Tiro ao alvo

Tiro ao alvo
Delicada operação inicia a montagem da estação orbital

Na sexta-feira passada, o ônibus espacial Endeavour decolou na Flórida para dar início ao que a Nasa, a agência espacial americana, considera a mais complexa operação no espaço desde que colocou o primeiro homem na Lua. No compartimento de carga, o Endeavour leva o segundo módulo da futura estação orbital internacional, que funcionará como um grande laboratório científico, a mais de 300 quilômetros da superfície terrestre. É um projeto de proporções siderais: custará 40 bilhões de dólares, envolverá a junção de 50.000 peças enviadas ao espaço e levará cinco anos para ser concluído. A montagem desse gigantesco quebra-cabeça começou há duas semanas, quando um foguete russo despachou para a órbita da Terra o módulo Zarya, que será o captador de energia e transmissor de comunicações da futura estação. A tarefa dos astronautas do Endeavour é capturar o Zarya no espaço, com a ajuda de uma pinça robotizada, e acoplar nele o segundo módulo. Batizada de Unity, essa nova peça, com seis conexões para novos módulos, será um elo entre o Zarya e o resto da estação orbital.
Um exemplo da complexidade da operação apareceu já no lançamento do Endeavour, previsto inicialmente para a quinta-feira passada, quando uma multidão de curiosos e autoridades do governo americano acordou de madrugada para assistir à saída do foguete, no Cabo Canaveral. Para que o Endeavour pudesse alcançar o módulo Zarya em tempo e ângulo corretos, os cientistas calcularam que precisavam lançar o ônibus num intervalo de apenas dez minutos, a partir das 3h30 da manhã, com o tempo em perfeitas condições. Na quinta-feira, um alarme assustou os técnicos, que abortaram a operação, a apenas dezenove segundos do lançamento. No dia seguinte, no mesmo horário, o Endeavour conseguiu partir. Para chegar até o Zarya, calculava-se que o ônibus espacial teria de fazer uma série de evoluções, durante dois dias, até que o módulo russo ficasse ao alcance de seu braço mecânico.
Em seguida, começaria o trabalho de acoplar o Zarya à Unity. Quando as duas unidades estiverem juntas, dois astronautas deixarão por três vezes o ônibus espacial para fazer pelo lado de fora ligações e ajustes manuais. Ao todo, a missão levará doze dias. Além da delicadeza técnica, a construção da estação orbital sofre de outras complicações. Já começou a ser montada com um ano de atraso, em razão da crise econômica russa. Em apenas duas semanas ao redor da Terra, o módulo russo começou a pifar aqui e ali. Uma de suas oito baterias entrou em pane, bem como os componentes de uma das antenas. A umidade na cabine subiu acima do normal. Segundo o diretor da agência espacial russa Yuri Koptev, nenhum dos imprevistos afeta o vôo do módulo ou compromete a montagem da estação. É o que esperam os contribuintes dos dezesseis países participantes do projeto, entre eles o Brasil.


1 - Os cientistas tinham apenas dez minutos por dia para lançar o ônibus espacial no ângulo correto para alcançar o módulo russo Zarya, a 386 quilômetros de altitude

2 - Com um braço mecânico, os astronautas vão capturar o módulo russo para acoplá-lo ao americano Unity, transportado pelo ônibus espacial. A operação levará doze dias para ser concluída