'Não quero ser primeiro e último', afirma o astronauta brasileiro

Missão de Marcos Pontes deve trazer 'normalidade'

'Não quero ser primeiro e último', afirma o astronauta brasileiro
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma missão com o objetivo de devolver a ordem normal à ISS (Estação Espacial Internacional);, abalada desde a perda do ônibus espacial Columbia, em 2003. Com essa grandiloqüência foi apresentada ontem à imprensa a próxima expedição ao complexo orbital. O vôo, a bordo da nave russa Soyuz TMA-9, parte do Cazaquistão em 22 de março. A bordo, além dos dois tripulantes da Expedição 13, o astronauta brasileiro Marcos Cesar Pontes.
A importância da missão é ímpar. Durante sua estadia de cerca de seis meses a bordo da ISS, a dupla composta pelo cosmonauta Pavel Vinogradov (que servirá como comandante da estação durante sua estadia, um veterano que já teve passagem de 198 dias pela estação russa Mir); e pelo astronauta Jeffrey Williams (americano que servirá como engenheiro de vôo e oficial de ciências); será responsável por preparar o complexo para recepções mais corriqueiras dos ônibus espaciais.
Na primeira missão, que deve vir com um novo vôo do Discovery, possivelmente até em maio, chegará a bordo um terceiro astronauta, o alemão Thomas Reiter, da ESA (Agência Espacial Européia);. E ele irá para ficar _permitindo que a ISS volte a ter três tripulantes fixos a bordo, restituindo o esquema original do projeto e deixando a tripulação se dedicar à pesquisa.
"Isso é muito importante, porque com o tempo nós descobrimos que para manter a estação funcionando precisamos mais ou menos de duas pessoas, então com três poderemos ter uma dedicação maior à pesquisa", disse Williams, que já tem um vôo espacial no currículo, com o ônibus espacial Atlantis, em 2000.
Embora a apresentação estivesse mais concentrada na missão de longa duração da Expedição 13, que fará três caminhadas espaciais durante os seis meses no espaço, quem mais chamou atenção foi o brasileiro Pontes, marinheiro de primeira viagem. Ele foi apresentado como astronauta por ter obtido toda a sua formação com a Nasa, mas poderia até ser chamado de cosmonauta, já que chegará ao espaço graças aos russos (americanos e russos preferem adotar nomes diferentes para citar seus viajantes espaciais);. Aliás, uma das perguntas dos jornalistas para ele foi sobre o custo da viagem, paga pelo governo brasileiro à Rússia.
Pontes se esquivou, disse ter só participado da parte operacional da negociação, mas não do acerto de preços. "A despeito do que tenha custado, estou certo de que vai valer a pena", disse o astronauta brasileiro. Segundo a AEB (Agência Espacial Brasileira); na época da assinatura do acordo, o custo foi de uns US$ 10 milhões.
Também perguntado sobre se o Brasil tem interesse em prosseguir nessa linha, treinar mais astronautas e participar de outros projetos, como a idéia de voltar à Lua até 2020, Pontes disse que cabe à AEB decidir sua política. "Mas eu tenho o costume de dizer no Brasil que sou o primeiro, mas não quero ser o último."
Ele destacou a importância de sua missão para incentivar jovens brasileiros a abraçarem carreiras nas áreas de ciência e realçou o fato de a oportunidade comemorar os cem anos do vôo de Alberto Santos-Dumont com seu 14bis. Finalmente, revelou que ainda ambiciona fazer uma segunda viagem ao espaço, talvez como tripulante fixo da ISS em uma futura expedição.
"Se você me perguntasse há dois anos sobre este vôo de agora, eu diria, 'hmm, difícil'. Mas agora eu estou aqui. Então, quem sabe?", especulou. Pontes deve retornar ao seu trabalho no escritório dos astronautas da Nasa, em Houston, assim que voltar do espaço, acompanhado pela dupla da Expedição 12 (Bill McArthur e Valery Tokarev);.