Antiga e com pouca verba,a Mir só dá problema

Batendo pino
Antiga e com pouca verba,a Mir só dá problema

Lizia Bydlowski

Até o final deste ano, uma multinacional não identificada vai lançar em 100 países um concurso sui generis: o ganhador terá direito a passar nove dias, com tudo pago, na estação espacial russa, Mir. O passeio está previsto para acontecer em 1998. A única dúvida é se a veneranda Mir, onze anos e muitos remendos nas costas, ainda estará na ativa. Nos últimos meses, a estação vem apresentando defeito em cima de defeito, a maioria deles fruto dos padecimentos financeiros do programa espacial russo, que hoje sobrevive com 180 milhões de dólares por ano, o mesmo orçamento do programa indiano. Para engordar a receita, os russos estão fazendo qualquer negócio — a tal multinacional pagará 25 milhões de dólares pela hospedagem na Mir. Seja por falta de manutenção, seja porque está velha mesmo, a estação russa é hoje “uma base insegura e desgastada que se arrasta de crise em crise”, diz James Oberg, autor de um livro sobre o programa espacial russo. Como em qualquer casa antiga, o encanamento vive dando problemas: as privadas entopem com freqüência, obrigando os astronautas a interromper pesquisas para desbloquear canos. Em fevereiro, um incêndio danificou os geradores de oxigênio. O incêndio foi causado pela explosão de um tanque de oxigênio de emergência, que estava em uso porque, com seis pessoas a bordo naquele dia (o normal são três);, o sistema não supria as necessidades. Pior: por mais de um mês, a tripulação teve de se virar com tanques idênticos ao que explodiu, mesmo suspeitando de um lote defeituoso. “Enquanto um acionava o tanque, o outro segurava o extintor”, contou o astronauta americano Jerry Linenger, na Mir desde janeiro. Há pouco, um sistema de resfriamento apresentou vazamento, o que prejudicou a remoção de dióxido de carbono do ar. A tripulação passou dias tossindo, com nariz entupido e olhos lacrimejantes. Sócia difícil — Para ter seus astronautas a bordo da Mir, a Nasa, a agência espacial americana, está pagando 335 milhões de dólares. Seu propósito é adquirir a tecnologia de longa permanência no espaço que os russos, anfitriões na Mir de 58 astronautas seus e dezessete estrangeiros, hoje dominam sozinhos. Por isso, a Rússia é sócia imprescindível na construção de uma nova estação espacial, plano que envolve Estados Unidos, Canadá, Japão e países europeus. O projeto, de 40 bilhões de dólares, está atrasadíssimo. Motivo: os protótipos da Rússia, encarregada dos primeiros módulos, ainda não chegam ao nível de segurança exigido pelos parceiros.