A Nasa sem Rumo
A Nasa sem Rumo
Corte de verbas e falta de projetos com apelo popular levam a agência a crise de identidade
Natasha Madov
O que fazer com uma empresa de grande prestígio, mas cuja maioria dos projetos acaba em desastre ou, simplesmente, não desperta o interesse do público? O governo dos Estados Unidos precisa resolver essa questão no que diz respeito à Nasa, uma de suas instituições de maior charme. Três décadas depois de realizar a epopéia de colocar o homem na Lua, a agência espacial passa por uma crise de identidade, com dificuldade para justificar a própria existência. Há duas semanas, uma comissão independente de cientistas renomados, entre eles dois prêmios Nobel, entregou ao Congresso americano um estudo arrasador sobre a Estação Espacial Internacional, o mais importante projeto da agência. Os cientistas, convocados pela própria Nasa para rebater as acusações de que a agência joga dinheiro fora, acabaram dando munição aos críticos.
Não apenas confirmaram que ela gasta de forma descontrolada como também observaram que já despendeu 32 bilhões de dólares, duas vezes o orçamento original, e só montou até agora um quarto da estrutura da estação. Após lerem o relatório, os deputados rejeitaram o pedido de uma verba adicional de 5 bilhões de dólares para a construção de uma pequena espaçonave tripulada.
A Nasa recebe 14 bilhões de dólares por ano. Mas, sem dinheiro extra, não poderá ampliar as instalações da estação, que constrói com outros quinze países, nem fazer a nave que substituiria os velhos módulos russos Soyuz, com capacidade para apenas três pessoas, usados para transportar as tripulações para a estação. Com isso, a equipe de três homens que hoje vive no espaço não pode ser ampliada para os seis previstos. Como são poucos, eles passam o tempo todo às voltas com serviços de manutenção e não podem realizar experiências científicas. Sem elas, a estação não tem lá grande utilidade. A questão do que se deve esperar da pesquisa espacial tornou-se um espinho na garganta da Nasa. Criada durante a Guerra Fria, tinha uma missão clara: bater a União Soviética na conquista do espaço. A viagem tripulada à Lua foi um esforço científico como nunca se viu. Custou 25 bilhões de dólares e reuniu centenas de empresas privadas e milhares de cientistas.
Os ganhos científicos, porém, foram mínimos e a construção de colônias revelou-se inviável. A disputa com Moscou também perdeu sentido com o fim da Guerra Fria.
A Nasa que existe hoje é uma herança do projeto Apollo, que levou o homem à Lua, diz o professor americano Alex Roland, especialista em história militar da Universidade Duke, no Estado da Carolina do Norte. Uma estrutura enorme que não condiz com os desafios atuais da ciência espacial. Muitas das pesquisas previstas para ser feitas na estação espacial podem ser realizadas na Terra, onde os laboratórios já conseguem simular as condições de gravidade zero. A Nasa precisaria realizar projetos mastodônticos e de impacto que justifiquem sua existência. Metade do orçamento é gasta em missões de grande retorno em conhecimento científico, mas que não encantam a opinião pública. São as sondas que coletam informações e imagens espetaculares do sistema solar, da Via Láctea e de outras galáxias. O restante do dinheiro é empregado nas missões do ônibus espacial e na estação internacional. O momento não podia ser pior.
Daniel Goldin, o homem que presidiu a instituição por dez anos, deixou o cargo no sábado 17, abalado pelas críticas. Quatro figurões foram convidados para assumir a Nasa e recusaram. O cargo acabou na mão do vice-diretor de Orçamento da Casa Branca, Sean OKeefe, que só tem uma proposta para o futuro: cortar gastos. Até agora, a agência espacial americana relutou em desistir de seu objetivo tradicional, que é colocar pessoas no espaço, se possível em outros planetas. Pretende desembarcar o primeiro americano em Marte dentro de vinte ou trinta anos a um custo de 100 bilhões de dólares. O difícil vai ser achar alguém disposto a pagar essa conta.
Deu certo
Hubble
Em onze anos de atividade, o telescópio espacial fez as melhores fotos dos limites do espaço. Em 1999, recebeu novas lentes, numa reforma de 70 milhões de dólares
Mars Pathfinder
A sonda lançada em 1996 enviou as primeiras fotos tiradas em solo marciano. A viagem do carrinho-robô foi acompanhada pela TV em todo o mundo
Deu errado
X-43
O primeiro vôo do avião hipersônico da Nasa, em junho, foi um fiasco. Uma falha nos foguetes obrigou os técnicos a destruir o protótipo, que custou 25 milhões de dólares
Mars Climate Orbiter
A sonda de 125 milhões de dólares deveria descer em Marte, mas explodiu no espaço, em 1999. A razão: o computador de bordo recebeu dados conflitantes da Terra
Corte de verbas e falta de projetos com apelo popular levam a agência a crise de identidade
Natasha Madov
O que fazer com uma empresa de grande prestígio, mas cuja maioria dos projetos acaba em desastre ou, simplesmente, não desperta o interesse do público? O governo dos Estados Unidos precisa resolver essa questão no que diz respeito à Nasa, uma de suas instituições de maior charme. Três décadas depois de realizar a epopéia de colocar o homem na Lua, a agência espacial passa por uma crise de identidade, com dificuldade para justificar a própria existência. Há duas semanas, uma comissão independente de cientistas renomados, entre eles dois prêmios Nobel, entregou ao Congresso americano um estudo arrasador sobre a Estação Espacial Internacional, o mais importante projeto da agência. Os cientistas, convocados pela própria Nasa para rebater as acusações de que a agência joga dinheiro fora, acabaram dando munição aos críticos.
Não apenas confirmaram que ela gasta de forma descontrolada como também observaram que já despendeu 32 bilhões de dólares, duas vezes o orçamento original, e só montou até agora um quarto da estrutura da estação. Após lerem o relatório, os deputados rejeitaram o pedido de uma verba adicional de 5 bilhões de dólares para a construção de uma pequena espaçonave tripulada.
A Nasa recebe 14 bilhões de dólares por ano. Mas, sem dinheiro extra, não poderá ampliar as instalações da estação, que constrói com outros quinze países, nem fazer a nave que substituiria os velhos módulos russos Soyuz, com capacidade para apenas três pessoas, usados para transportar as tripulações para a estação. Com isso, a equipe de três homens que hoje vive no espaço não pode ser ampliada para os seis previstos. Como são poucos, eles passam o tempo todo às voltas com serviços de manutenção e não podem realizar experiências científicas. Sem elas, a estação não tem lá grande utilidade. A questão do que se deve esperar da pesquisa espacial tornou-se um espinho na garganta da Nasa. Criada durante a Guerra Fria, tinha uma missão clara: bater a União Soviética na conquista do espaço. A viagem tripulada à Lua foi um esforço científico como nunca se viu. Custou 25 bilhões de dólares e reuniu centenas de empresas privadas e milhares de cientistas.
Os ganhos científicos, porém, foram mínimos e a construção de colônias revelou-se inviável. A disputa com Moscou também perdeu sentido com o fim da Guerra Fria.
A Nasa que existe hoje é uma herança do projeto Apollo, que levou o homem à Lua, diz o professor americano Alex Roland, especialista em história militar da Universidade Duke, no Estado da Carolina do Norte. Uma estrutura enorme que não condiz com os desafios atuais da ciência espacial. Muitas das pesquisas previstas para ser feitas na estação espacial podem ser realizadas na Terra, onde os laboratórios já conseguem simular as condições de gravidade zero. A Nasa precisaria realizar projetos mastodônticos e de impacto que justifiquem sua existência. Metade do orçamento é gasta em missões de grande retorno em conhecimento científico, mas que não encantam a opinião pública. São as sondas que coletam informações e imagens espetaculares do sistema solar, da Via Láctea e de outras galáxias. O restante do dinheiro é empregado nas missões do ônibus espacial e na estação internacional. O momento não podia ser pior.
Daniel Goldin, o homem que presidiu a instituição por dez anos, deixou o cargo no sábado 17, abalado pelas críticas. Quatro figurões foram convidados para assumir a Nasa e recusaram. O cargo acabou na mão do vice-diretor de Orçamento da Casa Branca, Sean OKeefe, que só tem uma proposta para o futuro: cortar gastos. Até agora, a agência espacial americana relutou em desistir de seu objetivo tradicional, que é colocar pessoas no espaço, se possível em outros planetas. Pretende desembarcar o primeiro americano em Marte dentro de vinte ou trinta anos a um custo de 100 bilhões de dólares. O difícil vai ser achar alguém disposto a pagar essa conta.
Deu certo
Hubble
Em onze anos de atividade, o telescópio espacial fez as melhores fotos dos limites do espaço. Em 1999, recebeu novas lentes, numa reforma de 70 milhões de dólares
Mars Pathfinder
A sonda lançada em 1996 enviou as primeiras fotos tiradas em solo marciano. A viagem do carrinho-robô foi acompanhada pela TV em todo o mundo
Deu errado
X-43
O primeiro vôo do avião hipersônico da Nasa, em junho, foi um fiasco. Uma falha nos foguetes obrigou os técnicos a destruir o protótipo, que custou 25 milhões de dólares
Mars Climate Orbiter
A sonda de 125 milhões de dólares deveria descer em Marte, mas explodiu no espaço, em 1999. A razão: o computador de bordo recebeu dados conflitantes da Terra

