Aventura sideral

Aventura sideral
Astronautas resgatam com as mãos satélite que viajava a 28 000 quilômetros por hora
Thomas Traumann

Na noite da última segunda-feira, 24, enquanto bilhões de pessoas na Terra dormiam tranqüilas, uma cena inacreditável acontecia sobre suas cabeças, a 280 quilômetros da superfície. Equilibrando-se sobre o compartimento de carga do ônibus espacial Columbia, presos apenas por cabos flexíveis, dois astronautas — o americano Winston Scott, de 47 anos, e o japonês Takao Doi, de 43 — arriscavam-se numa perigosa operação para recuperar com as próprias mãos um satélite em pane que viajava a 28000 quilômetros por hora. O trabalho durou sete horas e 35 minutos e, quando finalmente Scott e Doi conseguiram botar as mãos no Spartan, de 1,5 tonelada, o dia estava amanhecendo em Cabo Canaveral, na Flórida, onde fica o centro de comando terrestre da missão.
Foi a segunda vez que astronautas do ônibus espacial conseguiram resgatar um satélite no espaço, mas na primeira, em 1992, a operação era considerada muito menos arriscada do que a da semana passada. A dificuldade maior desta vez consistia em girar o satélite com as mãos, posicioná-lo em direção ao Columbia e empurrá-lo em uma sincronia quase perfeita, tarefa dificílima num ambiente sem gravidade. “Foi um trabalho fantástico”, disse Greg Harbaugh, o coordenador de missões espaciais da Agência Espacial Americana, Nasa.
A aventura dos dois astronautas foi um momento de sucesso numa missão que começou com uma série de falhas. O Spartan custou 10 milhões de dólares e foi construído para estudar a atmosfera do Sol, em conjunto com outro satélite de observação, o Soho. Na sexta-feira, momentos depois de ter sido colocado em órbita pelo Columbia, o Spartan entrou em pane e não respondia aos comandos dos testes de rotina. “Não há certeza se foi um erro da equipe de astronautas ou dos nossos computadores, mas deu tudo errado”, diz o coordenador do projeto Spartan, Craig Tooley. A primeira providência da tripulação do Columbia foi tentar recuperar o satélite com o braço mecânico. Não deu certo.

Proeza — Só restavam duas alternativas: tentar resgatar o Spartan numa outra missão, o que seria muito difícil, ou trazê-lo de volta usando as próprias mãos. “Eu só vou parar para pegar um satélite, mas volto antes do jantar”, brincou Scott com a sua mulher, que acompanhou o resgate pelo centro de controle da Nasa. Só depois de completada a missão a Nasa revelou que havia risco de os astronautas se ferirem gravemente durante a aproximação do Spartan ao Columbia. Felizmente nada disso aconteceu. Scott, que já havia feito um passeio fora do ônibus espacial no ano passado, e o estreante Doi posicionaram-se em lados opostos e avançaram por baixo do satélite, do tamanho de quatro máquinas de lavar roupas. Quando o Spartan chegou à posição correta, cada um dos astronautas o pegou por uma ponta: Scott agarrou um gancho de metal, enquanto Doi prendeu o tubo do telescópio. “Agora que conseguimos, vamos decidir o que fazer com isso”, disse Scott ao colega japonês.
O passo seguinte foi arrastar o satélite até próximo do braço mecânico, que, controlado pelo restante da tripulação dentro do Columbia, se encarregou de acomodá-lo de volta no compartimento de carga. Testes feitos logo depois do acoplamento mostraram que o Spartan estava em perfeitas condições para ser lançado em órbita novamente. Mas o que os técnicos da Nasa comemoravam mesmo na semana passada era a presteza do resgate. Esta viagem do Columbia é a última antes do início da construção de uma estação orbital internacional, em julho do ano que vem. Já se sabe que, se algum equipamento se perder, existem astronautas capazes de recuperá-lo.