendo utilizado para instalar o adaptador Shuttle Docking Module, utilizado para acoplar os ônibus espaciais norte americanos.
DESCRIÇÃO DAS OPERAÇÕES
A Mir recebeu a primeira visita de cosmonautas em 1986, quando a tripulação da Soyuz T-15 que estava na estação espacial Salyut 7 foi até a nova estação. Este foi o primeiro vôo entre 2 estações. Seus primeiros tripulantes foram Vladimir Soloviov e Leonid Kizim.
Como foram 15 anos de histórias, seria muito extenso descrever todas as atividades feitas, então falaremos apenas de ponto relevantes da história da Mir.
A primeira tripulação foi lançada numa versão atualizada da Soyuz, chamada Soyuz TM-2 em 6 de fevereiro de 1987, acoplando no dia 8 com Yuri Romanenko, veterano das missões Soyuz 26 e 38 e o debutante Alexander Laveikin. Foram eles que começaram os trabalhos de investigação na estação.
Eles receberiam o módulo Kvant-1. Por problemas no acoplamento desde módulo, por causa de restos plásticos no acoplador, tiveram que fazer a primeira caminhada espacial (EVA); em 12 de abril, gastando 3 horas e 40 minutos nesta tarefa.
O recorde de permanência no espaço foi batido neste ano por Yuri Romanenko e Alexander Laveikin, que permaneceram 327 dias em órbita.
A Soyuz TM-6 foi lançada em 29 de agosto de 1988, transportou o primeiro afegão ao espaço. Foi um vôo claramente político, visto que a URSS ocupava o país. Seus integrantes eram Vladimir Lyakov (Soyuz T-9); y os debutantes Valery Poliakov e o afegão Abdul Mohmand.
Os cosmonautas Vladimir Lyakhov e Abdul Mohmand, ao retornar na Soyuz TM-5 depois de 6 dias no espaço, tiveram seus maus momentos no espaço, em 6 de setembro de 1988. Após transportar o médico Valery Polyakhov para a estação espacial Mir, eles retornaram para a Terra. Na primeira tentativa de pouso, o computador desligou o motor automaticamente, devido à interferência da luz do Sol nos sensores infravermelhos de orientação da nave. Na segunda tentativa, foi feita uma tentativa manual, feita pelo cosmonauta Lyakhov. O cosmonauta desacelerou a nave demais, e ela não conseguiu entrar na atmosfera. 21 horas depois da segunda tentativa, a Soyuz conseguia retornar de volta a Terra, aterissando a 180 km ao leste de Dzhezkazgan, na Ásia central
Neste ano, os cosmonautas da Soyuz TM 4, Anatoly Levctchenko, Musa Manarov e Vladimir Titov, quebrariam novamente o recorde de permanência no espaço, ao permaneceram 366 dias no espaço.
A Soyuz TM-7 levou Alexander Volkov (Soyuz T-14);, Sergei Krikalev e o francês Jean Loup Chretién, já tinha ido ao espaço antes e que seria o primeiro não russo a ficar um mês no espaço e realizar uma caminhada espacial. Ele voltaria na Soyuz TM-6 após 24 dias, e a Soyuz TM-7 voltaria em 27 de abril de 1989. Problemas financeiros atrasaram a entrega do segundo módulo, o Kvant 2, então a estação ficou 5 meses desabitada.
A Soyuz TM-8 voltaria para a Mir em 5 de setembro de 1989, tripulada por Alexander Viktorenko y Alexander Serebrov; Viktorenko é o primeiro cosmonauta que visita a MIR pela segunda vez (Tinha sido tripulante da Soyuz TM-3);. Serebrov participou das missões T-7 (Salyut 7); y na malsucedida T-8. Em 6 de dezembro, receberiam o módulo Kvant-2. Em 26 de janeiro de 1990, os cosmonautas testam um sistema de caminhada autônomo chamado SPK.Ele foi testado por 3 vezes, mas os cosmonautas das missões seguintes acharam melhor usar gruas com braços telescópicos chamadas Strela para se deslocar pelo exterior da estação.
No dia 11 de fevereiro de 1990, seria lançada a Soyuz TM-9 tripulada por Anatoly Soloviov e Alexander Balandín, que realizava seu primeiro vôo. O acoplamento foi acidentando, danificando uma pequena parte do escudo térmico da nave Soyuz. Esta tripulação receberia o módulo Kristall em 10 de junho, e em 17 de julho faria os reparos no escudo térmico de sua nave, após receber peças de reposição enviadas por um cargueiro Progress. Foram necessárias 2 caminhadas para reparar o escudo. Apesar disso, ao voltar, o reingresso foi controlado desde Terra, pois os giroscópios da Soyuz não haviam sido totalmente reparados.
Durante a permanência na MIR, os cosmonautas fotografaram 21 milhões de kilômetros quadrados de superfície terrestre y produziram 23 cristais em estado totalmente puro.-
Os cosmonautas receberiam no dia 3 de agosto aos tripulantes da Soyuz TM-10, Guennady Strekalov e Guennady Manakov e no dia 9 de agosto Soloviov e Balandín regressariam na cápsula reparada.
Você já imaginou sair de um lugar e ao voltar, esse lugar não existir mais?. O cosmonauta da Soyuz TM 12, Serguei Krikalev e seu companheiro, Alexander Volkov, passaram por essa experiência. Ao serem lançados, em 18 de maio de 1991, eram cosmonautas soviéticos. Quando voltaram, em 1992, seu país simplesmente não existia mais. Agora a ex-União Soviética, extinta no natal de 1991, era a Comunidade dos Estados Independentes (CEI);. Os insólitos cosmonautas tiveram os seus 15 minutos de fama. Apesar de extinta, a bandeira soviética continuaria no exterior da Mir
A Pepsi faria em 1991 o seu primeiro comercial espacial dentro da estação. Vários outros comerciais seriam feitos, como o da Freixenet,onde o cosmonauta Valery Polyakov seria protagonista de um longo anuncio de 22 minutos. A famosa empresa espanhola Chupa Chups, conhecida pelos seus pirulitos em todo o mundo, também faria um comercial em 1998.
A crise oriunda da desintegração da URSS e o interesse americano em ter uma estação espacial abriram novas oportunidades para a Mir. Em 1992, Brian Albert. Brian Albert, diretor do National Space Council, chamou a George Abbey. Ele propôs a idéia de retomar o intercambio entre astronautas e cosmonautas de ambas nações. Albert comentou a idéia com o administrador da NASA, Daniel Goldin, que aceitou a idéia com muito entusiasmo.
Graças a Abbey, o projeto de uma estação espacial da NASA se salvou ao incluir aos russos no consórcio de nações participantes. Desta forma nasceu a ISS, tendo como programa prévio o programa Shuttle-MIR.
Como início do programa conjunto, o russo Serguei Krikalev, faria parte da tripulação STS-60, em 1994. O último vôo conjunto entre russos e americanos havia sido em 1975, no histórico vôo entre a Apollo 18 e a Soyuz 19. Este seria o último vôo de uma cápsula norte americana. Em 12 de junho de 1994 pela primeira vez um ônibus espacial de aproximaria da estação espacial russa.
Neste mesmo ano, o médico cosmonauta Valery Polyakov, da Soyuz TM 18, começaria a sua longa permaneceria de 438 dias no espaço, quebrando novamente o recorde de permanência em órbita. Ele retornaria no ano de 1995.
No ano anterior, em fevereiro de 1993, a Mir foi palco de uma interessante experiência.Um espelho de 25 metros de diâmetro acoplado num satélite cargueiro Progress chamado Znamya (estandarte); seria utilizado para tentar iluminar uma área da Terra com até 5 kilômetros de diâmetro, com uma luminosidade equivalente a 4 luas cheias. A experiência falhou pois o espelho não abriu corretamente. Uma nova experiência foi feita em 1999, mas desta vez devido a uma haste presa, o espelho não conseguiu ser aberto.
Em 14 de março de 1995 seria lançada a nave Soyuz TM-21, levando a histórica tripulação Mir 18 integrada pelo comandante estreante Vladimir Dezhurov, o engenheiro Guennadi Strekalov veterano de missões anteriores e o astronauta da NASA, o médico, Norman Thagard, o primeiro "astrocosmonauta" da história e veterano de missões anteriores do ônibus espacial. Esta tripulação receberia também o módulo Spektr em 01 de junho.
No dia 30, ocorre o primeiro acoplamento entre a Mir e um ônibus espacial, o Atlantis, transportando a tripulação STS-71. Os astronautas americanos seriam transportados e trazidos de volta a Terra pelos ônibus espaciais. Até 1998 os astronautas americanos seriam uma presença constante na Mir.
Os americanos mandaram para a Mir uma astronauta, Shannon Lucid, que bateu o recorde de permanência espacial norte americano. Isto não estava planejado, mas devido a atrasos ocorridos com um furacão na Flórida que atrasou o lançamento do ônibus espacial, o recorde pode ser quebrado. Ao retornar em 26 de setembro de 1996, após permanecer 188 dias do espaço, conseguiu descer do ônibus espacial sozinha e foi recebida pelo presidente norte americano Bill Clinton
A vida dos cosmonautas da Mir no ano de 1997 não foi nada fácil. Temperaturas baixas, qualidade do ar não muito boa, noites de sono interrompidas pelos alarmes e o fantasmagórico ranger provocado pela fricção entre as juntas dos diversos módulos da enorme estrutura de alumínio de mais de cem toneladas. Além de estar além de sua vida útil projetada, este ambiente contribuía para deixar as tripulações com fadiga, tensão e excesso de trabalho.
Os defeitos da estação e as trapalhadas da tripulação fizeram deste ano um inferno. Um dos cosmonautas desligou por acidente o cabo de força do computador que controlava a orientação da nave e por causa disso os painéis solares não captaram força para manter todos os sistemas funcionando. Ficaram as escuras. Quando resolveram a desagradável situação e estabeleceram contato com a Terra, tiveram que ouvir uma longa bronca do controle em terra.
O ano de 1997 foi muito tumultuado para a Mir. Em 24 de fevereiro aconteceria um incêndio na estação quando um galão de ar explodiu por defeito de fabricação. Durante um certo tempo, eles tiveram que ficar com máscaras antigás. "Enquanto um acionava o tanque, o outro segurava o extintor, contou o astronauta americano Jerry Linenger, na Mir desde janeiro. O incêndio demorou 14 minutos para ser contido com um extintor e uma toalha. Para piorar, o fogo bloqueava o único caminho em direção a cápsula Soyuz, a única forma de deixar a estação.
Em março, os dois sistemas de geração de oxigênio quebraram, obrigando a tripulação a recorrer a galões, que estavam sob suspeita de estar com defeito. Os cosmonautas consertaram um dos sistemas, e um outro foi trazido por uma equipe norte-americana. Um vazamento no sistema de controle de temperatura, em abril, elevou a temperatura da estação. O líquido anticongelante que vazou pode ser nocivo. O vazamento foi consertado. A tripulação passou dias tossindo, com nariz entupido e olhos lacrimejantes.O vazamento no sistema de controle de temperatura, em abril, danificou também o sistema de purificação de ar. A tripulação recorreu a um sistema alternativo, antes de consertar o original
Mas um dos piores acidentes já acontecidos em órbita estava por acontecer. A tripulação composta pelos russos Tsibliev e Lazutkin, e pelo norte americano Michael Foale sofreram em agosto de 1997 uma colisão com o cargueiro Progress M-34, que despressurizou parte do módulo Spektr. Pela colisão, a tripulação foi multada, pois foram tidos por responsáveis pelo acidente.
O choque com o cargueiro Progress abriu um buraco de 3 centímetros no módulo Spektr e eliminou 40% do suprimento de força da estação. Apesar dos acoplamentos serem automáticos, eles podem ser controlados pela tripulação, e o comanda Vassili Tsibliev fez o cargueiro acidentalmente bater na estação.
Muitos acidentes ocorreram na Mir, desde banheiros entupidos, incêndios, perda de força e até a estação chegou a ficar totalmente sem controle. Estes problemas ocorriam por 2 motivos principais, o primeiro era que a estação havia sido feita para uma vida útil de 5 anos, a outra é que os russos não tinham dinheiro suficiente para fazer uma manutenção adequada. Nos Estados Unidos, as opiniões se dividiam entre continuar a mandar astronautas para a Mir, ou não. Apesar dos problemas, o programa conjunto continuou até o ano seguinte.
O programa espacial russo também sofria de velhas manias soviéticas, a mania de segredo baniu os manuais impressos e obrigava as tripulações a conhecer todos os procedimentos. Certa vez, durante o ano de 1996, ninguém soube dizer para a tripulação o que era um pedaço de equipamento encontrado dentro da estação.
A mídia não perdia tempo para atacar o maltratado programa espacial russo. Os cosmonautas quando voltaram a Terra disseram que estavam sendo usados como bodes expiatórios pela agência espacial para esconder seus erros. Entre outras coisas, também disseram que havia uma garrafa de conhaque "para os momentos de stress". Tomar conhaque também era um costume de outras tripulações, mesmo antes da Mir. O problema era que os momentos de stress da Mir não foram poucos.
O programa Shuttle-Mir fez a NASA ganhar uma valiosa experiência para implementar a ISS. Vários pontos negativos foram detectados bem como sugestões foram feitas, entre eles a limitação das atividades científicas americanas devido a problemas de comunicação com as equipes de controle em terra. Sobre a agenda diária, foi sugerido que deveria ser feita pelo controle em terra e não pela tripulação. Também foi sugerida a criação de um inventário de todo o equipamento disponível, é um maior treinamento nos sistemas russos, visto que a Rússia limitou o acesso a detalhes técnicos sobre seus sistemas, bem como deu treinamento mínimo para os reparos e não qualificou os astronautas para pilotar as naves Soyuz. Foi sugerido que o inglês fosse o idioma utilizado para as operações da ISS, visto que na Mir a compreensão do russo garantia um trabalho seguro.
Quando a tripulação da Soyuz TM-29 retornou em 28 de agosto de 1999, os sistemas da estação foram colocados em modo automático.Não se tinha certeza se haveriam outras missões. A Rússia não podia dividir seus escassos recursos para manter a Mir e o novo projeto da estação espacial internacional (ISS);. A Mir seria mantida por recursos privados. O cosmonauta Serguey Aydeyev ao retornar desta missão junto com seu colega Afanasyev e a astornauta francesa Claudie Haignere, somaria 747 dias no espaço, em 3 missões.
Para a agência espacial russa, esta tripulação que retornou, também conhecida como Mir-27, seria a última, mas graças à empresa holandesa MirCorp, que depositou 20 milhões de dólares nos cofres russos, a aposentadoria da Mir prevista para março de 2000 foi adiada.
Apesar dos protestos da NASA, uma nova missão seria lançada. A Soyuz TM-30, tripulada por Sergei Zalyotin y Alexander Kaleri, com uma permanência estimada de 45 dias, ampliada para 90 se houvessem mais recursos. Eles permaneceram 72 dias no espaço, retornando em 15 de julho de 2000. Esta seria a última tripulação.
Durante esta missão foi feita a primeira caminhada espacial paga com fundos privados. O objetivo era buscar o ponto danificado pelo acidente de 1997, bem como revisar o exterior da estação. Foram encontradas marcas de curto circuito no módulo Kvant. A Mir estava perdendo pressão, mas o ponto de fuga não foi localizado.
Em outubro de 2000 foi lançada o cargueiro Progress M-43 com suprimentos para uma nova tripulação. A dificuldade da MirCorp em conseguir dinheiro para manter as operações da Mir fizeram a agência espacial russa decretar a morte da Mir, e derrubar a gloriosa estação no início de 2001.
Estava planejada a viagem para a Mir do primeiro turista espacial, o norte americano Dennis Tito. Devido ao final das atividades da estação, seu vôo acabou sendo para a nova ISS, o que causou protestos por parte da NASA.
CURIOSIDADES
A estação espacial russa esteve 5487 dias no espaço, durante todo este tempo foi visitada por 104 astronautas que tiveram que resolver 3 mil problemas, ou um a cada dois dias. Quinze anos no espaço, 104 astronautas de visita, 26 mil experimentos e 78 caminhadas espaciais daria para escrever vários livros sobre as aventuras da estação espacial.
Os custos da mir segundo a agencia espacial russa foram de 4,3 bilhões de dólares, desde o desenvolvimento até a sua derrubada no Oceano Pacífico. Foram 15 anos de operação, e 10 anos de desenvolvimento (de 1976 a 1986); o que totaliza um quarto de século. Centenas de departamentos e milhares de empregados ajudaram a construir e manter esta fantástica espaçonave.
A estação transportava 10 toneladas e meia de equipamentos, com um valor estimado entre 80 a 90 milhões de dólares. A Mir era um laboratório integrado desenvolvido para trabalhar em determinadas áreas. Foi desenhado para ser operado pelos cosmonautas, e portanto, seus experimentos apenas eram úteis se houvesse uma tripulação para utilizá-los.
A utilização internacional da Mir rendeu para a Rússia cerca de 1 bilhão de dólares. Aproximadamente de 45 a 47% do dinheiro utilizado para manter a Mir no período de 1994 a 2000 veio de projetos internacionais.
Foi a primeira estação espacial internacional, onde os russos foram minoria, e abrigou experimentos feitos em vários países.
Foi permanentemente ocupada durante 10 anos (1989-1999);. A estação percorreu o equivalente a 3,5 bilhões de kilômetros.
A Mir foi muito mais utilizada do que todas as suas predecessoras juntas (Salyut 1, Skylab, Salyut 3, Salyut 4, Salyut 5, Salyut 6, e Salyut 7);.
Foi montada através de técnicas modulares, da mesma forma que hoje é montada a ISS. Provou que grandes estruturam podem ser construídas, e que se pode destruir uma estação espacial de grande porte com total segurança.
A Mir foi desenhada para receber a visita de ônibus espaciais russos. Por ironia do destino, os Shuttle americanos acoplaram com a estação 9 vezes.
Demonstrou-se como trabalhar melhor no espaço, como viver longos tempos em órbita (o recorde de 437 dias foi obtido dentro da Mir, e houve cosmonautas que permaneceram mais de 2 anos a bordo);
Graças a Mir, sabemos que o homem pode suportar o tempo de viagem da Terra a Marte
A Mir demonstrou que só existe uma forma de aprender no espaço. Através da própria experiência.
A colaboração com o ocidente, também ensinou muitas coisas para os russos. Ensinou que o programa espacial também deve ser levado de forma "empresarial", ou seja, visando lucro. Boa parte dos experimentos da Mir acabou sendo perdida num oceano de laboratórios, institutos e burocracia, e nunca emergiram como aplicações comerciais.
A rede TacoBell, especializada em comida mexicana (tacos); fez uma promoção aproveitando-se do triste fim da estação espacial Mir. Ela instalou uma lona de 140 metros de comprimento localizada a 15 Km do litoral da Austrália. Ela disse que se algum fragmento da Mir caísse dentro da lona, ela daria tacos de graça para qualquer pessoa nos EUA. Para sua felicidade, nenhum fragmento da estação caiu na lona.
A temperatura dentro da estação Mir era de 80 graus F dentro do módulo principal, e variava nos demais, chegando a 60 graus Fahrenheit no módulo Kristall. A temperatura no espaço, em órbita baixa, varia de -200 graus a 200 graus centígrados.
Um dos primeiros experimentos feitos em órbita foram com codornas. Não foi fácil fazer as aves nascerem. No final elas nasceram, mas além de voar elas faziam as suas necessidades. Surgiu um problema: O aspirador feito para recolher os excrementos não funcionava.
Um dos incidentes mais desagradáveis foi protagonizado por Valeri Kirzun e Alexander Karelin, junto com seu colega da Nasa, John Blaha quando em 1996 quando o aparelho de reciclagem de detritos orgânicos entupiu. Os containeres que armazenavam os detritos estavam cheios. A tripulação foi orientada a bombear os dejetos manualmente, mas a bomba manual que deveria estar a bordo não existia. O esgoto demorou a ser desentupido 1 mês, pois os equipamentos necessários foram enviados no cargueiro Progress M-33.
Baseado nas profecias de Nostradamus, o estilista Paco Rabanne tentou convencer ao mundo de que a Mir cairia sobre Paris em 1999. Ele mesmo fechou suas lojas e oficinas, provocando uma escalada de pânico que exigiu a interferência do governo francês.
As investigações das mudanças produzidas na falta de gravidade no ser humano foram vitais para preparar os programas de reabilitação de astronautas quando voltam para as condições terrestres. Estes trabalhos foram no começo clandestinos. Os primeiros equipamentos para isso foram levados ao espaço de contrabando, sem que fossem inspecionados pelos militares do polígono de Baikonur. Isso foi por causa da filosofia dos responsáveis do programa espacial: "Minhas naves devem voar, os acoplamentos devem ocorrer sem problemas e os cosmonautas não devem morrer nas missões. Sobre a ciência, ela pode esperar".
A Mir teve um papel estelar no filme Armaggedon: para destruir um meteoro que se dirigia para a Terra, foram enviadas dois ônibus espaciais ao espaço que deveriam fazê-lo explodir. No filme os ônibus espaciais se acoplam na Mir para recarregar combustível, porem os comandos da estação não funcionam. Um dos protagonistas dá um golpe no painel de controle é tudo começa a funcionar. A Mir pode não ter ficado bonita no filme, mas sem ela teria sido impossível destruir o ameaçador meteoro.
A ÚLTIMA ÓRBITA
A Mir foi derrubada num ponto predefinido do Oceano Pacífico em 23 de março de 2001, devido à falta de fundos para manter suas operações, e para concentrar os esforços russos na construção da ISS.
Quando em 1977 um satélite militar da série Cosmos movido a energia nuclear caiu no Canadá, a URSS pagou uma indenização de 6,5 milhões de dólares devido a dor de cabeça que este incidente causou. A Mir possuia uma cobertura de 200 milhões de dólares, em caso dela cair em algum lugar habitado. Felizmente, ela caiu no lugar previsto.
A manobra de destruição da estação foi feita em 23 de março de 2001, por um cargueiro Progress-M, acoplado a estação desde janeiro de 2001. Foi dividida em 3 partes:
Primeira manobra: 00:32:47 GMT. Duração de 22 minutos, terminou em 00:55 reduziu a velocidade da estação em 32 Km. O impulso dos motores foi 10 vezes mais fraco que o impulso utilizado pelo ônibus espacial para voltar para casa.
Segunda manobra: 22 minutos, modificou a órbita da estação para 159 x 217 Km, com ponto mais baixo sobre o local de queda.
Terceira e última manobra: 05:10 GTM, duração de 19 minutos Ao contrário da NASA, a agência espacial russa não emprega pessoal técnico para narrar as manobras o que atrasa o fluxo e a precisão das informações. A tensão entre os controladores era muito grande, pois nunca os motores de uma nave Progress haviam sido utilizados tanto tempo.
O controle da missão em Korolev calcula que as 5:44 GMT o objeto espacial número 16.609 (número que o comando de defesa espacial americano deu a Mir); alcançou os 100 Kilômetros de altura e começou a se desintegrar. As 05:56 GMT espectadores nas ilhas Fiji viram pedaços de grande tamanho da estação se dirigirem para o oceano. A Mir foi destruída ao completar a órbita 86330. A mãe de todas as estações espaciais deixou de existir.
Cerca de 20 toneladas devem ter sobrevivido à derrubada da estação. Quando a estação espacial americana Skylab caiu na Austrália, em 1979, foram recuperados 2 fragmentos pesando 1750 Kg e outros 300 fragmentos. Ela caiu de forma totalmente descontrolada, ao contrário da Mir.
"O fim das atividades da estação espacial foi comemorado de acordo com as tradições russas, com uma generosa dose de vodka", disse o chefe de balística do Centro de Controle Espacial, Nikolai Ivanov. O informe final foi destacado numa tela gigante no Centro de Controle, com as informações:
OK MIR - 8h57 (horário de Moscou);.
Lançamento 20-02-86
Queda 23-03-2001.
"A estação orbital Mir completou sua triunfal missão às 5h59 GMT. Foi algo sem precedentes na história da investigação espacial."
Essa foi à mensagem que os alto falantes do controle da missão transmitiram ao término das operações. O silêncio das centenas de pessoas, operadores, autoridades, cosmonautas e jornalistas foi à única resposta.
Assim terminava a história desta estação espacial russa. Talvez o que possamos desejar da ISS é que ela seja tão boa quanto a Mir.
EPILOGO
Do seu nascimento até sua morte, o mundo viveu uma revolução. O comunismo caiu, os rivais da guerra fria começaram a trabalhar juntos.
Para os russos, era o simbolo do glorioso império soviético, e do grande passado perdido. Para os americanos, a Mir foi uma ponte, um passo intermediário para a ISS. Olhando para trás, seus construtores devem sentir orgulho pelo seu sucesso. A historia da Mir nos ensinou que humildade e cautela são os caminhos do sucesso, mas excesso de confiança e descuido são o caminho do desastre.
A estação russa foi pioneira na cooperação internacional, abrigando cosmonautas de diversas nacionalidades. Os astronautas americanos permaneceram mais de 1000 dias na estação. O módulo de serviço da estação espacial internacional seria na realidade o módulo de uma nova estação russa, a Mir-2. Por fora, é uma cópia idêntica da Mir.
Os custos da mir segundo a agencia espacial russa foram de 4,3 bilhões de dolares, desde o desenvolvimento até a sua derrubada no Oceano Pacífico. Foram 15 anos de operação, e 10 anos de desenvolvimento (de 1976 a 1986); o que totaliza um quarto de século. Centenas de departamentos e milhares de empregados ajudaram a construir e manter esta fantástica espaçonave.
A estação transportava 10 toneladas e meia de equipamentos, com um valor estimado entre 80 a 90 milhões de dólares. A Mir era um laboratório integrado desenvolvido para trabalhar em determinadas áreas. Foi desenhado para ser operado pelos cosmonautas, e portanto, seus experimentos apenas eram úteis se houvesse uma tripulação para utilizá-los.
A utilização internacional da Mir rendeu para a Rússia cerca de 1 bilhão de dólares. Aproximadamente de 45 a 47% do dinheiro utilizado para manter a Mir no período de 1994 a 2000 veio de projetos internacionais.
A Mir foi um dos capítulos mais importantes do vôo espacial tripulado até a presente data. Foi a nave espacial tripulada que permaneceu mais tempo no espaço e mais tempo habitada. Suas tripulações foram de várias nações, onde os seus criadores, os russos, foram hospedes em menor numero em relação aos estrangeiros. Graças a ela, aprendemos sobre os efeitos de longos vôos tripulados, como manter e construir grandes estruturas no espaço, e o valor da cooperação entre as nações. Foi o primeiro passo da atual estação, a IIS, mantida principalmente pelos dois antigos rivais da Guerra Fria.
HISTORIA DO DESENVOLVIMENTO DA MIR
Antes do lançamento da Salyut-7 (DOS-6); os soviéticos iniciaram o desenvolvimento de um novo tipo de estação (DOS-7); que deveria ter seis pontos de acoplamento, quatro axiais e 2 laterais. A NPO Energia decidiu em agosto de 1978 melhorar esta proposta, adicionando cinco pontos de acoplamento dianteiros e 1 traseiro. A configuração final foi aprovada em fevereiro de 1979. Cerca de 200 técnicos de mais de 20 ministérios soviéticos trabalharam neste projeto.
Em 17 de setembro de 1979 foi aprovado o desenvolvimento de um veículo denominado 37K. Foi o primeiro módulo da Mir, foi batizado Kvant e lançado em 1 de abril de 1987. Um módulo do mesmo tipo seria utilizado pelo ônibus espacial Buran. A construção de mais módulos desde tipo foi cancelada em 1983, pois eles podiam levar uma carga útil de apenas três toneladas. O módulo Kvant pesava 10 toneladas e era destinado para estudos astrofísicos.
Os únicos módulos que seriam utilizados seriam os do tipo 77KS, o mesmo que seria utilizado pelo programa militar Almaz na década de 70. Estes módulos seriam derivados das naves TKS, mas, não transportariam as cápsulas recuperáveis Merkur.
Os módulos do tipo 77 KS tinham o mesmo formato e sistemas, e apenas se diferenciavam pelo tipo de instrumental, transportado na parte dianteira do veículo.Em dezembro de 1984, estavam previstos quatro módulos desde tipo. Também se previa a utilização de um módulo biomédico, mas isso nunca foi concretizado. Pensava-se em acrescentar todos os módulo no período máximo de 1 ano . A demora na escolha do desenho dos módulos demonstrou que este prazo era impossível de ser cumprido.
Devido ao interesse maior no desenvolvimento do ônibus espacial Buran, a NPO Energia delegou grande parte da tarefa a KB Salyut, onde foram instalados todos os sistemas.O projeto, porém, estava quase paralisado em 1984.
Em 1984 a maior parte do tempo e dinheiro era utilizado para o desenvolvimento do ônibus espacial Buran. Mas, o projeto acabou sendo acelerado para ser entregue em 1986, para comemorar o 27º Congresso do Partido Comunista. Mais uma vez a política iria se intrometer no caminho das estrelas...
O excesso de peso do sistema de cabos elétricos, que pesava mais de 1 tonelada além do previsto, fez diminuir a inclinação da órbita da estação, o que diminui seu potencial militar. Mas, mesmo assim, a Mir também foi utilizada para observação militar.
Um modelo para ensaios elétricos foi enviado em dezembro de 1984 da fábrica Khrunichev, que pertencia a KB Salyut, para a fábrica NPO Energia. A falta de tempo impediu a colocação de um computador melhor e fez com que a nave fosse enviada para Baikonur, para ser concluída o mais rápido possível.
A Mir chegou a Baikonur em 6 de maio de 1985, transportada por trem. Uma falha na telemetria impediu o seu lançamento em 16 de fevereiro de 1986. O lançamento foi feito com sucesso no dia 20. O evento coincidiria com o 27º Congresso do partido Comunista e com o desastre do ônibus espacial norte americano Challenger. Os módulos que seriam utilizados na Mir foram concebidos entre 1976 e 1978. Pensava-se em utilizar módulos de 7 toneladas, baseados no desenho das naves Soyuz. Este plano foi abandonado em 1979. Seriam utilizados módulos de 20 toneladas, lançados por foguetes Proton.

Em 1987, a Mir ganharia o seu primeiro módulo, o módulo Kvant. Com a crise econômica se agravando em 1989, a Mir foi temporariamente abandonada, mas uma nova versão das naves Progress foi testada com sucesso.Entre setembro de 1989 e o final de 1990, mais 2 módulos chegaram a Mir, o Kvant 2, com um Airlock especialmente projetado para os cosmonautas saírem da estação, e o Kristall, com um acoplador desenhado especialmente para o ônibus espacial Buran.

Com a chegada do módulo Kristall, pode-se fazer a substituição do computador de bordo Argon, por um mais moderno, o Salyut 5B. A crise oriunda da desintegração da União Soviética, em 1991, fez com que a chegada dos módulos seguintes demora-se mais do que o esperado. Os últimos 2 módulos, Spektr (1995); e Priroda (1996); foram construídos graças à colaboração com os Estados Unidos. Inclusive, eles transportaram equipamentos americanos. Desta forma, a estação estava finalmente concluída, 10 anos após o seu lançamento.
Todos os lançamentos eram feitos do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. Porém, o monitoramento das missões era feito de Kaliningrado, uma cidade próxima a Moscou.
Para chegar até a Mir, os cosmonautas eram lançados dentro de naves Soyuz TM. Após 8 minutos eles já estavam em órbita, mas para chegar à estação se demorava 2 dias.Cada Soyuz tinha autonomia de 1 semana, poderia ficar no espaço durante 6 meses, e transportava 3 cosmonautas com trajes pressurizados.
A estação espacial Mir recebeu a visita no período de 1995 a 1998, de 9 ônibus espaciais norte americanos, como parte do projeto Shuttle-Mir, o primeiro passo para a construção da estação espacial internacional.

Os números que se referem a Mir são sempre grandes. Durante seus 15 anos de operação, foram realizados mais de 14 mil experimentos científicos. Mais de uma centena de cosmonautas de diversas nacionalidades visitaram a estação. Foram realizadas 66 saídas ao espaço. O recorde de permanência no espaço, foi obtido na Mir, com Valery Polyakov, que permaneceu 438 dias na Mir, em 1994. Porém, o número de defeitos também foi grande, sendo registrados 1500 defeitos, dos mais variados tipos. Durante o programa Shuttle-Mir, que durou de 1995 a 1998, 7 astronautas norte americanos permaneceram ao todo na Mir mais de 1000 dias
Para reabastecer a estação espacial Mir foram utilizados satélites cargueiros do tipo Progress. Esses satélites são utilizados desde a época das estações espaciais Salyut. As Progress possuem formato muito semelhante às naves Soyuz, podendo levar mais de 2 toneladas e meia de suprimentos. Em media, isto daria para uns 2 meses de operações. Em 15 anos de reabastecimento feito pelas Progress, apenas 4 falharam.
Ao estar concluída, a estação espacial Mir possuía um peso aproximado de 118,58 toneladas, e um formato de um T com medidas de 19,1 metros de comprimento (Mir - Kvant); por 24,3 metros (Kvant 2 - Kristall); por 25 metros (Spektr - Priroda);. Sua largura média era de 4,5 metros. Além disso, possuía 380 metros cúbicos de área disponível, e 235 metros quadrados de painéis solares que geravam 32,3 KW. Todos esses valores desconsideram os satélites Progress e as naves tripuladas Soyuz TM.
DIA A DIA DENTRO DA ESTAÇÃO
Quando uma nova tripulação chegava na Mir, era recebida com sal e pão. Este é um velho costume cristão ortodoxo praticado na Rússia.
Cada tripulante possuía sua cabine individual, onde havia apenas o espaço para seu saco de dormir, e uma janela para observar a Terra, e uma cortina para dar mais privacidade ao cosmonauta. Existia 2 cabines dentro do módulo Mir, 2 dentro do módulo Kvant-2 e 2 dentro do módulo Spektr, somando 6 cabines.
O teto, o chão e as paredes eram pintados de cores diferentes para poder dar um referencial aos cosmonautas, pois devido à falta de gravidade, não faz diferença nenhuma, por exemplo, andar no teto. O tetos bem como as mesas eram revestidos de felcro, para poder se fixar objetos. Se o cosmonauta não prendesse seus objetos em algum lugar, talvez não encontrasse novamente quando precisasse.
Para os ocupantes da Mir, o conceito de tempo é diferente do conceito praticado na Terra. Por dia, os cosmonautas viam o Sol nascer e se pôr a cada 45 minutos. A Mir demorava 90 minutos para dar uma volta completa ao redor da Terra. Por dia, eram 18 órbitas ao redor da Terra. Devido aos efeitos da gravidade, os cosmonautas deviam se exercitar todos os dias. A estação possuía uma esteira e uma bicicleta ergométrica onde todos os cosmonautas deviam obrigatoriamente se exercitar.

Para fazer a manutenção externa da estação era necessário fazer atividades extraveiculares. Além de manutenção (como por exemplo, trocar os painéis solares);, essas atividades eram feitas para fixar experimentos fora da estação. Os cosmonautas utilizavam roupas espaciais que permitiam até 6 horas fora da estação. Eles ficavam presos por cabos. Cada traje espacial do tipo Orlan DM, fabricado pela fábrica de trajes Zvezda, pesava 105 kilos e podia ser utilizado 10 vezes. Existia no módulo Kvant-2 um sistema autônomo de EVA (Extravehicular Activity); que permitia ao cosmonauta se movimentar sem os cabos. Este sistema possuía 32 pequenos propulsores de ar comprimido, que podiam acelerar o cosmonauta para a velocidade máxima de 30 metros por segundo. Mas, por razões de segurança, o cosmonauta não podia se afastar mais de 60 metros da estação. Os cosmonautas acabaram preferindo o método tradicional por acharem o equipamento muito incômodo.
As roupas dos cosmonautas não eram lavadas, após sujar eram guardadas para ser jogadas fora. Os cabelos eram cortados com o máximo de cuidado, bem como a barba. Como na Mir não existia chuveiro, os cosmonautas utilizavam toalhas com substância nutritivas para fazer sua higiene. Quando o cosmonauta queria fazer suas necessidades, ele era amarrado na privada. Os resíduos sólidos era armazenado em sacos para ser eliminados depois, mas a urina era reciclada.
A rotina dentro da Mir era dividida em 3 turnos de 8 horas. Os cosmonautas dedicavam 8 horas por dia ao desenvolvimento de experimentos, observação da Terra e outras atividades científicas. 8 horas eram dedicadas à manutenção da estação espacial, revisando toda a estação, e outras 8 horas são dedicadas ao descanso, lazer e alimentação. Este cronograma podia mudar de acordo com as necessidades. Era possível fazer de 7 a 8 experimentos por dia. Apenas 13% da manutenção da estação exigia operação manual, o resto podia ser feito de maneira automática.
Para comer, os cosmonautas injetavam água fervida dentro dos sacos onde a comida é acondicionada, pois a comida era desidratada. Fumar não era permitido na estação.
Como passatempo, os cosmonautas podiam ficar observando a Terra, ouvindo música em CDs ou fitas, assistindo fitas de vídeo (havia um compartimento com um monte delas);.Também era possível se comunicar com a família, com a equipe de apoio, bem como com radio amadores.
O computador que controlava as operações da Mir foi desenvolvido no período entre 1978 e 1984 por uma empresa denominada Zenlograd. A função do computador era controlar os denominados gyrodines, giroscópios utilizados para orientar a posição da estação, além da energia elétrica, painéis solares, motores, e comunicação com a Terra. Ele era um computador do tipo Argon 16-B, utilizado em naves não tripuladas, uma versão mais atualizada dos computadores utilizados na estação Salyut 5. Este computador controlava um sistema de aproximação e acoplamento denominado Igla, utilizado em naves da década de 70, e Kurs, utilizado em naves da década de 90. Podia-se conectar computadores laptops no computador da Mir, utilizando slots PCMCIA, para copiar os dados dos experimentos, mas as conexões falhavam às vezes. O computador da Mir possuía cerca de 900 indicadores e displays. Em cada módulo, existiam cerca de 350 displays e indicadores.
A estação possuía 12 giroscópios de orientação, sendo 6 no módulo Kvant e 6 no módulo Kvant 2. Cada módulo possuía seus próprios sistemas de controle, que podem trabalhar em conjunto com toda a estação. A estação era capaz de acoplar com naves que utilizem 2 sistemas de acoplamento, o Igla e o Kurs. O Igla é um sistema desenvolvido na década de 70, que começava a operar numa distância de 25 kilômetros da estação, em qualquer ângulo. O Kurs, mais avançado, desenvolvido na década de 90, começa a operar de uma distância maior, ou seja, 180 Kilômetros. Mais de 130 acoplamentos foram realizados. A Mir possuía também um acoplador para naves com até 100 toneladas, localizado no módulo Kristall, e que seria utilizado para acoplar o ônibus espacial russo Buran. Acabou sendo utilizado para instalar o adaptador Shuttle Docking Module, utilizado para acoplar os ônibus espaciais norte americanos.
DESCRIÇÃO DAS OPERAÇÕES
A Mir recebeu a primeira visita de cosmonautas em 1986, quando a tripulação da Soyuz T-15 que estava na estação espacial Salyut 7 foi até a nova estação. Este foi o primeiro vôo entre 2 estações. Seus primeiros tripulantes foram Vladimir Soloviov e Leonid Kizim.
Como foram 15 anos de histórias, seria muito extenso descrever todas as atividades feitas, então falaremos apenas de ponto relevantes da história da Mir.
A primeira tripulação foi lançada numa versão atualizada da Soyuz, chamada Soyuz TM-2 em 6 de fevereiro de 1987, acoplando no dia 8 com Yuri Romanenko, veterano das missões Soyuz 26 e 38 e o debutante Alexander Laveikin. Foram eles que começaram os trabalhos de investigação na estação.
Eles receberiam o módulo Kvant-1. Por problemas no acoplamento desde módulo, por causa de restos plásticos no acoplador, tiveram que fazer a primeira caminhada espacial (EVA); em 12 de abril, gastando 3 horas e 40 minutos nesta tarefa.
O recorde de permanência no espaço foi batido neste ano por Yuri Romanenko e Alexander Laveikin, que permaneceram 327 dias em órbita.
A Soyuz TM-6 foi lançada em 29 de agosto de 1988, transportou o primeiro afegão ao espaço. Foi um vôo claramente político, visto que a URSS ocupava o país. Seus integrantes eram Vladimir Lyakov (Soyuz T-9); y os debutantes Valery Poliakov e o afegão Abdul Mohmand.
Os cosmonautas Vladimir Lyakhov e Abdul Mohmand, ao retornar na Soyuz TM-5 depois de 6 dias no espaço, tiveram seus maus momentos no espaço, em 6 de setembro de 1988. Após transportar o médico Valery Polyakhov para a estação espacial Mir, eles retornaram para a Terra. Na primeira tentativa de pouso, o computador desligou o motor automaticamente, devido à interferência da luz do Sol nos sensores infravermelhos de orientação da nave. Na segunda tentativa, foi feita uma tentativa manual, feita pelo cosmonauta Lyakhov. O cosmonauta desacelerou a nave demais, e ela não conseguiu entrar na atmosfera. 21 horas depois da segunda tentativa, a Soyuz conseguia retornar de volta a Terra, aterissando a 180 km ao leste de Dzhezkazgan, na Ásia central
Neste ano, os cosmonautas da Soyuz TM 4, Anatoly Levctchenko, Musa Manarov e Vladimir Titov, quebrariam novamente o recorde de permanência no espaço, ao permaneceram 366 dias no espaço.
A Soyuz TM-7 levou Alexander Volkov (Soyuz T-14);, Sergei Krikalev e o francês Jean Loup Chretién, já tinha ido ao espaço antes e que seria o primeiro não russo a ficar um mês no espaço e realizar uma caminhada espacial. Ele voltaria na Soyuz TM-6 após 24 dias, e a Soyuz TM-7 voltaria em 27 de abril de 1989. Problemas financeiros atrasaram a entrega do segundo módulo, o Kvant 2, então a estação ficou 5 meses desabitada.
A Soyuz TM-8 voltaria para a Mir em 5 de setembro de 1989, tripulada por Alexander Viktorenko y Alexander Serebrov; Viktorenko é o primeiro cosmonauta que visita a MIR pela segunda vez (Tinha sido tripulante da Soyuz TM-3);. Serebrov participou das missões T-7 (Salyut 7); y na malsucedida T-8. Em 6 de dezembro, receberiam o módulo Kvant-2. Em 26 de janeiro de 1990, os cosmonautas testam um sistema de caminhada autônomo chamado SPK.Ele foi testado por 3 vezes, mas os cosmonautas das missões seguintes acharam melhor usar gruas com braços telescópicos chamadas Strela para se deslocar pelo exterior da estação.
No dia 11 de fevereiro de 1990, seria lançada a Soyuz TM-9 tripulada por Anatoly Soloviov e Alexander Balandín, que realizava seu primeiro vôo. O acoplamento foi acidentando, danificando uma pequena parte do escudo térmico da nave Soyuz. Esta tripulação receberia o módulo Kristall em 10 de junho, e em 17 de julho faria os reparos no escudo térmico de sua nave, após receber peças de reposição enviadas por um cargueiro Progress. Foram necessárias 2 caminhadas para reparar o escudo. Apesar disso, ao voltar, o reingresso foi controlado desde Terra, pois os giroscópios da Soyuz não haviam sido totalmente reparados.
Durante a permanência na MIR, os cosmonautas fotografaram 21 milhões de kilômetros quadrados de superfície terrestre y produziram 23 cristais em estado totalmente puro.-
Os cosmonautas receberiam no dia 3 de agosto aos tripulantes da Soyuz TM-10, Guennady Strekalov e Guennady Manakov e no dia 9 de agosto Soloviov e Balandín regressariam na cápsula reparada.
Você já imaginou sair de um lugar e ao voltar, esse lugar não existir mais?. O cosmonauta da Soyuz TM 12, Serguei Krikalev e seu companheiro, Alexander Volkov, passaram por essa experiência. Ao serem lançados, em 18 de maio de 1991, eram cosmonautas soviéticos. Quando voltaram, em 1992, seu país simplesmente não existia mais. Agora a ex-União Soviética, extinta no natal de 1991, era a Comunidade dos Estados Independentes (CEI);. Os insólitos cosmonautas tiveram os seus 15 minutos de fama. Apesar de extinta, a bandeira soviética continuaria no exterior da Mir
A Pepsi faria em 1991 o seu primeiro comercial espacial dentro da estação. Vários outros comerciais seriam feitos, como o da Freixenet,onde o cosmonauta Valery Polyakov seria protagonista de um longo anuncio de 22 minutos. A famosa empresa espanhola Chupa Chups, conhecida pelos seus pirulitos em todo o mundo, também faria um comercial em 1998.
A crise oriunda da desintegração da URSS e o interesse americano em ter uma estação espacial abriram novas oportunidades para a Mir. Em 1992, Brian Albert. Brian Albert, diretor do National Space Council, chamou a George Abbey. Ele propôs a idéia de retomar o intercambio entre astronautas e cosmonautas de ambas nações. Albert comentou a idéia com o administrador da NASA, Daniel Goldin, que aceitou a idéia com muito entusiasmo.
Graças a Abbey, o projeto de uma estação espacial da NASA se salvou ao incluir aos russos no consórcio de nações participantes. Desta forma nasceu a ISS, tendo como programa prévio o programa Shuttle-MIR.
Como início do programa conjunto, o russo Serguei Krikalev, faria parte da tripulação STS-60, em 1994. O último vôo conjunto entre russos e americanos havia sido em 1975, no histórico vôo entre a Apollo 18 e a Soyuz 19. Este seria o último vôo de uma cápsula norte americana. Em 12 de junho de 1994 pela primeira vez um ônibus espacial de aproximaria da estação espacial russa.
Neste mesmo ano, o médico cosmonauta Valery Polyakov, da Soyuz TM 18, começaria a sua longa permaneceria de 438 dias no espaço, quebrando novamente o recorde de permanência em órbita. Ele retornaria no ano de 1995.
No ano anterior, em fevereiro de 1993, a Mir foi palco de uma interessante experiência.Um espelho de 25 metros de diâmetro acoplado num satélite cargueiro Progress chamado Znamya (estandarte); seria utilizado para tentar iluminar uma área da Terra com até 5 kilômetros de diâmetro, com uma luminosidade equivalente a 4 luas cheias. A experiência falhou pois o espelho não abriu corretamente. Uma nova experiência foi feita em 1999, mas desta vez devido a uma haste presa, o espelho não conseguiu ser aberto.
Em 14 de março de 1995 seria lançada a nave Soyuz TM-21, levando a histórica tripulação Mir 18 integrada pelo comandante estreante Vladimir Dezhurov, o engenheiro Guennadi Strekalov veterano de missões anteriores e o astronauta da NASA, o médico, Norman Thagard, o primeiro "astrocosmonauta" da história e veterano de missões anteriores do ônibus espacial. Esta tripulação receberia também o módulo Spektr em 01 de junho.
No dia 30, ocorre o primeiro acoplamento entre a Mir e um ônibus espacial, o Atlantis, transportando a tripulação STS-71. Os astronautas americanos seriam transportados e trazidos de volta a Terra pelos ônibus espaciais. Até 1998 os astronautas americanos seriam uma presença constante na Mir.
Os americanos mandaram para a Mir uma astronauta, Shannon Lucid, que bateu o recorde de permanência espacial norte americano. Isto não estava planejado, mas devido a atrasos ocorridos com um furacão na Flórida que atrasou o lançamento do ônibus espacial, o recorde pode ser quebrado. Ao retornar em 26 de setembro de 1996, após permanecer 188 dias do espaço, conseguiu descer do ônibus espacial sozinha e foi recebida pelo presidente norte americano Bill Clinton
A vida dos cosmonautas da Mir no ano de 1997 não foi nada fácil. Temperaturas baixas, qualidade do ar não muito boa, noites de sono interrompidas pelos alarmes e o fantasmagórico ranger provocado pela fricção entre as juntas dos diversos módulos da enorme estrutura de alumínio de mais de cem toneladas. Além de estar além de sua vida útil projetada, este ambiente contribuía para deixar as tripulações com fadiga, tensão e excesso de trabalho.
Os defeitos da estação e as trapalhadas da tripulação fizeram deste ano um inferno. Um dos cosmonautas desligou por acidente o cabo de força do computador que controlava a orientação da nave e por causa disso os painéis solares não captaram força para manter todos os sistemas funcionando. Ficaram as escuras. Quando resolveram a desagradável situação e estabeleceram contato com a Terra, tiveram que ouvir uma longa bronca do controle em terra.
O ano de 1997 foi muito tumultuado para a Mir. Em 24 de fevereiro aconteceria um incêndio na estação quando um galão de ar explodiu por defeito de fabricação. Durante um certo tempo, eles tiveram que ficar com máscaras antigás. "Enquanto um acionava o tanque, o outro segurava o extintor, contou o astronauta americano Jerry Linenger, na Mir desde janeiro. O incêndio demorou 14 minutos para ser contido com um extintor e uma toalha. Para piorar, o fogo bloqueava o único caminho em direção a cápsula Soyuz, a única forma de deixar a estação.
Em março, os dois sistemas de geração de oxigênio quebraram, obrigando a tripulação a recorrer a galões, que estavam sob suspeita de estar com defeito. Os cosmonautas consertaram um dos sistemas, e um outro foi trazido por uma equipe norte-americana. Um vazamento no sistema de controle de temperatura, em abril, elevou a temperatura da estação. O líquido anticongelante que vazou pode ser nocivo. O vazamento foi consertado. A tripulação passou dias tossindo, com nariz entupido e olhos lacrimejantes.O vazamento no sistema de controle de temperatura, em abril, danificou também o sistema de purificação de ar. A tripulação recorreu a um sistema alternativo, antes de consertar o original
Mas um dos piores acidentes já acontecidos em órbita estava por acontecer. A tripulação composta pelos russos Tsibliev e Lazutkin, e pelo norte americano Michael Foale sofreram em agosto de 1997 uma colisão com o cargueiro Progress M-34, que despressurizou parte do módulo Spektr. Pela colisão, a tripulação foi multada, pois foram tidos por responsáveis pelo acidente.
O choque com o cargueiro Progress abriu um buraco de 3 centímetros no módulo Spektr e eliminou 40% do suprimento de força da estação. Apesar dos acoplamentos serem automáticos, eles podem ser controlados pela tripulação, e o comanda Vassili Tsibliev fez o cargueiro acidentalmente bater na estação.
Muitos acidentes ocorreram na Mir, desde banheiros entupidos, incêndios, perda de força e até a estação chegou a ficar totalmente sem controle. Estes problemas ocorriam por 2 motivos principais, o primeiro era que a estação havia sido feita para uma vida útil de 5 anos, a outra é que os russos não tinham dinheiro suficiente para fazer uma manutenção adequada. Nos Estados Unidos, as opiniões se dividiam entre continuar a mandar astronautas para a Mir, ou não. Apesar dos problemas, o programa conjunto continuou até o ano seguinte.
O programa espacial russo também sofria de velhas manias soviéticas, a mania de segredo baniu os manuais impressos e obrigava as tripulações a conhecer todos os procedimentos. Certa vez, durante o ano de 1996, ninguém soube dizer para a tripulação o que era um pedaço de equipamento encontrado dentro da estação.
A mídia não perdia tempo para atacar o maltratado programa espacial russo. Os cosmonautas quando voltaram a Terra disseram que estavam sendo usados como bodes expiatórios pela agência espacial para esconder seus erros. Entre outras coisas, também disseram que havia uma garrafa de conhaque "para os momentos de stress". Tomar conhaque também era um costume de outras tripulações, mesmo antes da Mir. O problema era que os momentos de stress da Mir não foram poucos.
O programa Shuttle-Mir fez a NASA ganhar uma valiosa experiência para implementar a ISS. Vários pontos negativos foram detectados bem como sugestões foram feitas, entre eles a limitação das atividades científicas americanas devido a problemas de comunicação com as equipes de controle em terra. Sobre a agenda diária, foi sugerido que deveria ser feita pelo controle em terra e não pela tripulação. Também foi sugerida a criação de um inventário de todo o equipamento disponível, é um maior treinamento nos sistemas russos, visto que a Rússia limitou o acesso a detalhes técnicos sobre seus sistemas, bem como deu treinamento mínimo para os reparos e não qualificou os astronautas para pilotar as naves Soyuz. Foi sugerido que o inglês fosse o idioma utilizado para as operações da ISS, visto que na Mir a compreensão do russo garantia um trabalho seguro.
Quando a tripulação da Soyuz TM-29 retornou em 28 de agosto de 1999, os sistemas da estação foram colocados em modo automático.Não se tinha certeza se haveriam outras missões. A Rússia não podia dividir seus escassos recursos para manter a Mir e o novo projeto da estação espacial internacional (ISS);. A Mir seria mantida por recursos privados. O cosmonauta Serguey Aydeyev ao retornar desta missão junto com seu colega Afanasyev e a astornauta francesa Claudie Haignere, somaria 747 dias no espaço, em 3 missões.
Para a agência espacial russa, esta tripulação que retornou, também conhecida como Mir-27, seria a última, mas graças à empresa holandesa MirCorp, que depositou 20 milhões de dólares nos cofres russos, a aposentadoria da Mir prevista para março de 2000 foi adiada.
Apesar dos protestos da NASA, uma nova missão seria lançada. A Soyuz TM-30, tripulada por Sergei Zalyotin y Alexander Kaleri, com uma permanência estimada de 45 dias, ampliada para 90 se houvessem mais recursos. Eles permaneceram 72 dias no espaço, retornando em 15 de julho de 2000. Esta seria a última tripulação.
Durante esta missão foi feita a primeira caminhada espacial paga com fundos privados. O objetivo era buscar o ponto danificado pelo acidente de 1997, bem como revisar o exterior da estação. Foram encontradas marcas de curto circuito no módulo Kvant. A Mir estava perdendo pressão, mas o ponto de fuga não foi localizado.
Em outubro de 2000 foi lançada o cargueiro Progress M-43 com suprimentos para uma nova tripulação. A dificuldade da MirCorp em conseguir dinheiro para manter as operações da Mir fizeram a agência espacial russa decretar a morte da Mir, e derrubar a gloriosa estação no início de 2001.
Estava planejada a viagem para a Mir do primeiro turista espacial, o norte americano Dennis Tito. Devido ao final das atividades da estação, seu vôo acabou sendo para a nova ISS, o que causou protestos por parte da NASA.
CURIOSIDADES
A estação espacial russa esteve 5487 dias no espaço, durante todo este tempo foi visitada por 104 astronautas que tiveram que resolver 3 mil problemas, ou um a cada dois dias. Quinze anos no espaço, 104 astronautas de visita, 26 mil experimentos e 78 caminhadas espaciais daria para escrever vários livros sobre as aventuras da estação espacial.
Os custos da mir segundo a agencia espacial russa foram de 4,3 bilhões de dólares, desde o desenvolvimento até a sua derrubada no Oceano Pacífico. Foram 15 anos de operação, e 10 anos de desenvolvimento (de 1976 a 1986); o que totaliza um quarto de século. Centenas de departamentos e milhares de empregados ajudaram a construir e manter esta fantástica espaçonave.
A estação transportava 10 toneladas e meia de equipamentos, com um valor estimado entre 80 a 90 milhões de dólares. A Mir era um laboratório integrado desenvolvido para trabalhar em determinadas áreas. Foi desenhado para ser operado pelos cosmonautas, e portanto, seus experimentos apenas eram úteis se houvesse uma tripulação para utilizá-los.
A utilização internacional da Mir rendeu para a Rússia cerca de 1 bilhão de dólares. Aproximadamente de 45 a 47% do dinheiro utilizado para manter a Mir no período de 1994 a 2000 veio de projetos internacionais.
Foi a primeira estação espacial internacional, onde os russos foram minoria, e abrigou experimentos feitos em vários países.
Foi permanentemente ocupada durante 10 anos (1989-1999);. A estação percorreu o equivalente a 3,5 bilhões de kilômetros.
A Mir foi muito mais utilizada do que todas as suas predecessoras juntas (Salyut 1, Skylab, Salyut 3, Salyut 4, Salyut 5, Salyut 6, e Salyut 7);.
Foi montada através de técnicas modulares, da mesma forma que hoje é montada a ISS. Provou que grandes estruturam podem ser construídas, e que se pode destruir uma estação espacial de grande porte com total segurança.
A Mir foi desenhada para receber a visita de ônibus espaciais russos. Por ironia do destino, os Shuttle americanos acoplaram com a estação 9 vezes.
Demonstrou-se como trabalhar melhor no espaço, como viver longos tempos em órbita (o recorde de 437 dias foi obtido dentro da Mir, e houve cosmonautas que permaneceram mais de 2 anos a bordo);
Graças a Mir, sabemos que o homem pode suportar o tempo de viagem da Terra a Marte
A Mir demonstrou que só existe uma forma de aprender no espaço. Através da própria experiência.
A colaboração com o ocidente, também ensinou muitas coisas para os russos. Ensinou que o programa espacial também deve ser levado de forma "empresarial", ou seja, visando lucro. Boa parte dos experimentos da Mir acabou sendo perdida num oceano de laboratórios, institutos e burocracia, e nunca emergiram como aplicações comerciais.
A rede TacoBell, especializada em comida mexicana (tacos); fez uma promoção aproveitando-se do triste fim da estação espacial Mir. Ela instalou uma lona de 140 metros de comprimento localizada a 15 Km do litoral da Austrália. Ela disse que se algum fragmento da Mir caísse dentro da lona, ela daria tacos de graça para qualquer pessoa nos EUA. Para sua felicidade, nenhum fragmento da estação caiu na lona.
A temperatura dentro da estação Mir era de 80 graus F dentro do módulo principal, e variava nos demais, chegando a 60 graus Fahrenheit no módulo Kristall. A temperatura no espaço, em órbita baixa, varia de -200 graus a 200 graus centígrados.
Um dos primeiros experimentos feitos em órbita foram com codornas. Não foi fácil fazer as aves nascerem. No final elas nasceram, mas além de voar elas faziam as suas necessidades. Surgiu um problema: O aspirador feito para recolher os excrementos não funcionava.
Um dos incidentes mais desagradáveis foi protagonizado por Valeri Kirzun e Alexander Karelin, junto com seu colega da Nasa, John Blaha quando em 1996 quando o aparelho de reciclagem de detritos orgânicos entupiu. Os containeres que armazenavam os detritos estavam cheios. A tripulação foi orientada a bombear os dejetos manualmente, mas a bomba manual que deveria estar a bordo não existia. O esgoto demorou a ser desentupido 1 mês, pois os equipamentos necessários foram enviados no cargueiro Progress M-33.
Baseado nas profecias de Nostradamus, o estilista Paco Rabanne tentou convencer ao mundo de que a Mir cairia sobre Paris em 1999. Ele mesmo fechou suas lojas e oficinas, provocando uma escalada de pânico que exigiu a interferência do governo francês.
As investigações das mudanças produzidas na falta de gravidade no ser humano foram vitais para preparar os programas de reabilitação de astronautas quando voltam para as condições terrestres. Estes trabalhos foram no começo clandestinos. Os primeiros equipamentos para isso foram levados ao espaço de contrabando, sem que fossem inspecionados pelos militares do polígono de Baikonur. Isso foi por causa da filosofia dos responsáveis do programa espacial: "Minhas naves devem voar, os acoplamentos devem ocorrer sem problemas e os cosmonautas não devem morrer nas missões. Sobre a ciência, ela pode esperar".
A Mir teve um papel estelar no filme Armaggedon: para destruir um meteoro que se dirigia para a Terra, foram enviadas dois ônibus espaciais ao espaço que deveriam fazê-lo explodir. No filme os ônibus espaciais se acoplam na Mir para recarregar combustível, porem os comandos da estação não funcionam. Um dos protagonistas dá um golpe no painel de controle é tudo começa a funcionar. A Mir pode não ter ficado bonita no filme, mas sem ela teria sido impossível destruir o ameaçador meteoro.
A ÚLTIMA ÓRBITA
A Mir foi derrubada num ponto predefinido do Oceano Pacífico em 23 de março de 2001, devido à falta de fundos para manter suas operações, e para concentrar os esforços russos na construção da ISS.
Quando em 1977 um satélite militar da série Cosmos movido a energia nuclear caiu no Canadá, a URSS pagou uma indenização de 6,5 milhões de dólares devido a dor de cabeça que este incidente causou. A Mir possuia uma cobertura de 200 milhões de dólares, em caso dela cair em algum lugar habitado. Felizmente, ela caiu no lugar previsto.
A manobra de destruição da estação foi feita em 23 de março de 2001, por um cargueiro Progress-M, acoplado a estação desde janeiro de 2001. Foi dividida em 3 partes:
Primeira manobra: 00:32:47 GMT. Duração de 22 minutos, terminou em 00:55 reduziu a velocidade da estação em 32 Km. O impulso dos motores foi 10 vezes mais fraco que o impulso utilizado pelo ônibus espacial para voltar para casa.
Segunda manobra: 22 minutos, modificou a órbita da estação para 159 x 217 Km, com ponto mais baixo sobre o local de queda.
Terceira e última manobra: 05:10 GTM, duração de 19 minutos Ao contrário da NASA, a agência espacial russa não emprega pessoal técnico para narrar as manobras o que atrasa o fluxo e a precisão das informações. A tensão entre os controladores era muito grande, pois nunca os motores de uma nave Progress haviam sido utilizados tanto tempo.
O controle da missão em Korolev calcula que as 5:44 GMT o objeto espacial número 16.609 (número que o comando de defesa espacial americano deu a Mir); alcançou os 100 Kilômetros de altura e começou a se desintegrar. As 05:56 GMT espectadores nas ilhas Fiji viram pedaços de grande tamanho da estação se dirigirem para o oceano. A Mir foi destruída ao completar a órbita 86330. A mãe de todas as estações espaciais deixou de existir.
Cerca de 20 toneladas devem ter sobrevivido à derrubada da estação. Quando a estação espacial americana Skylab caiu na Austrália, em 1979, foram recuperados 2 fragmentos pesando 1750 Kg e outros 300 fragmentos. Ela caiu de forma totalmente descontrolada, ao contrário da Mir.
"O fim das atividades da estação espacial foi comemorado de acordo com as tradições russas, com uma generosa dose de vodka", disse o chefe de balística do Centro de Controle Espacial, Nikolai Ivanov. O informe final foi destacado numa tela gigante no Centro de Controle, com as informações:
OK MIR - 8h57 (horário de Moscou);.
Lançamento 20-02-86
Queda 23-03-2001.
"A estação orbital Mir completou sua triunfal missão às 5h59 GMT. Foi algo sem precedentes na história da investigação espacial."
Essa foi à mensagem que os alto falantes do controle da missão transmitiram ao término das operações. O silêncio das centenas de pessoas, operadores, autoridades, cosmonautas e jornalistas foi à única resposta.
Assim terminava a história desta estação espacial russa. Talvez o que possamos desejar da ISS é que ela seja tão boa quanto a Mir.
EPILOGO
Do seu nascimento até sua morte, o mundo viveu uma revolução. O comunismo caiu, os rivais da guerra fria começaram a trabalhar juntos.
Para os russos, era o simbolo do glorioso império soviético, e do grande passado perdido. Para os americanos, a Mir foi uma ponte, um passo intermediário para a ISS. Olhando para trás, seus construtores devem sentir orgulho pelo seu sucesso. A historia da Mir nos ensinou que humildade e cautela são os caminhos do sucesso, mas excesso de confiança e descuido são o caminho do desastre.
A estação russa foi pioneira na cooperação internacional, abrigando cosmonautas de diversas nacionalidades. Os astronautas americanos permaneceram mais de 1000 dias na estação. O módulo de serviço da estação espacial internacional seria na realidade o módulo de uma nova estação russa, a Mir-2. Por fora, é uma cópia idêntica da Mir.
Os custos da mir segundo a agencia espacial russa foram de 4,3 bilhões de dolares, desde o desenvolvimento até a sua derrubada no Oceano Pacífico. Foram 15 anos de operação, e 10 anos de desenvolvimento (de 1976 a 1986); o que totaliza um quarto de século. Centenas de departamentos e milhares de empregados ajudaram a construir e manter esta fantástica espaçonave.
A estação transportava 10 toneladas e meia de equipamentos, com um valor estimado entre 80 a 90 milhões de dólares. A Mir era um laboratório integrado desenvolvido para trabalhar em determinadas áreas. Foi desenhado para ser operado pelos cosmonautas, e portanto, seus experimentos apenas eram úteis se houvesse uma tripulação para utilizá-los.
A utilização internacional da Mir rendeu para a Rússia cerca de 1 bilhão de dólares. Aproximadamente de 45 a 47% do dinheiro utilizado para manter a Mir no período de 1994 a 2000 veio de projetos internacionais.









