Hotel no céu

Hotel no céu
Investidores internacionais vão ressuscitar a Mir

A Mir é uma espécie de resumo do programa espacialrusso. Quando se pensa que os apertos financeiros pós-soviéticos vão dar cabo de uma e de outro, ambos ressurgem com inesperadas manifestações de vitalidade. A última surpresa é a volta à ativa da caquética estaçãoespacial, que orbita a 200 quilômetros da superfície terrestre. Os russos e um grupo de investidores internacionais prometem transformá-la no primeiro hotel espacial, como também em cenário para um filme (participam do elenco os hollywoodianos Sean Penn e Gary Oldman, mas só o ator russo Vladimir Steklov vai subir ao espaço);. A estrutura, do tamanho de cinco ônibus enfileirados, havia sido abandonada pelos derradeiros cosmonautas em agosto, quando o orçamento da agência espacialrussa secou de vez, e seu destino era virar sucata espacialou ser derrubada sobre o Oceano Pacífico. Foi salva por empresários estrangeiros, liderados pelo milionário americano Walt Anderson. Eles estão pagando 20 milhões de dólares apenas para mantê-la na ativa até o segundo semestre e buscam parceiros para custear outros 100 milhões anuais em manutenção.
Os planos de Anderson, que fundou a MirCorp, prevêem que a estação receba até cinco turistas de cada vez, a um preço de 20 milhões de dólares por cabeça. Eles viajarão da Terra até o espaço a bordo de foguetes Soyuz. Os russos já começaram a faxina na velha estaçãoespacial. No mês passado, um foguete cargueiro levou suprimentos de água, combustível e equipamentos de manutenção. Em março deverão chegar os astronautas e, se tudo der certo, o ator Steklov, que passará 45 dias na estaçãogravando cenas de um filme que tem o sugestivo título de A Jornada Final. A MirCorp pretende alugá-la ainda para pesquisas científicas e locações publicitárias. “Há várias formas criativas de usar uma plataforma que seguramente vale bilhões de dólares”, diz Jeffrey Manber, presidente da empresa.
Há catorze anos em órbita — nove além do previsto —, a Mir sofre com problemas de corrosão e falhas de equipamentos. A primeira grande estação espacial construída pelo homem sobreviveu a incêndios, vazamentos e panes no sistema de refrigeração. O acidente mais grave foi a trombada com um cargueiro de 7 toneladas, que abriu um buraco na fuselagem em 1997 e forçou os astronautas a abandonar um dos módulos. Foram golpes severos para o país que mandou o primeiro homem ao espaço. Em meados da década de 80, quando a Mir começou a ser construída, a então União Soviética investia 3 bilhões de dólares por ano no programa espacial. Hoje, sem a participação do capital estrangeiro e privado, o programa já teria chegado ao fim. Só a Nasa, a agência espacial americana, gastou mais de 400 milhões de dólares com a Mir para treinar a sobrevivência de seus astronautas no espaço