A MISSÃO

A MISSÃO
A primeira missão tripulada a Marte servirá para responder a uma pergunta elementar: podem humanos viver adequadamente e por longos períodos na superfície do planeta vermelho? É quase um consenso que não será possível levar todos os suprimentos necessários a grandes expedições àquele mundo. Como os antigos exploradores de nosso planeta, os futuros astronautas terão de viver "do que a terra dá". Felizmente, Marte parece ser um local cheio de recursos. Leituras obtidas em 2002 pela sonda Mars Odyssey mostraram que há água, congelada, no subsolo. Ela poderia ser revertida em importante recurso para os astronautas alocados na superfície _além de ser consumida pela tripulação, também pode virar combustível (hidrogênio); e ar respirável (oxigênio);, se suas moléculas forem quebradas em seus componentes básicos, via corrente elétrica (processo conhecido como eletrólise da água);. Zubrin também sugere, em seu plano "Marte Direto", que uma unidade de processamento da atmosfera misture o rarefeito ar marciano a uma pequena quantidade de hidrogênio enviada da Terra para produzir metano e oxigênio. Com eles, seria possível não só abastecer o veículo de retorno com o combustível necessário para a viagem, mas também alimentar um jipe pressurizado a ser usado pela tripulação para fazer longas travessias pelo solo marciano (veja na ilustração da capa);.
Além disso, o período de rotação marciano também ajuda. O dia lá dura 24 horas e 37 minutos, bem próximo do padrão terrestre. Não haverá, portanto, muito sofrimento com "jetlag interplanetário" para os astronautas. Aliás, hoje, durante as missões com os jipes robóticos Spirit e Opportunity, os responsáveis em terra já vivem pelo relógio marciano, o que demonstra a relativa facilidade com que humanos podem se adaptar a esse ritmo de vida. Os alimentos para consumo na superfície, em princípio, serão todos enviados da Terra. A comida deve ser algo parecido com o que alimenta as tripulações atualmente na Estação Espacial Internacional _pastas com diversos sabores, que precisam ser hidratadas e colocadas num microondas antes de consumidas. É quase um "miojo espacial", mas em forma de papinha. (E você que pensava que os astronautas viviam de pílulas...); Com o tempo, as tripulações iniciarão experimentos para introduzir a agricultura hidropônica em marte, com o objetivo de produzir sustento alimentar ali mesmo.
Será um dos muitos testes que determinarão as possibilidades de uma futura colonização. Ainda que sobreviver seja a principal tarefa diária da tripulação, haverá um bocado de tempo para satisfazer aos milhares de cientistas que estarão na Terra salivando por novos dados com que trabalhar. Ansiosos por decifrar os segredos geológicos, eles contam com os astronautas para obter informação numa escala e com uma qualidade jamais permitidas por missões robóticas. "Exploração geológica é muito difícil com missões robóticas no ritmo que pessoas têm conseguido fazer aqui na Terra", explica James Garvin, cientista-chefe do Programa de Exploração de Marte da Nasa. "Por exemplo, um tempo atrás visitei a ilha Surtsey (Islândia); para filmar algumas cenas do tipo 'Marte na Terra'. Em apenas sete horas, quatro de nós fomos capazes de explorar a geologia memorável, de nos adaptar ao que observávamos, de filmar e voltar à base. O que fizemos em sete horas só poderia ser feito em muitos, muitos meses por laboratórios robóticos de próxima geração, e o acesso aos pontos que eu escalei para coletar algumas rochas não teria sido possível." E a qualidade humana se torna ainda mais importante se a pesquisa não for de geologia, mas de biologia. Há muita gente que acha extremamente complicado identificar, sem margem para dúvidas, a existência de vida em Marte, a não ser com pessoas lá para fazer experimentos, medições e observações in situ.
O jipe pressurizado permitirá que os astronautas façam longas travessias e passem alguns dias "fora de casa". Além disso, haverá também um módulo-laboratório (similar ao de habitação, que pode abrigar a tripulação permanentemente em situação de emergência); para a condução de testes e experimentos. Serão dois meses de muito trabalho, que darão ao pessoal na Terra dados suficientes para décadas de futura pesquisa.