O desastre que saiu caro
O desastre que saiu caro
Explosão do ônibus espacial norte-americano Challenger completa 10 anos
RICARDO BONALUME NETO
Especial para a Folha
A exploão em 1986 do ônibu espacial Challernger, que matou sete pesoas, serviu para pôr em foco o polêmico programa de naves recuperáveis. Em vez de ser um barato método de transporte espacial, elas se convertem em elefantes brancos.
O programa visava criar o chamado STS_sigla em inglês para Sistema de Transporte Espacial. Na prática, o sistema se resume a viagens de cerca de uma semana em torno da Terra. As naves ficam dando voltas, e a tripulação faz experimentos que sairiam mais barato numa estação espacial ou em satélites.
Apesar de as missões de sondas não-tripuladas terem custado bem menos e produzido bem mais ciência, a mística do astrunauta permanece, e os ônibus espaciais deverão servir para construir a estação espacial internacional Alpha.
Especial para a Folha
Quando o Challenger explodiu em 1986, já era possível imaginar parte do prejuízo. Para fazer outro igual, seria preciso gastar algo como US$ 2,8 bilhões.
Cada viagem de uma nave dessas ao espaço _isto é, até uma órbita de algumas centenas de quilômetros da Terra_ custava então cerca de US$ 250 milhões. Hoje o custo passa dos US$ 300 milhões.
O programa dos ''space shuttles'', ou ônibus espaciais, é o sucessor na área de vôos tripulados das missões Apollo, que levaram o homem à Lua e custaram no total quase US$ 25 bilhões. Claramente se vê que também é o sucessor em termos de gastos exagerados.
Como comparação, as missões não-tripuladas parecem até baratas. Duas das sondas espaciais mais produtivas são as Voyager-1 e Voyager-2. Seu programa custou meros US$ 320 milhões _algo parecido com o vôo de um desses ''ônibus'' que passam uma semana em órbita, fazem alguns experimentos e voltam.
As Voyager fizeram bem-sucedidas passagens por Júpiter, Saturno, Netuno e Urano. Obtiveram a maior parte do conhecimento humano sobre esses planetas e algumas de suas luas.
Todos os planetas, menos o mais distante Plutão, já foram estudados a curta distância por sondas. Foi possível ver crateras em Mercúrio, ou vales e montanhas abaixo das nuvens de Vênus, planeta que teve um efeito estufa descontrolado. A sonda Viking pousou suavemente em Marte, fez fotos e tentou descobrir se ali haveria vida (não chegou a conclusões definitivas);. Sondas também revelaram vulcões que vomitam enxofre em Io, uma das luas de Júpiter.
A lista é grande. Na opinião de boa parte da comunidade científica americana, as missões tripuladas são um gasto desnecessário de dinheiro, e basta comparar o custo-benefício das viagens das sondas espaciais automáticas para saber o porquê. Ao mesmo preço, nenhum vôo de um ''space shuttle'' obteve tantos dados úteis como as sondas Voyager.
Depois das missões lunares a Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos EUA); tinha de conseguir algo para manter alto seu volume de financiamento e o interesse do público. O programa das naves ''recuperáveis'', que iriam e voltariam do espaço, seria a solução.
Dramas como a missão atribulada da Apollo-13, ou a explosão do Challenger, mostraram ao público que a exploração espacial seria uma ''nova fronteira'', tão repleta de riscos como as grandes navegações foram para os portugueses dos séculos 15 e 16.
Esse apelo popular pela exploração tripulada se refletiu nas 100 mil cartas que os fãs da série "Star Trek" (Jornada nas Estrelas, no Brasil); mandaram para o governo americano pedindo que o primeiro ônibus espacial se chamasse Enterprise, o mesmo nome da nave da série.
A Nasa atendeu o pedido, embora ironicamente o Enterprise tenha sido a única que não foi ao espaço, servindo apenas para testes de vôo e equipamentos.
Os ônibus decepcionaram quem achava que eles tornariam os vôos espaciais rotineiros. Quando se iniciou o projeto, eram previstos 50 vôos por ano. A média foi cinco vezes menor. Um ''shuttle'' significa algo constantemente disponível, como uma ponte aérea. Não é o caso desse ''space shuttle''.
(RBN);
Explosão do ônibus espacial norte-americano Challenger completa 10 anos
RICARDO BONALUME NETO
Especial para a Folha
A exploão em 1986 do ônibu espacial Challernger, que matou sete pesoas, serviu para pôr em foco o polêmico programa de naves recuperáveis. Em vez de ser um barato método de transporte espacial, elas se convertem em elefantes brancos.
O programa visava criar o chamado STS_sigla em inglês para Sistema de Transporte Espacial. Na prática, o sistema se resume a viagens de cerca de uma semana em torno da Terra. As naves ficam dando voltas, e a tripulação faz experimentos que sairiam mais barato numa estação espacial ou em satélites.
Apesar de as missões de sondas não-tripuladas terem custado bem menos e produzido bem mais ciência, a mística do astrunauta permanece, e os ônibus espaciais deverão servir para construir a estação espacial internacional Alpha.
Especial para a Folha
Quando o Challenger explodiu em 1986, já era possível imaginar parte do prejuízo. Para fazer outro igual, seria preciso gastar algo como US$ 2,8 bilhões.
Cada viagem de uma nave dessas ao espaço _isto é, até uma órbita de algumas centenas de quilômetros da Terra_ custava então cerca de US$ 250 milhões. Hoje o custo passa dos US$ 300 milhões.
O programa dos ''space shuttles'', ou ônibus espaciais, é o sucessor na área de vôos tripulados das missões Apollo, que levaram o homem à Lua e custaram no total quase US$ 25 bilhões. Claramente se vê que também é o sucessor em termos de gastos exagerados.
Como comparação, as missões não-tripuladas parecem até baratas. Duas das sondas espaciais mais produtivas são as Voyager-1 e Voyager-2. Seu programa custou meros US$ 320 milhões _algo parecido com o vôo de um desses ''ônibus'' que passam uma semana em órbita, fazem alguns experimentos e voltam.
As Voyager fizeram bem-sucedidas passagens por Júpiter, Saturno, Netuno e Urano. Obtiveram a maior parte do conhecimento humano sobre esses planetas e algumas de suas luas.
Todos os planetas, menos o mais distante Plutão, já foram estudados a curta distância por sondas. Foi possível ver crateras em Mercúrio, ou vales e montanhas abaixo das nuvens de Vênus, planeta que teve um efeito estufa descontrolado. A sonda Viking pousou suavemente em Marte, fez fotos e tentou descobrir se ali haveria vida (não chegou a conclusões definitivas);. Sondas também revelaram vulcões que vomitam enxofre em Io, uma das luas de Júpiter.
A lista é grande. Na opinião de boa parte da comunidade científica americana, as missões tripuladas são um gasto desnecessário de dinheiro, e basta comparar o custo-benefício das viagens das sondas espaciais automáticas para saber o porquê. Ao mesmo preço, nenhum vôo de um ''space shuttle'' obteve tantos dados úteis como as sondas Voyager.
Depois das missões lunares a Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos EUA); tinha de conseguir algo para manter alto seu volume de financiamento e o interesse do público. O programa das naves ''recuperáveis'', que iriam e voltariam do espaço, seria a solução.
Dramas como a missão atribulada da Apollo-13, ou a explosão do Challenger, mostraram ao público que a exploração espacial seria uma ''nova fronteira'', tão repleta de riscos como as grandes navegações foram para os portugueses dos séculos 15 e 16.
Esse apelo popular pela exploração tripulada se refletiu nas 100 mil cartas que os fãs da série "Star Trek" (Jornada nas Estrelas, no Brasil); mandaram para o governo americano pedindo que o primeiro ônibus espacial se chamasse Enterprise, o mesmo nome da nave da série.
A Nasa atendeu o pedido, embora ironicamente o Enterprise tenha sido a única que não foi ao espaço, servindo apenas para testes de vôo e equipamentos.
Os ônibus decepcionaram quem achava que eles tornariam os vôos espaciais rotineiros. Quando se iniciou o projeto, eram previstos 50 vôos por ano. A média foi cinco vezes menor. Um ''shuttle'' significa algo constantemente disponível, como uma ponte aérea. Não é o caso desse ''space shuttle''.
(RBN);

