Astronauta vira estrela com Lula e Putin

Brasil assina com Rússia acordo que levará Marcos Pontes ao espaço; oficial promete usar chapéu de Santos-Dumont
Astronauta vira estrela com Lula e Putin
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Se não chegou a ofuscar as estrelas do dia, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Vladimir Putin, o tenente-coronel da Aeronáutica Marcos Cesar Pontes teve ontem um aperitivo da reviravolta que deverá se processar em sua vida até (e depois de); 22 de março de 2006, quando será o primeiro astronauta brasileiro a ir ao espaço.
Enquanto representantes das agências espaciais de Brasil e Rússia assinavam três acordos de cooperação, entre os quais o que permitirá a ida do oficial na próxima missão da nave Soyuz à ISS (Estação Espacial Internacional);, jornalistas dos dois países cercaram Pontes por mais de meia hora. Após a sabatina, o astronauta _ou cosmonauta, pela tradição russa_ foi chamado por Lula para ser fotografado ao lado dele e de Putin. O presidente brasileiro se referiu mais uma vez ontem a Pontes como "nosso astronauta".
A AEB (Agência Espacial Brasileira); e a Roskosmos, sua similar russa, assinaram também um protocolo de cooperação para modernização do VLS-1, o veículo lançador de satélites nacional, e um terceiro memorando mais genérico, que cria um grupo de trabalho conjunto entre as agências. Também foi anunciado que os países negociam "programa conjunto para a construção de equipamento espacial de telecomunicações", alusão velada ao projeto que tem por objetivo o desenvolvimento do chamado Satélite Geoestacionário Brasileiro.
Mas, por motivos óbvios, nada teve tanto apelo ontem quanto o "acordo do astronauta", pelo qual o Brasil pagará à Rússia cerca de US$ 10 milhões, segundo a AEB.
A ida do tenente-coronel Pontes ao espaço foi, disparado, o assunto que mais interessou à imprensa russa no encontro de cúpula no Kremlin. Ao descobrirem que o tenente-coronel será o primeiro brasileiro a cumprir a missão, os jornalistas do país demonstraram imensa surpresa e passaram a inquirir o astronauta sobre a importância histórica da sua tarefa.
O paulista de Bauru, 42 anos, casado, dois filhos, que chegou a Moscou no último dia 13 e participa desde então de treinamento no Centro Gagarin de Treinamento de Cosmonautas, conhecido como "Cidade das Estrelas", foi diplomático sob todos os aspectos.
Para o Brasil

Procurou sempre desvincular a missão da esfera pessoal, associando-a a uma questão de Estado. "Junto com toda a simbologia, está o desenvolvimento industrial e científico brasileiro e a evolução que essa missão representa para nosso setor aeroespacial. Vejo isso num sentido de nação. Sou um instrumento do Brasil para cumprir uma missão", disse.
Provocado por um russo, que o questionou se a opção pelo país se devia ao fracasso da missão americana, não mordeu a isca. "Há vários países na Estação Espacial Internacional, e tanto os russos quanto os americanos dominam a tecnologia para cumprir. Comecei lá e vou continuar aqui. Estou muito feliz com isso."
Pontes, que esteve desde 1998 em treinamento no Centro Espacial Johnson da Nasa (agência espacial americana);, em Houston, Estado do Texas, como parte da participação brasileira na Estação Espacial Internacional, disse não ver grandes diferenças entre as duas realidades.
"Encontrei aqui o mesmo pessoal de Houston, os mesmos equipamentos. Não achei muito diferente, estou acostumado com esse trabalho internacional, que envolve 15 países."
Além de cinco experimentos brasileiros para ambiente de microgravidade, o tenente-coronel irá levar consigo na missão de dez dias uma bandeira do Brasil e um chapéu de Santos-Dumont.
Pontes gastou vários minutos explicando aos russos quem era o ilustre brasileiro. E prometeu vestir o chapéu no espaço. "Lá eu não vou precisar vestir capacete. Embora seja um chapéu largo, de estilo antigo, acho que vou usá-lo. Tenho a cabeça grande."