Brasil revê participação na estação espacial

Brasil revê participação na estação espacial
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

As agências espaciais brasileira (AEB); e norte-americana (Nasa); estão revendo a participação do Brasil no projeto da Estação Espacial Internacional (ISS); devido a problemas financeiros do país.O ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, reafirmou ontem à Folha, em entrevista por telefone, de Lisboa, que o Brasil vai cumprir o acordo que firmou com o governo dos EUA."Estamos passando por dificuldades temporárias e resolvíveis. Precisamos adequar o compromisso assumido com a realidade financeira", disse Sardenberg, que participava do primeiro encontro de ministros de ciência dos países de língua portuguesa.O presidente da AEB, Luis Gylvan Meira Filho, que está em Paris, também falou com a Folha por telefone. Ele explicou que a Nasa o havia informado de que um dos equipamentos que o Brasil deve fornecer à ISS entrou no chamado "caminho crítico".Em engenharia, está no "caminho crítico" tudo aquilo que tem de estar pronto e entregue no momento previsto no cronograma, caso contrário todo o projeto sofrerá atraso irreversível.O equipamento em questão é um palete expresso para experimentos na estação espacial. Trata-se de um mecanismo de conexão utilizado para anexar pequenas cargas úteis a um segmento de armação fornecido pelos EUA.O palete é o item mais importante da série que o Brasil se propôs a fornecer, segundo usuários, empresas envolvidas e a comunidade científica. Seu projeto servirá de base para o desenvolvimento dos outros cinco equipamentos brasileiros para a ISS.Meira Filho afirma que sua proposta à Nasa será manter a participação do Brasil no mesmo patamar combinado. Há outros dois paletes expressos previstos para entrega posterior (o inicial precisa ser entregue em junho de 2001);. O Brasil pode assumir a responsabilidade por um deles.Outro "cenário interessante", segundo Meira Filho, é o Brasil manter seu compromisso com o primeiro palete expresso, mas deixar que suas partes iniciais, que precisam ser produzidas quase imediatamente, sejam fornecidas por empresas estrangeiras.Estão sendo feitas articulações nesse sentido. Mas, para essa possibilidade se concretizar, a verba para o projeto precisaria estar liberada em poucas semanas.O custo da participação do Brasil na ISS está orçado em cerca de US$ 150 milhões em cinco anos.Para 1999, o orçamento era de US$ 23 milhões, que não chegaram a ser destinados ao Ministério da Ciência e Tecnologia.O mais urgente, no entanto, é o pagamento de uma dívida de US$ 3 milhões, vencida em fevereiro, com a Boeing, por um contrato de consultoria para a produção dos equipamentos para a ISS.A Boeing foi a empresa escolhida pela Nasa para ser a responsável por toda a integração da estação espacial.Pela falta de pagamento, a Boeing interrompeu seu contrato com o Brasil em junho. Sem seu restabelecimento, é praticamente impossível o Brasil cumprir os compromissos que assumiu.O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe);, Márcio Nogueira Barbosa, disse à Folha por telefone, de São José dos Campos (SP);, que o importante foi o Brasil ter reafirmado à Nasa que não vai deixar o projeto.Mas a Folha apurou que há grande ceticismo entre os dirigentes da agência espacial norte-americana sobre a capacidade de o Brasil, de fato, cumprir os seus compromissos com ela.