Computador da Mir está pronto para a manobra, diz Rússia

Enquanto a tensão aumenta no Pacífico Sul, russos afirmam que aparelhos vão controlar a queda na quinta-feira
Computador da Mir está pronto para a manobra, diz Rússia
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A equipe do Centro de Controle de Vôos Espaciais da Rússia "telefonou" ontem para a estação Mir, a fim de se certificar de que os computadores do complexo e da nave Progress _responsável pela manobra que deve acelerar a derrubada_ estejam operando.
O equipamento será crucial para o sucesso da missão de dar fim à estrutura de 15 anos, afundando-a no oceano Pacífico, em uma área entre a Nova Zelândia e o Chile (veja mapa à esquerda);, na quinta-feira _talvez um dia antes ou um dia depois, dependendo das condições meteorológicas.
Os controladores russos afirmam que tudo está em ordem para a manobra. O complexo perde atualmente cerca de 2,5 km de altitude por dia, graças ao arrasto atmosférico (atrito gerado pelo contato com as camadas superiores de ar, que reduz a velocidade do objeto em órbita);. Ontem a estação estava a 236 km da Terra. A altitude crítica para a manobra fica na casa dos 220 km.
Após o disparo da Progress, levará cerca de 45 minutos para que os destroços cheguem à superfície. Os russos esperam que os restos da estrutura _cerca de 40 toneladas, de um total de 140_ caiam longe de regiões habitadas.
Embora o procedimento já esteja bem testado com a reentrada de naves como a Progress, não há muita experiência com a derrubada de objetos maiores _e as poucas que existem não são boas.
A antecessora da Mir, a estação Salyut-7, foi derrubada pela Rússia em 1991. O destino de suas 40 toneladas era o mesmo da Mir, uma área remota do Pacífico Sul. Acabou caindo sobre a cordilheira dos Andes, na América do Sul.
A diferença é que a Salyut não contava com impulso extra para controlar sua descida. "Ela voltou à atmosfera sem qualquer manobra de freada, apenas pelo arrasto atmosférico", disse à Folha Alexander Sukhanov, pesquisador da Academia de Ciências da Rússia. O cientista está no Brasil, trabalhando no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais);.
Apreensão internacional
Levando em conta os precedentes, não é difícil de entender por que os países da região estão de prontidão para acompanhar a derrubada. A Austrália decidiu não depender apenas das informações liberadas pelos russos e montou uma equipe de especialistas para monitorar a reentrada.
O Chile vai interromper vôos sobre a região no dia da queda. A Nova Zelândia instruirá embarcações e aeronaves para que evitem o local no horário decisivo.
O Japão foi ainda mais radical. O governo está recomendando aos habitantes da ilha de Okinawa que não saiam de casa durante a derrubada. "Embora a chance da queda de objetos seja baixa, recomendaremos aos residentes que fiquem dentro de construções o máximo possível", informou um porta-voz do governo japonês.
Para os russos, a reação se mostra exagerada. Quando questionado se há necessidade de tais precauções, Sukhanov foi categórico: "Tenho certeza de que não".
A Rússia também não aprova o "oba-oba" sobre a derrubada da estação que está sendo feito nos EUA. Uma empresa da Califórnia fretou um avião para levar curiosos até a região da queda da Mir, contrariando recomendações de não sobrevoar a área.
"Essas pessoas parecem ser impulsionadas por um espírito de aventura, mas nós não recomendaríamos que elas fossem lá", diz Yuri Koptev, diretor da Rosaviakosmos (agência espacial russa);.
Além disso, há moradores de países da região que torcem para que a Mir caia em seu território. Tonga, uma pequena ilha no Pacífico, ainda não tomou posição oficial, mas Kik Velt, um astrônomo amador tonganês, vê com otimismo a chance de que um pedaço da estação se espatife por lá. "Se caísse em Tonga, poderíamos pedir uma compensação e ganhar muito mais do que Tonga já ganhou em muitos anos somados."
(SALVADOR NOGUEIRA);

Com agências internacionais