Marte à vista

Marte à vista

Um estudo da Nasa mostra como e quando será a primeira viagem tripulada ao planeta

A viagem a Marte, considerada a grande aventura humana no começo do próximo milênio, está mais perto do que nunca. A Nasa ainda não abriu a lista de reservas para os futuros viajantes, mas uma equipe do Centro Espacial Johnson, de Houston, já tem pronto um estudo de 300 páginas em que apresenta a estratégia para levar uma missão tripulada ao planeta vermelho num prazo de vinte anos. O plano prevê o envio de várias naves-robôs para a montagem da infra-estrutura de vôo e de sobrevivência em Marte antes do primeiro vôo tripulado. “Não há dúvida de que estaremos em Marte dentro de vinte ou trinta anos”, diz Daniel Goldin, o chefe da Nasa. “O problema não é apenas conseguir ir até lá, mas chegar sem gastar muito dinheiro.” Essa é a grande novidade do plano. Pelos cálculos da Nasa, a viagem vai custar muito menos do que se imaginava alguns anos atrás.
Em 1989, nas comemorações dos vinte anos da chegada do homem à Lua, o presidente George Bush anunciou que em 2018 seria a vez do desembarque em Marte. Na época, estimava-se que a aventura custaria, pelo menos, 500 bilhões de dólares. Era um custo absurdo, mais da metade de toda a riqueza produzida num ano por um país como o Brasil. Os novos estudos da equipe do Centro Johnson recolocam a nave a Marte nos trilhos da viabilidade econômica. Segundo eles, novas tecnologias permitem hoje realizar a viagem por 50 bilhões de dólares, um décimo do custo original. O plano da Nasa prevê que a tripulação será composta de seis astronautas de diferentes nacionalidades e de ambos os sexos. A viagem deve demorar cerca de dois anos, sendo seis meses para ir, mais seis para voltar e um ano de permanência na superfície marciana.

Sobrevivência — No programa desenhado pela equipe de engenheiros da Nasa, os vôos preparatórios que antecedem a missão tripulada começam em 2007 e se sucedem a cada dois anos. Primeiro será transportado para Marte todo o equipamento de vôo e de sobrevivência dos astronautas. Os preparativos incluem a colocação em órbita de uma nave que, mais tarde, será usada para o retorno à Terra. As naves-robôs que antecederão a missão tripulada também se encarregarão de posicionar um módulo de desembarque e decolagem na superfície do planeta vermelho. Para garantir a segurança dos viajantes, todos os equipamentos enviados para Marte serão feitos em duplicata. No caso de um falhar, sempre haverá outro de reserva. Entre esses equipamentos estão usinas de processamento de combustível, para abastecer as naves no regresso, e de oxigênio, para os astronautas. Tanto o oxigênio como a água e os alimentos utilizados pela tripulação serão reciclados.
Em Marte, os seis astronautas ficarão abrigados numa base espacial que os protegerá das fortes radiações solares e da atmosfera carregada de gás carbônico. O modelo do abrigo, uma barraca inflável com 8 metros de diâmetro, já está sendo desenvolvido para a Estação Orbital, um projeto conjunto de vários países que será montado em órbita da Terra até o ano 2004. O estudo da Nasa aponta algumas dificuldades para a ida a Marte. Uma delas é que ninguém sabe como o organismo humano reagiria a uma viagem tão longa fora da Terra. O recorde de permanência no espaço é do russo Valery Polyakov. Ele ficou catorze meses e dez dias na estação Mir. É pouco mais da metade do tempo necessário para ir a Marte e voltar.