Russos e europeus se aliam para criar nova espaçonave

Veículo Kliper será capaz de levar até seis cosmonautas ao espaço e servirá no futuro para vôos até a Lua
Russos e europeus se aliam para criar nova espaçonave
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Russos e europeus estão se juntando para construir uma nave espacial sucessora das veneráveis Soyuz, que serviram no programa espacial tripulado por mais de três décadas. O projeto é da companhia russa RSC Energia, herdeira do antigo escritório soviético que, nos tempos da Guerra Fria, projetou a Vostok, primeira espaçonave tripulada, pilotada pelo cosmonauta Yuri Gagarin em 1961, e a própria Soyuz.
Sem dinheiro para sustentar o desenvolvimento do veículo sozinha, a Rússia sondou a ESA para verificar se havia algum interesse em tocar o projeto em parceria. Deu certo. A Agência Espacial Européia vai solicitar recursos da ordem de € 30 milhões a € 40 milhões (R$ 80 milhões a R$ 107 milhões); para realizar estudos preparatórios para o desenvolvimento da espaçonave, informou a rede britânica BBC.
O projeto, que leva o nome de Kliper, foi anunciado pelos russos em fevereiro de 2004. A idéia é construir um veículo que seja mais espaçoso e confortável que as antigas Soyuz, permitindo seu uso não só para projetos científicos mas também para incursões de turismo espacial. Em vez de três tripulantes, como as naves atualmente à disposição dos russos, o Kliper poderia levar até seis.
Mais do que isso, os russos estão apresentando a nave como uma possível transportadora até uma órbita lunar, se afinando com os planos norte-americanos de retornar à Lua em 2018.
Como o CEV, nave que está sendo projetada pela Nasa (agência espacial americana);, o Kliper será reutilizável. Ainda assim, ambos os veículos precisam de foguetes lançadores descartáveis para serem levados ao espaço. É a retomada de uma estratégia que foi abandonada pelos americanos em 1981, quando iniciaram os vôos dos ônibus espaciais.
Caso os russos consigam o financiamento necessário para desenvolver a nave, a idéia é realizar o primeiro lançamento de teste, sem tripulação, em 2011. Caso tudo corra bem, o primeiro vôo tripulado viria no ano seguinte.
A primeira função do Kliper seria fornecer transporte até a ISS (Estação Espacial Internacional);. Com a nova nave, o complexo orbital poderia ter sua tripulação fixa expandida para seis pessoas _um grande sonho para a ESA, que ainda não viu retorno para o investimento que fez no projeto, com a impossibilidade de enviar astronautas europeus para estadias de longa duração.
Atualmente, usando uma Soyuz como bote salva-vidas, é possível ter até três tripulantes no complexo, mas hoje apenas duas pessoas trabalham em tempo integral _medida de racionamento, em razão da atual indisponibilidade dos ônibus espaciais americanos para levar e trazer carga para o espaço com a freqüência necessária, após o acidente que destruiu o Columbia, em fevereiro de 2003.
Seguindo o cronograma russo, as Soyuz devem ganhar sua merecida aposentadoria em 2014.
Aspirações lunares
Em seu plano de retornar à Lua, a Nasa já anunciou que estaria aberta a cooperação com outros países. Ocorre que a experiência já mostrou que, mesmo em projetos de parceria, não é bom depender de um único meio de acesso ao espaço. Afinal, a situação de penúria da ISS só existe por conta da dependência extrema dos ônibus americanos. E só não é pior porque as Soyuz permitem a troca de tripulação a cada seis meses.
Daí a idéia de que é bom ter outra nave capaz de ir até a Lua.
Independentemente de cooperação, a ESA tem planos para uma base lunar, como preparação à exploração de Marte, em seu programa Aurora. Os russos estimam que o Kliper estaria pronto para dar sua primeira volta ao redor da Lua em 2020. O Aurora prevê o estabelecimento de uma base lunar por volta de 2025.
"Para exploração futura, quando tivermos o objetivo de ir à Lua, é importante termos várias formas possíveis de chegar lá", disse à BBC Alain Fournier-Sicre, da ESA. "Nesses moldes de cooperação teremos nosso próprio acesso à órbita ao redor da Lua."