O importante é prosseguir com o programa espacial
O importante é prosseguir com o programa espacial
MARCOS CESAR PONTES ESPECIAL PARA A FOLHA
Em fevereiro, completo 23 anos de serviço como piloto da Força Aérea, cinco dos quais dedicados exclusivamente ao projeto da participação brasileira na ISS (Estação Espacial Internacional);. Nessa carreira, tive inúmeros momentos felizes, vi coisas que mesmo a mais moderna das câmeras não poderia captar, conheci muitos amigos para a vida, companheiros de verdade. Infelizmente, nossa atividade é algo estranha, maravilhosa na maior parte do tempo, implacável em algumas delas. Amigos se vão, partem do dia para a noite como nuvens no céu. Ficam as saudades, os sonhos, os ideais. Todos já perdemos amigos e ídolos, como Ayrton Senna e Madre Tereza. Não há muito que possamos fazer quanto a isso. Nós, que ficamos, sentimos. Podemos tentar não ter ídolos ou amigos. Há alguns meses, perdi sete amigos no ônibus espacial Columbia. Triste dia, espetáculo de luzes no céu. Sete linhas de esperanças e ideais traçadas para sempre na memória. Eles se foram _com honra, pois sabiam a todo momento que temos uma responsabilidade com o futuro. Cada um de nós _aqueles que têm a coragem de conhecer e de enfrentar suas imperfeições e encarar seus estreitos limites_ sabe que, independentemente de qualquer consequência sobre nós mesmos, o importante é prosseguir em frente, pois é desse sentimento que se faz o futuro.
Poucas coisas temos nessa vida. Pessoas, sentimentos, ideais, um país. O Brasil é o nosso país. Um país feito de gente, uma nação. Infelizmente muitas vezes só conseguimos enxergar sua beleza completa à distância. Temos problemas. Mas não somos apenas os problemas, somos também parte das soluções. Temos dentro de nós algo muito mais forte, algo muito maior: somos brasileiros. O Brasil é o nosso país. Pode não ser ainda o país que sonhamos _e tomara que nunca seja, pois temos de sonhar cada vez mais alto e trabalhar para fazer do país que temos algo cada vez mais parecido com aquele que sonhamos. O que nos faz fortes é a união. É essa idéia que vai nos levar a um futuro melhor.
Hoje, novamente me vejo na mesma situação de alguns meses atrás, quando do acidente do Columbia. Indiferente a todas as incertezas de continuidade da participação brasileira na ISS Estação Espacial Internacional pelo baixo orçamento resultante da baixa prioridade do projeto no MCT, mesmo sabendo que isso pode matar o ideal de levar a bandeira brasileira ao espaço, o que nesse instante impera no pensamento é apenas um sentimento de perda, acompanhado de uma vontade incontida de superar todas as dificuldades e vencer _mostrar a todo mundo que o Brasil é muito mais que isso. Com a explosão do terceiro protótipo do VLS-1, o Brasil perdeu 21 heróis que sonharam e lutaram para realizar algo de concreto que ficasse para as gerações futuras. Não tramando com palavras sutis e críticas, como os incompetentes e amedrontados costumam fazer, mas trabalhando com competência, dedicação e muito suor. O Brasil não vai parar de viver pela morte deles, mas é bom que nunca esqueçamos que eles pararam de viver pelo Brasil. Todas as coisas grandiosas são feitas à custa de grandes sacrifícios.
Essas pessoas, que deram suas vidas pelo programa espacial brasileiro, nunca formaram fila com os críticos, com os pobres de espírito e com os inertes, que nunca realizaram nada por medo de errar. Eles foram em frente e fizeram _sob o risco de errar, mas com a glória de ter lutado pelos seus ideais. O programa espacial vai simplesmente continuar. Simplesmente porque não existe outro caminho. Porque o meu país não é um país covarde. Porque cada linha na nossa bandeira tem um significado. Porque somos grandes demais para aceitar qualquer pensamento menor. Porque somos brasileiros. Finalmente, falando em nome de cada um de nós, que vive essa realidade a cada dia, eu digo que não devemos parar o país por isso, mas poderíamos tomar alguns instantes das nossas vidas corridas e oferecer, do nosso próprio jeito, na nossa própria religião, uma prece para as famílias das vítimas e para aqueles que deram a vida pelos nossos ideais. Mesmo que não os conheçamos, compartilhamos com eles algo que nunca deveria ser esquecido: o amor pelo Brasil e o desejo de fazer desse país não "o país do futuro", pois já estamos cansados de ouvir essa conversa, mas o país do presente, com tudo o que nós e nossos filhos temos direito.
Lembro que, há alguns meses, me perguntaram como eu estava me sentindo. Acho que agora todos sabem, pois devem estar sentindo a mesma coisa. O major-aviador Marcos Cesar Pontes, 40, engenheiro aeronáutico e piloto da Força Aérea Brasileira, participa de treinamento na Nasa, em Houston (EUA);, para se tornar o primeiro astronauta brasileiro a ir para o espaço
MARCOS CESAR PONTES ESPECIAL PARA A FOLHA
Em fevereiro, completo 23 anos de serviço como piloto da Força Aérea, cinco dos quais dedicados exclusivamente ao projeto da participação brasileira na ISS (Estação Espacial Internacional);. Nessa carreira, tive inúmeros momentos felizes, vi coisas que mesmo a mais moderna das câmeras não poderia captar, conheci muitos amigos para a vida, companheiros de verdade. Infelizmente, nossa atividade é algo estranha, maravilhosa na maior parte do tempo, implacável em algumas delas. Amigos se vão, partem do dia para a noite como nuvens no céu. Ficam as saudades, os sonhos, os ideais. Todos já perdemos amigos e ídolos, como Ayrton Senna e Madre Tereza. Não há muito que possamos fazer quanto a isso. Nós, que ficamos, sentimos. Podemos tentar não ter ídolos ou amigos. Há alguns meses, perdi sete amigos no ônibus espacial Columbia. Triste dia, espetáculo de luzes no céu. Sete linhas de esperanças e ideais traçadas para sempre na memória. Eles se foram _com honra, pois sabiam a todo momento que temos uma responsabilidade com o futuro. Cada um de nós _aqueles que têm a coragem de conhecer e de enfrentar suas imperfeições e encarar seus estreitos limites_ sabe que, independentemente de qualquer consequência sobre nós mesmos, o importante é prosseguir em frente, pois é desse sentimento que se faz o futuro.
Poucas coisas temos nessa vida. Pessoas, sentimentos, ideais, um país. O Brasil é o nosso país. Um país feito de gente, uma nação. Infelizmente muitas vezes só conseguimos enxergar sua beleza completa à distância. Temos problemas. Mas não somos apenas os problemas, somos também parte das soluções. Temos dentro de nós algo muito mais forte, algo muito maior: somos brasileiros. O Brasil é o nosso país. Pode não ser ainda o país que sonhamos _e tomara que nunca seja, pois temos de sonhar cada vez mais alto e trabalhar para fazer do país que temos algo cada vez mais parecido com aquele que sonhamos. O que nos faz fortes é a união. É essa idéia que vai nos levar a um futuro melhor.
Hoje, novamente me vejo na mesma situação de alguns meses atrás, quando do acidente do Columbia. Indiferente a todas as incertezas de continuidade da participação brasileira na ISS Estação Espacial Internacional pelo baixo orçamento resultante da baixa prioridade do projeto no MCT, mesmo sabendo que isso pode matar o ideal de levar a bandeira brasileira ao espaço, o que nesse instante impera no pensamento é apenas um sentimento de perda, acompanhado de uma vontade incontida de superar todas as dificuldades e vencer _mostrar a todo mundo que o Brasil é muito mais que isso. Com a explosão do terceiro protótipo do VLS-1, o Brasil perdeu 21 heróis que sonharam e lutaram para realizar algo de concreto que ficasse para as gerações futuras. Não tramando com palavras sutis e críticas, como os incompetentes e amedrontados costumam fazer, mas trabalhando com competência, dedicação e muito suor. O Brasil não vai parar de viver pela morte deles, mas é bom que nunca esqueçamos que eles pararam de viver pelo Brasil. Todas as coisas grandiosas são feitas à custa de grandes sacrifícios.
Essas pessoas, que deram suas vidas pelo programa espacial brasileiro, nunca formaram fila com os críticos, com os pobres de espírito e com os inertes, que nunca realizaram nada por medo de errar. Eles foram em frente e fizeram _sob o risco de errar, mas com a glória de ter lutado pelos seus ideais. O programa espacial vai simplesmente continuar. Simplesmente porque não existe outro caminho. Porque o meu país não é um país covarde. Porque cada linha na nossa bandeira tem um significado. Porque somos grandes demais para aceitar qualquer pensamento menor. Porque somos brasileiros. Finalmente, falando em nome de cada um de nós, que vive essa realidade a cada dia, eu digo que não devemos parar o país por isso, mas poderíamos tomar alguns instantes das nossas vidas corridas e oferecer, do nosso próprio jeito, na nossa própria religião, uma prece para as famílias das vítimas e para aqueles que deram a vida pelos nossos ideais. Mesmo que não os conheçamos, compartilhamos com eles algo que nunca deveria ser esquecido: o amor pelo Brasil e o desejo de fazer desse país não "o país do futuro", pois já estamos cansados de ouvir essa conversa, mas o país do presente, com tudo o que nós e nossos filhos temos direito.
Lembro que, há alguns meses, me perguntaram como eu estava me sentindo. Acho que agora todos sabem, pois devem estar sentindo a mesma coisa. O major-aviador Marcos Cesar Pontes, 40, engenheiro aeronáutico e piloto da Força Aérea Brasileira, participa de treinamento na Nasa, em Houston (EUA);, para se tornar o primeiro astronauta brasileiro a ir para o espaço

