Nasa diz que relação com a Rússia decaiu
Daniel Goldin, diretor da agência, põe a culpa do episódio no turista espacial Dennis Tito, de quem admite ter inveja
Nasa diz que relação com a Rússia decaiu
DA REUTERS
O relacionamento da Nasa (agência espacial dos EUA); com a Rússia ainda está se recuperando de uma "simetria de desconfiança". A relação deteriorou durante o episódio da viagem do empresário californiano Dennis Tito à ISS ( Estação Espacial Internacional );. A constatação é de Daniel Goldin, diretor da agência.
"De fato, a relação chegou a um ponto muito baixo", afirmou Goldin durante entrevista em seu escritório, situado no 9º andar da sede da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço.
Descrevendo o relacionamento entre a Nasa e a Rosviakosmos (agência espacial russa);, cerca de um mês depois da viagem de Tito, Goldin disse que estava "melhor, mas não perfeito, e às vezes estressante. Não retornamos ao pé em que estávamos, mas acho que já passamos pela pior parte".
A Nasa e os outros parceiros da ISS fizeram uma forte oposição aos russos quando eles anunciaram que mandariam Tito à ISS, a bordo de uma nave Soyuz. Ele teria pago US$ 20 milhões à Rosviakosmos _que sofre de falta de verbas crônica.
Com a chegada da data de lançamento de Tito, em abril, havia forte desconfiança dos dois lados, afirmou Goldin, especialmente quando surgiram problemas no computador de bordo da ISS, enquanto o ônibus espacial Endeavour estava atracado lá.
O sistema de bordo do Endeavour foi usado como backup, mas ele teve de deixar a estação para que a Soyuz pudesse chegar. Alguns russos duvidaram de que o problema de fato tenha existido, e alguns parceiros da ISS questionaram se eles tinham mesmo de lançar a Soyuz naquele momento.
Stress e desconfiança
"O stress cresceu até se transformar em desconfiança, o que é inaceitável no programa espacial . Não chegou a ser desfuncional, mas era um sinal muito negativo", afirma Goldin.
O problema imediato foi resolvido entre Goldin e o seu equivalente russo, Yuri Koptev, depois que o norte-americano ligou para Koptev no meio da noite e o pegou partindo para a área de lançamento da Soyuz, no Cazaquistão.
"Ele foi muito receptivo às questões. Ele também não queria criar um problema", disse Goldin a respeito de Koptev, que sugeriu retardar em 1 ou 2 dias o lançamento da Soyuz para dar tempo de resolver o problema. "Foi uma idéia muito elegante e foi brilhante."
Goldin está na comunidade aeroespacial há tempo suficiente para ter alguma perspectiva. Ele é o diretor da Nasa de maior permanência no cargo, tendo sido nomeado pelo presidente George Bush em 1992.
Antes disso, ele trabalhou na TRW Inc., empresa aeroespacial e de defesa. Desde o colapso da União Soviética e do estabelecimento de uma aliança espacial com a Rússia, Goldin tem tido a experiência singular de abraçar pessoas cujas cidades soviéticas serviram de mira para os mísseis que sua empresa construía.
"Yuri e eu estávamos em lados diferentes da Guerra Fria, assim como muitas das pessoas com as quais trabalhamos", afirmou Goldin. "E não tenho vergonha do fato de que nos abraçamos."
Goldin, que usa botas de caubói _pés extremamente largos fazem das botas seus sapatos preferidos_, assumiu a responsabilidade de cancelar o programa de civis no espaço da Nasa seis anos depois do desastre de 1986. Naquele ano, a explosão do ônibus espacial Challenger matou seis astronautas e a primeira professora a ir ao espaço, Christa McAuliffe.
Ele diz se sentir pessoalmente responsável pela segurança de cada astronauta e mantém uma tela de vídeo de alta definição em seu escritório para entrevistas com cada um, antes das missões.
"Eu quero olhar bem dentro da alma de cada um e ver se a equipe está integrada", explica Goldin.
Tarefas espaciais
Essa noção de "química entre a equipe" foi causa de preocupação no vôo de Tito, apesar de ter sido a Nasa que o impediu de treinar com seus colegas russos quando eles estiveram no Centro Espacial Johnson, em Houston.
"O turista espacial que subiu, não tenho nada contra ele, na verdade tenho inveja dele em certo grau... Mas segurança vem primeiro e sentimos que regras foram violadas", explica.
Tito passou sua viagem tirando fotos, fazendo algumas tarefas, aproveitando a vista e ouvindo ópera, uma agenda que contraria a visão de Goldin para viajantes espaciais não-profissionais.
Dentro de três ou quatro anos, afirma Goldin, pessoas que não são astronautas profissionais provavelmente vão poder viajar à estação espacial _depois de passar por seleção e treinamento, mas eles não vão ser turistas.
"Gostaríamos de treinar pessoas para fazer tarefas mundanas, de forma a desafogar os astronautas", afirma Goldin.
A caminho de Marte
A estação espacial de US$ 95 bilhões, frequentemente alvo de cortadores de orçamento no Congresso dos EUA e do desdém dos cidadãos, é a rota mais direta para a exploração de Marte por seres humanos, afirma Goldin.
Humanos poderiam ir ao vizinho planetário da Terra em no mínimo 10 anos e, no máximo, 20, diz o diretor.
A estação espacial seria fundamental para resolver problemas biomédicos associados a viagens espaciais de longa duração, diz.
O diretor prevê que humanos vão visitar Marte dentro de 20 anos. "Grave minhas palavras: estaremos em Marte antes do final da segunda década deste século."
Mas Goldin ainda vai estar na Nasa para ver isso? "Não sei. Eu não tomo esse tipo de decisão", afirmou Goldin, acrescentando ter dito à atual administração Bush que ele ajudaria na transição do cargo, no caso da escolha de um substituto.
Ao ouvir a pergunta de se havia qualquer indicação de que isso estivesse acontecendo, Goldin afirmou: "Não discuto essas coisas".
Tradução de Alexandra O. de Almeida
Nasa diz que relação com a Rússia decaiu
DA REUTERS
O relacionamento da Nasa (agência espacial dos EUA); com a Rússia ainda está se recuperando de uma "simetria de desconfiança". A relação deteriorou durante o episódio da viagem do empresário californiano Dennis Tito à ISS ( Estação Espacial Internacional );. A constatação é de Daniel Goldin, diretor da agência.
"De fato, a relação chegou a um ponto muito baixo", afirmou Goldin durante entrevista em seu escritório, situado no 9º andar da sede da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço.
Descrevendo o relacionamento entre a Nasa e a Rosviakosmos (agência espacial russa);, cerca de um mês depois da viagem de Tito, Goldin disse que estava "melhor, mas não perfeito, e às vezes estressante. Não retornamos ao pé em que estávamos, mas acho que já passamos pela pior parte".
A Nasa e os outros parceiros da ISS fizeram uma forte oposição aos russos quando eles anunciaram que mandariam Tito à ISS, a bordo de uma nave Soyuz. Ele teria pago US$ 20 milhões à Rosviakosmos _que sofre de falta de verbas crônica.
Com a chegada da data de lançamento de Tito, em abril, havia forte desconfiança dos dois lados, afirmou Goldin, especialmente quando surgiram problemas no computador de bordo da ISS, enquanto o ônibus espacial Endeavour estava atracado lá.
O sistema de bordo do Endeavour foi usado como backup, mas ele teve de deixar a estação para que a Soyuz pudesse chegar. Alguns russos duvidaram de que o problema de fato tenha existido, e alguns parceiros da ISS questionaram se eles tinham mesmo de lançar a Soyuz naquele momento.
Stress e desconfiança
"O stress cresceu até se transformar em desconfiança, o que é inaceitável no programa espacial . Não chegou a ser desfuncional, mas era um sinal muito negativo", afirma Goldin.
O problema imediato foi resolvido entre Goldin e o seu equivalente russo, Yuri Koptev, depois que o norte-americano ligou para Koptev no meio da noite e o pegou partindo para a área de lançamento da Soyuz, no Cazaquistão.
"Ele foi muito receptivo às questões. Ele também não queria criar um problema", disse Goldin a respeito de Koptev, que sugeriu retardar em 1 ou 2 dias o lançamento da Soyuz para dar tempo de resolver o problema. "Foi uma idéia muito elegante e foi brilhante."
Goldin está na comunidade aeroespacial há tempo suficiente para ter alguma perspectiva. Ele é o diretor da Nasa de maior permanência no cargo, tendo sido nomeado pelo presidente George Bush em 1992.
Antes disso, ele trabalhou na TRW Inc., empresa aeroespacial e de defesa. Desde o colapso da União Soviética e do estabelecimento de uma aliança espacial com a Rússia, Goldin tem tido a experiência singular de abraçar pessoas cujas cidades soviéticas serviram de mira para os mísseis que sua empresa construía.
"Yuri e eu estávamos em lados diferentes da Guerra Fria, assim como muitas das pessoas com as quais trabalhamos", afirmou Goldin. "E não tenho vergonha do fato de que nos abraçamos."
Goldin, que usa botas de caubói _pés extremamente largos fazem das botas seus sapatos preferidos_, assumiu a responsabilidade de cancelar o programa de civis no espaço da Nasa seis anos depois do desastre de 1986. Naquele ano, a explosão do ônibus espacial Challenger matou seis astronautas e a primeira professora a ir ao espaço, Christa McAuliffe.
Ele diz se sentir pessoalmente responsável pela segurança de cada astronauta e mantém uma tela de vídeo de alta definição em seu escritório para entrevistas com cada um, antes das missões.
"Eu quero olhar bem dentro da alma de cada um e ver se a equipe está integrada", explica Goldin.
Tarefas espaciais
Essa noção de "química entre a equipe" foi causa de preocupação no vôo de Tito, apesar de ter sido a Nasa que o impediu de treinar com seus colegas russos quando eles estiveram no Centro Espacial Johnson, em Houston.
"O turista espacial que subiu, não tenho nada contra ele, na verdade tenho inveja dele em certo grau... Mas segurança vem primeiro e sentimos que regras foram violadas", explica.
Tito passou sua viagem tirando fotos, fazendo algumas tarefas, aproveitando a vista e ouvindo ópera, uma agenda que contraria a visão de Goldin para viajantes espaciais não-profissionais.
Dentro de três ou quatro anos, afirma Goldin, pessoas que não são astronautas profissionais provavelmente vão poder viajar à estação espacial _depois de passar por seleção e treinamento, mas eles não vão ser turistas.
"Gostaríamos de treinar pessoas para fazer tarefas mundanas, de forma a desafogar os astronautas", afirma Goldin.
A caminho de Marte
A estação espacial de US$ 95 bilhões, frequentemente alvo de cortadores de orçamento no Congresso dos EUA e do desdém dos cidadãos, é a rota mais direta para a exploração de Marte por seres humanos, afirma Goldin.
Humanos poderiam ir ao vizinho planetário da Terra em no mínimo 10 anos e, no máximo, 20, diz o diretor.
A estação espacial seria fundamental para resolver problemas biomédicos associados a viagens espaciais de longa duração, diz.
O diretor prevê que humanos vão visitar Marte dentro de 20 anos. "Grave minhas palavras: estaremos em Marte antes do final da segunda década deste século."
Mas Goldin ainda vai estar na Nasa para ver isso? "Não sei. Eu não tomo esse tipo de decisão", afirmou Goldin, acrescentando ter dito à atual administração Bush que ele ajudaria na transição do cargo, no caso da escolha de um substituto.
Ao ouvir a pergunta de se havia qualquer indicação de que isso estivesse acontecendo, Goldin afirmou: "Não discuto essas coisas".
Tradução de Alexandra O. de Almeida

